EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

sobre ontem

(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Eu vim ao mundo para rir, apesar de que choro escondido por muitos que nem conheço... Eu vim ao mundo para rir e todo aquele que consegue tal façanha não imagina o universo inteiro que coloca em minhas mãos.

Dezembro, 23.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014


Se você estiver muito vazio, você não consegue escrever; se você estiver lotado, também! É necessário um certo distanciamento, um hiato, uma abertura entre o sentimento e as palavras.


Dezembro, 22



(arquivo pessoal de SCG)

No que estou pensando: que o que me incomodou ontem está incomodando mais ainda hoje. Para ser franca, está incomodando por dia, formando um acúmulo. E eu não gosto disso porque fica a sensação constante de possessão - eu engolindo a mim mesma atrás de uma resposta final que bem conheço, mas ainda finjo não sabê-la.
Eu disse que gostava de diários? Não, eu não disse. Mas, se querem saber, gosto do diário suave, amigo, acolhedor. Dias ríspidos e secos que ganho de presente não me servem, não tenho mais tempo para eles. Ah, não tenho mais tempo para um certo tipo de loucura; aquela, a medida com fita métrica.

Dezembro, 20



Se é de graça, fica o favor, fica o amor. Se é pago, ficam todas as exigências comerciais.

Eu disse que gostava de diários?

UNIVERSO PARALELO



Um presente de um amigo para mim:


"No dia que nossas conversas se perderem em algum universo paralelo, entre bytes, megabytes e velocidade por minuto e não puder mais visitá-la em algum sitio virtual, comigo guardarei suas imagens com chapéus, óculos escuros, lenços-echarpes e você na neve, o negro dos seus olhos naquele branco-gelo. Guardarei também a imagem daquele trem partindo em silêncio, rasgando à tarde de um dia qualquer de primavera e eu acenando, acenando, parado, com uma cesta de frutas, peixes de água salgada e um baralho de tarô no bolso esquerdo da calça - para aquele piquenique que não fizemos; para aquelas previsões de um novo ano que insistimos em querer saber.

No dia que nossas conversas se perderem em algum endereço eletrônico não identificado, alguma caixa de e-mail, virar spam, em algum universo paralelo, mesmo assim continuarei mandando para você cartões-postais, fotografias azuladas pelo tempo, outros poemas... até nos reencontrarmos nos nossos endereços que constam nos catálogos telefônicos ou dos boletos bancários.

No dia que nossas conversas se perderem em algum universo paralelo de satélites, planetas ou num cosmo submerso abissal de um oceano, ainda assim continuaremos escrevendo livros, criando filhos, viajando, mesmo que o tempo, inexorável, não seja mais o mesmo.
Mas quando tudo isso acontecer, se acontecer, estarei nessa cidade líquida de casarões em ruínas, águas, conchas, sal e sol.

Estarei aqui, no meu universo não paralelo, esperando você."


https://www.youtube.com/watch?v=bzT9Zw3tBhU

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Saiba, enquanto alguns declaram que o gozo sexual é a melhor das sensações, que o time vencendo é algo sem igual e os limites sendo superados, a maior das vitórias... alguns consideram uma panela de brigadeiro de colher; outros, uma boa luta no tatame, mais outros, a melhor onda que se puder furar... 

Saiba, para mim, o maior dos prazeres é o momento exato em que, você, sem a antiga mureta a lhe proteger e justificar, se vê irritada, perde a falsa gentileza e diz aquilo que eu já sabia, já conhecia, já adivinhara, apenas aguardava, dia após dia, suas verdadeiras palavras. Assim, você e eu...

Parabéns, você consegue se manter em pé, tanto suas pernas quanto sua língua, sem a mureta. Eu? Eu nunca tive isso, não sei do que se trata.

Outubro, 28

sábado, 27 de setembro de 2014

dois dias para 29 de setembro


(imagem por Suzana Guimarães)



Daqui a dois dias, minha irmã faz aniversário; daqui a dois dias, fará um ano que meu pai faleceu. Hoje, uma pessoa me enviou um vídeo... ouço a música agora, assim como ouvi naquela solitária noite em que embarquei de volta para cá, para a minha casa, após o sepultamento do meu pai. Após 13 dias da sua morte, eu peguei o primeiro avião bastante anestesiada por duas doses grandes de vodka com lima e uma tequila. Só assim para dizer "até logo" para a minha mãe, no aeroporto de Belo Horizonte... No segundo voo, saí de todo aquele torpor e liguei a tv, assisti ao clipe do Michael Bublé, "Close Your Eyes". Quantas vezes? Cem vez cem. Não sei. Eu chorava de fazer dó, totalmente descontrolada. Só ali eu pude sentir minha orfandade, sozinha, voltando para casa cheia de lembranças... Assisto ao clipe não para sofrer, não por masoquismo... assisto porque foi o presente que ganhei da força maior que detém o mundo nas mãos, única, soberana; aquela que lhe dá flores ou ferpas por onde você passa. Assim ficou, nesse clipe, resumida a minha história e seu desfecho com meu pai.


Setembro, 27


http://www.youtube.com/watch?v=LoEWmc60wJY

(Último texto de minha autoria que compartilho na íntegra no Facebook)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Nunca se olhe profundamente em um espelho e nem dê as costas a ele.
Suzana Guimarães



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Nada que no tatame não se libere... há um feitiço nele, luta árdua entre a mente e o corpo, onde saem dois vencedores.

Setembro, 18

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Era setembro...

Pelo meio da madrugada, ele acalmava e dormia. Eu então espiava a rua por um palmo de mão que ficava aberta a janela de correr. Via a igreja na parte mais alta do bairro de Santa Teresa. Via a noite. Como ela deve ser vista. Como tudo tem que ser visto, vendo. Transpondo o que se mostra no primeiro enxergar. As noites são lindas! E, por isso, eu escrevia, porque havia lindeza em mim. Havia lindeza em passar horas e horas acordada, cuidando dele. Naqueles dias, ali era o melhor lugar para se estar, dentro daquele hospital. E eu sabia disso, apesar do cansaço e da dúvida. Sinto saudades, muitas. Ele me chamava, "Menina, menina...". Eu respondia, "Não diga menina, diga Suzana, foi você quem me deu esse nome" e ria. Quando chegava bem perto e olhava-o, ele não tinha muito a dizer, ele só queria saber. Vivíamos.


Por Suzana Guimarães

domingo, 14 de setembro de 2014

Sobre textos mal escritos, mal redigidos e amplamente apreciados como magníficos:



"É por isso que eu gosto da Engenharia. Se fizer errado ou mal feito, toma choque, explode, pega fogo, desmorona ou morre. Se quem fizer sobreviver, nunca mais fará errado." Por Roberto Meneghini


O mundo exato. 


Setembro, 14

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Sobre setembro, meu pai e eu.



Gosto de maio e de setembro pelos céus sempre claros, pelos ventos, pelo chamado de sempre, "venha, Suzana, venha" e eu vou. Entretanto, por mais que eu me esquive, sinto setembro dia após dia; conto um por um, vivendo para trás - e eu resisto a isso e muito! - mas, é bem mais que a força universal, é interno. Processo de digerir aquilo que passou. E eu gosto desta dor porque é minha, por direito. Tento fazer setembro diferente todos os dias e todos os dias, ele é o mesmo. No final, estou arrasada pela derrota. Dezembro era o seu mês, o do meu pai, agora, setembro também. Meu pai deixou algo claro para mim - como esses meses - , o que transbordava nele, carece em mim. 



Setembro, 12


Eu disse que gostava de diários?

quinta-feira, 4 de setembro de 2014


AS ANTAS E EU - Lição do dia: burro será você que não aprende a se esquivar dos outros burros.


Sei que as ruas são muito estreitas e são de mão-dupla. As ruas próximas às escolas dos meus filhos. Então, na primeira, não entro porque os motoristas que passam lá me fazem lembrar dos folgados do Brasil. Daí, na avenida, entro na próxima à direita. Eu sei, estou cansada de saber, eles não sabem dirigir, além dos folgados acima citados. Entro na rua, e anta 1 está fazendo baliza. Estou um carro e meio para dentro da rua, para fora da avenida. Anta 1 erra quatro vezes e eu paro de contar. Chega anta 2, anta 2 não tem visão além e aproxima-se ao máximo de anta 1; e de mim. Atrás de anta 2, vem anta 3. Atrás de mim, um cara que eu imaginei rapidamente, "será a anta 4". Saio do carro, assim que anta 1 consegue estacionar. Eu já havia feito sinal para anta 2, para sair da reta, ela tinha espaço para trás, bastava avisar anta 3. Mas, anta 2 não entende sinais. Peço ao cara de trás para voltar para a avenida (não é nenhuma Avenida Paulista ou Avenida Amazonas). Ele pergunta: "Você quer que eu jogue o carro para a avenida? (essa não é a melhor tradução)". Eu respondo: "Cheguei primeiro e ela não se mexe. Ela está parada, ela não quer sair dali". Ele então prova: não é anta e vai embora. Eu vou atrás. Antes e durante, devo dizer, olhei para anta 2 e apontei para ela, depois para a minha cabeça, depois, com a outra mão, fiz sinal negativo". Ou melhor, você não tem cabeça, cérebro, mente, enfim, você não pensa. Imagino a minha cara... ah, eu imagino. Mas, anta 2 não entende sinais. E anta 1? Onde foi parar anta 1? Por que anta 1 não saiu do carro em momento algum? Bom, deixa pra lá! Entro na próxima à direita, de novo. O cara que seria anta está à minha frente. Ele encosta para alguém passar e um outro alguém fazer baliza. Contudo, após isso, ele fica parado, olhando para o retrovisor, fazendo sinal negativo com a cabeça e sorrindo de leve. Estico o pescoço, nada à vista. Sim, outra anta, um pouco menos, um pouco mais, não sei... o que pensar sobre cabeças de antas? Olho para trás, dou seta e viro o carro, na esquina, de volta para a avenida, ao melhor estilo "motorista brasileiro", sinto muito aos demais. Resultado: a maior anta sou eu. Falei no carro para o meu filho, "Anta, anta, anta, sou anta". Nunca mais passo por lá; isso pode ser transmissível.


Setembro, 4
Pra não dizer que não falei dos podres...

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Hipocrisia é uma bebida que rejeito desde sempre, desde muito antes de ontem, desde antes do meu nascimento. Carrego tantos pecados e defeitos, mas beber dessa bebida amarga, eu não bebo. Até o cheiro que vem, ao longe, causa-me náuseas. Não cedo, não compactuo, não sorrio junto.

Setembro, 2

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Diacov


"acordei num barco sem ti não é o mesmo que dizer que acordei num barco onde o vento, o mar cuspindo em mim, nada de um mundo sem ti, nada no fundo sem ti, nunca mais me deixe acordar aqui, tudo em espécime, meu deus, meus cabelos, tudo aguaceiro sem ti, veja o peixe morto, veja a morte há horas ali, nada de um mundo todo sem nós por aqui, nós, nós nunca nos demos bem, acordei nesse barco sem roupa, acho que nunca dormi, não tenho sono, não tenho frio, não tenho nome pra vestir. não tenho língua que chegue."


"fico repousando a cara sobre o teu perfil. fico repousando a carla fico repousando a malha das coisas que quero escrever e não escrevo nunca porque a maré porque o vendedor de espelhos porque as enguias erradas porque eu preciso porque eu pretendo e fico. uma tarde e meia. é o tempo que tenho desde que lancei meu corpo ao caldo disso. aguarda um jardim de abóboras a lírica chafariz enquanto eu te gosto e tanto."


Por Carla Diacov

domingo, 24 de agosto de 2014

Enfim...



(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)



A minha piada - de 2014: meu livro dOloreS está longe de completar um ano de publicado e já tem pessoas pedindo o meu segundo livro. Detalhe: essas pessoas que estão pedindo não leram dOloreS.
Será que eu terei culhão para o segundo livro?

Ontem, 23 de agosto de 2014, num papo informal.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

AMAR VIRTUAL



Totalmente sem querer, descobri uma ex-história de amor virtual. Quem nunca viveu? Ou de amor, ou enorme simpatia, não sei ao certo, histórias de entrosamento por palavras, músicas e imagens... paixão, amizade, intenso interesse, curiosidade, realmente não sei denominar. Fica em mim a única certeza: esse gostar é dono de si mesmo, sem sombra de dúvidas, pois o improvável é a ordem que dita essas histórias. Fato. Constato.

Diários? Eu rio. E choro.

Agosto, 19

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Decisões corajosas, todas elas, não importam os resultados, todas, sem exceção, são o que carrego de mais sagrado, foram o melhor de mim, foram a plenitude de um momento meu. É o que carrego em meus braços, a lembrança e o resultado, e é o que me embala nas noites em que perco a rota.

Eu disse que gostava de diários?

Agosto, 15

sábado, 9 de agosto de 2014

E, sem pensar que, do nada, sem aviso, você se vê diante da fotografia dele. No ano passado, no dia dos pais, meus irmãos e eu estávamos junto a ele, no hospital. No ano passado, eu tinha pai para dar meus parabéns. Este ano, não. Então, a gente é assim: antes e depois das pessoas em nossas vidas.

Agosto, 2014.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Meu filho está de férias e, por isso, pode ficar acordado até à madrugada. Ele acabou de me dizer: "Estou reparando você. Você não fica quieta, deita, levanta, vai ao computador, deita novamente, abre o IPad, levanta, vai à cozinha, deita de novo, levanta, toma chá na sala, no escuro, come biscoitos. E recomeça". Sou feliz, sem ter que fazer esforço. Sou feliz porque sou livre de mim mesma.



Nota: Originalmente publicado em minha página no Facebook, no dia 30 de julho de 2014.

terça-feira, 29 de julho de 2014


A verdade não pode incomodar, apesar de falar muito alto, o suficiente para endoidá-lo. A verdade custa caro ou barato? Ela não tem preço, é só a constatação de fatos. Por que então as pessoas a evitam? A verdade liberta, desfaz prisões. Ela machuca? É um indesejável alvitre? Você pode não querer conviver com ela, fingir não vê-la, entretanto, matá-la, jamais. Ela sobreviverá apesar de tudo o que você fizer.

Julho, 29

Eu disse que eu gostava de diários? Dizer, importa?

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Que me perdoem...

Há pessoas, em determinada época, apesar de seus sentimentos puros e verdadeiros, que não merecem um sequer de fiapo de nossos pensamentos. Que me perdoem o amor, o desejo, a história e o tempo.

Julho, 28

domingo, 27 de julho de 2014



Se eu fosse madame, se eu fosse à toa, eu não seria motorista, não seria faxineira, cozinheira e babá. Eu teria privacidade e tempo. Eu poderia escrever, escrever, explodir de escrever. Eu poderia estudar Inglês, eu poderia ler. Se eu tivesse privacidade, eu poderia chorar minhas perdas, minhas dores, minhas saudades. Se eu fosse um ser individual, eu teria horas sozinha, eu comigo mesma. Eu poderia tomar chá, olhando o teto da casa. Eu poderia remexer em minhas fotografias. Eu poderia me lembrar de quem eu quero. Se eu fosse tudo aquilo que pensam de mim, provavelmente eu seria muito mais feliz. Pois, apesar de tudo, sou feliz. Se eu fosse... não é ser de verdade, no entanto.


Julho, 27



sábado, 19 de julho de 2014

A JANELA

(Picture by SCG)

...Antes da visão da igreja batia um vento frio e fino, calmo, na janela aberta por onde a fotógrafa espiava. Corriam as horas no relógio que sequer era olhado. Alguém dormia. Havia sons no prédio da janela, constantes, por toda a noite. A cor do céu, a fotógrafa, infelizmente, não conseguiu captar em sua essência, e nem a vida que se agitava lá fora. A igreja foi o detalhe, mas, sim, é a igreja de Santa Teresa, em Belo Horizonte. Só não sei dizer se era noite começando ou manhã se aproximando... nem a fotógrafa.

Julho, 2014

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Deus existe. Quem não existe somos nós. 

Eu disse que gostava de diários?


Junho, 30

domingo, 22 de junho de 2014

Artificial demais, chega hora que cansa. Abri a janela do quarto. Puxei as cortinas para sentir o vento fino e frio que o dia carrega e lembro-me então de que ouvi dizer, "Só na beira da praia, só na beira da praia"... Deixaram de enxergar, faz tempo! Deixaram de sentir, faz tempo! Vento frio e fino e barulho alto de avião que passa, tão alto, tão alto, que faz baixar em mim nosso último olhar, naquele aeroporto, um segundo antes de eu virar as costas. E dizem que há espaços específicos. E dizem que tempo se conta.

Suzana Guimarães

Maio, 20

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Eu acredito que a emoção está dentro de nós. Não vem de fora para dentro. Nasce no cérebro, percorre nosso corpo, faz bem e mal, mas vem de nós. É feito a libido.

Junho, 12

terça-feira, 3 de junho de 2014

Picture by Suzana Guimarães



Feito uma planta que ninguém vê, a vontade em mim de escrever, cresce. Ela me disse, "Ultimamente, você só escreve pequenas frases que parecem nada, parecendo "sim" ou "não". Eu sei. Fiquei longo tempo falando "sim" ou "não" porque só havia paredes. Agora, cresce uma planta, que ninguém vê.

Junho, 3

Eu disse que gostava de diários?

quarta-feira, 28 de maio de 2014

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Kit Suzana na madrugada...


Ah, como eu entendo Florbela Espanca! Sei o que ela procurava, pelo que ardia e escrevia, sei de sua tortura e de sua persistência - loucura medida!

Eu disse que gostava de diários? 

May, 25




Sou agora a menina que se esconde na sombra do poste, da árvore, fugindo de todo aquele que pensar em me assustar. Não tenho medo da noite. Tenho medo do susto. 

May, 25




Dispenso aquela procura; dela, nada ganhei além de desbotado sonho de dias melhores. Não restou nem eu mesma. Tornei-me cética e cruel. Antes não ter procurado. 

May, 25




Não venha comigo. Não tenho mãos para pegá-lo. Eu as tenho ocupadas, escondendo meus olhos da crueza da vida e do singelo pensamento de que eu poderia encontrá-lo.

May, 25




A cada passo dado, um tapa na cara. Encontro-me tonta. Já não posso caminhar, já não posso procurar o que nunca existiu. Entrego-me ao pó deste deserto em que habito. Pelo menos ele me envolve, se abre em asas, em sincera acolhida.

May, 25

quinta-feira, 22 de maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014


Tenho um corpo de 47 anos que passou por gravidezes, várias cirurgias e muitos sustos. Mas, eu já tive um corpo de 20, 30 anos... tenho pena de você que nunca teve um assim. 


Suzana Guimarães


domingo, 4 de maio de 2014

sobre meu pai...



(um presente de Rika Silva para mim)

As pessoas do meu convívio virtual pensam que eu tive um relacionamento feliz com o meu pai e, que, por isso, eu choro tanto a sua morte. Não. Eu não tive. Ele nunca soube ou quis me entender e eu não tive paciência ou serenidade para aceitá-lo. Só no final, bem no final... Ele morreu há sete meses apenas e parece que foi ontem ou foi há sete anos, setecentos tempos atrás... Também não choro porque não aceitei, eu aceitei a sua partida  pois o seu corpo já não podia mais viver em plenitude... mas, ó Deus, como dói a lembrança dele! Sua morte virou a minha vida de cabeça para baixo, sua morte fez uma varredura, uma devastação. Meu pai se foi e levou com ele o que eu pensava ser eliminado e também tudo e todos que eu jamais pensei eliminar do meu cotidiano. Eu nunca soube que ele era tão poderoso.

Vou postar uma das músicas que eu ouvia, enquanto eu digitava, ele, deitado em sua cama, em sua casa, olhava-me e sorria. Ele se lembrava dos tempos da sua máquina de escrever, o som fazia-lhe bem...

https://www.youtube.com/watch?v=WWJfsGoc6fw&feature=kp

Eu disse que gostava de diários? 

Maio, 5

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Constei...



por Roberto Meneghini




Ganhei do destino enorme corda, quilométrica. Não sei por qual razão, brinquei e usei essa corda 


como se fosse cadarço de sapatos. Apertados.

Abril, 25

terça-feira, 8 de abril de 2014


A cada dia sei menos sobre gente e não sei mais em que planeta vivo - penso que criei um para mim e nele me refestelo. Batem em mim constantes dúvidas e desconfortos, não importando onde eu esteja, chego a quase me beliscar - já que vivo nesse planeta só meu. Às vezes, tento pisar no endereço alheio e isso só piora a estranheza. Hoje, com a endorfina nas alturas, na fila dos cumprimentos, após uma aula de jiu jitsu, pisei terreno alheio, e fiz algo que já queria fazer há tempos. Questionei, sem melindres, a razão de um colega ora sorrir para mim, ora, não, ora ser amigável, ora não. Fui incisiva, um dentista para cima dele, querendo arrancar dele dois dentes, daqueles baitas que ficam no fundo da boca. Um colega quis saber o que estava acontecendo. Contei. Eu nunca espero defesa, aprendi a viver sem isso, faço eu mesma a minha, sempre. Mas, hoje, eu a tive. Decidiu ele, o meu colega, arrancar os dentes do desinfeliz. Arrancamos juntos. 


Estou exausta de gente. Estou exausta da empáfia. Transborda em mim o que está faltando nos outros: vontade. As pessoas andam sem vontade, usam-na como a um adorno, ajustável de acordo com o seus humores. Mas, o humor nosso de cada dia pode estar exausto de tanta gente metida à besta. Tudo e todos, menores que grão de areia, a se entenderem magníficos, gigantes em suas omissões ou ironias.

Eu disse que eu gostava de diários? 

Abril, 8 - dia em que Marte alinhou-se à Terra e eu alinhei um camarada.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Você fala "brasileiro"?



As pessoas perguntam para o meu filho: "Do you speak Brazilian?"

Ele responde: "Yes, I do. I speak Brazilian and American". 


Março, 20



Meu professor de hipismo dizia: "Não tenha medo. Do chão, não passa." Chega um tempo em que o chão torna-se macio; dele, você realmente não passa, e, sequer sente a queda. E, se por acaso sentir, levanta e anda. O chão é o limite. Após, só um caminho, o pó, mas essa é outra história. Estou falando dos vivos.

Março, 20
Estou tão feliz! Minha filha às vezes pergunta sobre o meu livro e eu sinto nela, extremo orgulho. Respondi, "O livro tem setenta textos. Eu poderia ter dez livros pois tenho setecentos textos". Ela arregalou os olhos: "Seven hundred?"


Março, 19
Algo que nunca comentei, nem em "Dolores Crônicas, em minha cidade, eles fazem propaganda política assim: as pessoas pregam nos jardins de suas casas algumas tabuletas com os nomes dos candidatos. Parece que a casa está à venda ou algo parecido. Certa vez, vi uma casa com uma placa. Pensei que estivesse à venda. Outro dia, vi uma casa com várias placas, daí coloquei os neurônios para trabalhar... e entendi. Tão clean!

Março, 19.




quarta-feira, 19 de março de 2014


Ele disse: "Eu gosto de você do meu jeito".
Ela pensou: "Eu também, de você".

E viveram felizes para sempre...

Março, 19



Eu disse que gostava de diários? Não, eu nunca disse...

terça-feira, 18 de março de 2014


Dos terremotos pelos quais passei, o de hoje foi o mais longo. O primeiro, em 2009, foi curto, mas fez um barulho de caminhões se trombando na rua. Tudo dentro de casa chacoalhou. Tenho Labirintite, tive enjoo... O que aconteceria em seguida? Contudo, não tive medo. Não tenho medo das coisas de Deus. Tenho medo das coisas dos homens.

Março, 17

Diários....

domingo, 16 de março de 2014

Outro dia, recebi um e-mail. Li tanto sentimento que mal conseguia fazer a leitura. Minutos depois, fui para a rua, para o mercado, para a vida no chão concreto. Quando voltei para casa, reli esse e-mail. Era o mesmo, menos eu. O fato, vestido de olhos e pele, mudou as vestimentas, revelou-me a verdade. O tanto de sentimento que saltava aos olhos era meu, apenas meu.

Março, 2014
Meu professor de Fonética inglesa pediu que lêssemos um recado, daqueles que deixamos gravados na secretária eletrônica. Primeiro, na língua de cada um, depois, em Inglês. A minha turma pediu para eu reler o meu recado de tão extasiada que ficou. Eles disseram, "It is wonderful!".

Março, 16 

Eu disse que gostava de diários?




Eu deveria estar estudando, mas estou aqui, no facebook, nesta pracinha, correios céleres, como se assistisse à tv, ou estivesse sentada numa cadeira, feito a minha avó, na calçada, em frente à casa, vendo as pessoas passarem, o vento, e sentindo a cabeça queimando em pensamentos... bom, não tenho certeza sobre essa última frase, só imagino.




quarta-feira, 5 de março de 2014

As pessoas não sabem gostar das outras. Elas gostam pobremente. 


... ofertam pão duro e mofado. Esperam sempre manjar como retorno.


Março, 5





Nota:

Eu interpreto as pessoas por várias vias: pela caligrafia (o meu primeiro método encontrado), pelo sapato que calça, pela decoração da casa, pelo jeito com que trata carro e armário, pelo jeito que lida com subalternos, pelas unhas dos pés e das mãos e pelos "likes" que dão no Facebook. Ah, no passado, eu interpretava pelo olhar, mas descobri que se trata de um método falho.

Março, 5

Eu disse que gostava de diários?

segunda-feira, 3 de março de 2014

Em minhas longas cartas mentais, eu sempre tinha o destinatário, silêncioso rapaz, moça ou velho, que era obrigado a ouvir sem dizer um só "a". Depois, passei a digitar esses textos - para dizer a verdade, nem sempre cartas. Não sou tão maluca. Eu não pensava: "Belo Horizonte, 3 de março de 2003. Querido ou querida, escrevo-lhe... e, por fim, um abraço, Suzana". Agora, digito para mim mesma. Estou tentando falar sozinha. Está sendo um desafio! É muito difícil. Mas, tenho todo o tempo do mundo, e aguardo esta sensação de morte que se instalou passar. 


Sinto-me morta. Um hiato, a falha nos dentes da minha filha. Sinto-me silêncio de doer, um buquê de rosas abandonado em alguma esquina, que já não diz nada - nem o arranjo, nem a esquina; uma caixa toda ornamentada, só de enfeite. Uma voz calada, com lenço e éter, para anestesiar de vez. Sinto-me aquele silêncio que nos toma quando andamos sozinhos, à noite, por ruas desertas... O mundo todo calou a boca e ninguém me contou, daí, fiquei sem graça quando me vi falando sozinha, por isso, a mudez.

Mas, o monólogo sairá, no final do ano.

Eu disse que gostava de diários?

Março, 3

ASSIM QUE A PROCURA ACABOU, EU MORRI

Suzana Guimarães - arquivo pessoal

sábado, 1 de março de 2014

UNO

Um beijo, que seja apenas um; um olhar, que seja uma única vez. Um livro. Não importa. Importa o tempo que viverá: e se for para sempre? Diamantes são para sempre - alguém cantou... Mas, antes era só pedra. Porém, alguém se empenhou. Um beijo, um dia, um breve instante, emoção mesmo que rasteira, o que importa é o que possui valor em seu peso.

Março, 1

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O deserto está em águas... Devem ser as minhas.

Fevereiro, 28



Cinco meses... A morte é uma espécie de revolução. O que fazia sentido e parecia enorme torna-se lembrança que não pesa; o que era só detalhe, pode tombá-lo ao chão. 

Eu disse que gostava de diários? Não, eu não disse.



Fevereiro, 28/29

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Iria escrever cartas para vários destinatários, mas descobri que tenho poucos. Daí, decidi escrever para um só. Porém, ando pensando em um monólogo.

Eu nem pensava em publicar um livro. Era janeiro e decidi aproveitar as férias na faculdade para descansar. 2013 marcou a ferro e eu queria muito mesmo um tempo para mim. Porém, na primeira semana, Roberto Meneghini teve a ideia e eu embarquei. 

Já comecei o segundo livro e pretendo publicá-lo no final do ano. Não irei parar. Alimentei muitas pessoas e sei disso porque elas me disseram, no entanto, não quero mais. Daí, diante disso, os "alimentados" que merecem todo o meu alimento de graça ficaram na pior, mas terá que ser assim. A vontade de escrever continua e enquanto ainda eu a tiver haverá livros. 


Fevereiro, 23


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Espero algumas horas e irei me assentar. Essa decisão cabe a mim e só eu posso fazê-la acontecer. A locomotiva sem paradas, fumegando pelas estradas, herança do meu pai, decidi parar. É preciso pausas. Ninguém as vê porque acontecem na surdina. Quem viu a flor do seu jardim abrindo-se? Pouquíssimos. Talvez, um, empunhando sua câmera fotográfica. A verdadeira existência é um conjunto de pausas e toda locomotiva tem que parar n`alguma estação para que tanto motorista quanto passageiros possam mudar o ritmo. Quando se dirige por longo tempo, em alta velocidade, pelas estradas, e para, dá para sentir: seu corpo continua acelerado - e você nem correu, sua mente está muito além de você, até suas mãos tremem, ansiosas. Viver não é estar o tempo todo em velocidade, mesmo que seus desejos mal caibam em si.



Fevereiro, 17

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Eu não a via há um semestre ou pouco mais. Seu corpo dobrou de tamanho para os lados. Sua voz parece mais ainda enrolada e está com tique nervoso: a cada duas ou três palavras pronunciadas, dá um pulinho, como se soluçasse. Toda em cinza, moletom, os cabelos desgrenhados, conversou por um certo tempo comigo. Sei que ela tem filhos e que um deles tem sério problema de saúde. Ela já me contou sua história. Fiquei olhando para ela e pensando o quanto a gente tem que ser forte nesta vida.


Diários...

Fevereiro, 11
Ele me diz para eu não me estressar com as pessoas. Mas eu não me estresso tanto assim. Eu apenas mudei bastante e considero até uma péssima mudança, no entanto, nem tudo é como gostaríamos que fosse. Não abro mais as portas com suavidade, eu as abro escancarando-as. Não piso mais tão de leve, eu piso com determinação, ainda rebolo ao andar, mas não esbarra, não! Se eu me enfurecer com suas perguntas, posso fazê-lo repeti-las três vezes, fazendo cara de quem não entendeu. Como posso suportar, de forma pacífica, pessoas que me deixam falando com as paredes ou fazendo-me parecer uma tola? Elas terão, pelo menos, o meu desprezo a partir de então. E a minha cara de poucos ou nenhum amigo. Não finja que não me viu, não finja que não me ouviu, não faça promessas que não irá cumprir, não me esnoba. Não venha me dar lição, você é professor do quê? O que você conquistou em sua vida? Você está em posição confortável para isso? Não seja hipócrita comigo, pois não sou cega e só tenho uma vontade: meter a mão na sua cara, nada mais.


Eu disse que gostava de diários?




Fevereiro, 11

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Meu livro: dOloreS Crônicas



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Para quem não tem o kindle: 

No site do Amazon, onde você compra o livro virtual, também tem um ícone onde se pode baixar um app (aplicativo, software) GRÁTIS para o seu PC, Android, iPhone, iPad etc. Com esse App você pode ler o livro em seu aparelho eletrônico seja ele qual for com a maior facilidade e conforto!


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


Considero arrogância tentar vender a imagem de que se é anjo.





Eu disse que gostava de diários?

Fevereiro, 5

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Há um quê no tatame que afugenta o coisa feia

(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)



Hoje, levarei para o tatame: todas as decepções que tive, todas as verdades que vi sem desejar ver, toda a dor de cabeça diária, todos os falsos amigos, todo o meu cansaço existencial e a multa que levei, bobamente. Espero sinceramente que quem me multou tenha uma forte dor de barriga por toda a noite. Amém. Ah, quanto aos outros desejos que ardem em mim, farei segredo.

Fevereiro, 4