EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019


Deixa para surtar apenas sobre o que é problema. Se não é problema, não surta.

Para 2020


Eu queria que meus amigos e amigas solteiros encontrassem e fossem felizes com meus amigos e amigas solteiros.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Encomenda que a vida deixa


Sentadas, sozinhas, brindamos a entrada de 2019, mas não conseguimos, juntas, terminar o ano. Separamo-nos. 

Se não existe Deus, e isso é possível, existe com certeza um poder soberano, ilimitado, inexorável e duro, que a tudo governa. Se assim não for, como explicar as histórias que sabemos, que vivemos, que nos contam, como explicar aquilo que muitos chamam de destino?

Existe esse poder e eu sei um pouco dele - qualquer corajoso consegue senti-lo, sabê-lo, reconhecê-lo.

Tem gente que entra em certos círculos somente para destruir e separar, que não aprende nunca - mesmo que tenha levado uns tabefes do tal "destino".

Tem gente que vive para a matéria e quanto mais tem, mais quer.

E eu me sento diante deste anoitecer, e aguardo com a paciência que ganhei ao nascer, o poder maior que distribui livres arbítrios falsamente - acredito que seja apenas um jogo - tomar a sua dianteira e decidir mexer as peças no tabuleiro.

Haverá muitos amanheceres e anoiteceres pela frente - vê, você não pode contra eles - e eu estarei com meu olho sobre você. A gente aguarda, você e eu.


Descobri, ontem, que eu posso chorar, sim, apesar de anos seguidos sem derramar lágrimas. Eu posso chorar e chorei, mas eu choro apenas pelo que vale as minhas lágrimas.

sábado, 28 de dezembro de 2019


Ontem, sem motivo algum pensei que encontraria P. na praia dos cachorros, talvez porque ela gostasse de cachorros, tivesse sempre alguns ou mesmo porque ela gostava de fazer programas, era uma pessoa ativa. No ano passado, enviei mensagem privada via Facebook - chequei, hoje - sim, enviei algumas palavras mostrando que gostaria de revê-la, mas ela nada respondeu. Pensei que o motivo do silêncio fosse o simples fato de que ela não interagia em redes sociais nunca. R disse, “ela pode estar morta”. Em 2013, fiz um jantar e a convidei, ela me disse que não estava bem, que estava com depressão. Naquele ano, meu pai ficou mais doente do que estava, faleceu, e nos anos seguintes, eu vivi a montanha russa de todos os meus sentimentos, todas as pessoas foram entrando e saindo da minha vida e por eu insistir, voltavam, para depois se negarem novamente para mim. Depois vieram várias perdas financeiras, adaptações, a minha filha era o bebê se tornando menina e meu filho, a criança se tornando homem, algumas mudanças em pouquíssimo espaço de tempo... um ritmo de vida enlouquecedor que prefiro esquecer. Então, eu não mais a vi. Naquele 2013, ela pediu para eu ir a casa dela, para ensiná-la pela centésima vez a fazer mousse de maracujá. Eu não pude ir, mas R foi com nosso filho. Ela criava o sobrinho que era colega de sala do meu filho. Depois, meu filho trocou de colégio, depois eles não eram mais amigos, depois tinha a mulher dela que não era simpática comigo, depois tinha tanta coisa, mas quando eu não falava nada de Inglês foi ela quem me recebeu com os braços abertos, oferecendo amizade, passeios, ajudas, presentes, tudo o que nem os mais íntimos costumam ser ou fazer... Ontem, eu pensei nela como sempre costumava fazer, desejando reatar o contato, mas só pensei. Ontem à noite, uma colega distante do meu filho, do último ano de High School, enviou uma fotografia para ele. Nessa foto, meu filho aos nove ou dez anos de idade ao lado do sobrinho da P. Meu filho perguntou, “ Como você tem essa foto?”. Longa história. Na casa dela, as duas mães dela conversavam sobre os amigos do passado dele, do sobrinho, mencionaram o menino que falava Português. Ela disse que conhecia aquele menino... A mãe adotiva dela havia se casado, dois anos atrás, com a viúva de P... Hoje, pela manhã, queríamos entender a história. Tudo estava confuso. E eu lavava a louça da cozinha imaginando que P., ao nos encontrarmos, diria que meu Inglês melhorou muito... mas P. se foi, faleceu dois anos após aquele jantar em minha casa. A viúva se casou com a mãe da colega chinesa do meu filho.

Eu pensava que P. estaria sempre ali, aqui, que poderíamos a qualquer tempo reatar aquela amizade começada assim que cheguei no país, em 2009... ela era mais nova que eu, a nossa cidade não é uma megalópole, apesar de que eu estranhava muito nunca encontrá-la casualmente como costuma ser... eu pensava que a depressão mencionada por ela fosse algo passageiro por ser recorrente, eu pensava que haveria sempre todo o tempo do mundo quando eu me lembrava dela, mas P. está morta.

E eu estou aqui com um nó na garganta, sentindo um buraco na alma, vendo um trem em movimento e eu parada sem entender. 

A maldade vence porque os bons não querem ter trabalho.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

A minha cachorra fala com seus olhos um livro quando às vezes me olha, e tudo o que diz é magnífico, puro, reconhecido e belo, embora só isso eu saiba porque não ouso saber mais, ela diz um mundo ou dois para mim, fala coisas que eu não sei mais entender, é um presente do universo para mim, uma dádiva, a minha companhia, a minha cachorra fala tudo o que os humanos não conseguiram, salvo um.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019


A América do Norte parece nunca parar, mas a minha rua já está sem movimento, não vejo os carros de sempre estacionados, na maioria das vezes, de estudantes da faculdade próxima. O céu está azul claro com fortes tons rosados, chove desde ontem, chuva fina, estou na varanda da frente e vejo o mundo. Ah, eu posso ainda ver o mundo! Parada, estática no sofá, posso dormir, sinto que vou, e ninguém irá me importunar na varanda sem grades ou muros, silenciosa, extensão de mim. Tenho dois casacos, um com capuz, e tampo parte do meu rosto, vejo o mundo por detrás da fileira de bambus... um cão labrador vestido com capa de chuva amarela passeia com seu dono, uma criança de menos de dois anos caminha ao lado do pai, ambos em seus casacos... não existe nunca mau tempo para o americano porque ele sabe sempre se vestir dos pés à cabeça... não é aquela coisa brasileira de chinelos, vestidos curtos, shorts e sombrinhas voando por sobre e entre poças... eles se protegem pra guerra. Passa um carro de entregas do Amazon, "Prime", passa um caminhão pequeno de mudanças do tipo "faça você mesmo", outro carro de entrega, marrom, o motorista não tem porta... as luzes de Natal se acendem, no inverno, anoitece muito rapidamente. 

Vou arrastar os latões de lixo dos fundos da casa para o meio-fio, hoje é segunda-feira... acordo do meu transe. Estive como se a alma balançasse na rede.

Eu me dou intervalos...

sábado, 21 de dezembro de 2019


Estive no Brasil no Natal do ano passado, após dez anos sem ir, sem estar. Não sei se voltarei, provavelmente nunca mais, mas eu queria dizer que os ônibus em Belo Horizonte à noite circulam iluminados para as festas de fim de ano.

Dezembro, 21

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019


Ele me disse que eu estava vivendo aquilo que experimentamos quando no filme a que estamos assistindo deparamos com a surpresa de um final não esperado, então, daí, repassamos o filme, devagarinho, em nossa mente, para relembrar, entender, compreender as etapas que nos passaram talvez indevidamente percebidas - porque, se assim não fosse, o final não seria esse susto, essa surpresa toda...

Eu, em Os dias pareciam tão perfeitos...

Eu perguntei: por que nasci no Brasil?


Ele respondeu: para aprender a viver.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019


"Cafeteira, abajur e água quente $40 ou vendo separado ou troco por bicicleta feminina ou coleção dos 7 anões de pelúcia disney."
Das coisas que me fascinam...


(li no Páginas Amarelas dos Brasileiros em Los Angeles)

Meu colorista é Deus.



A minha filha fala Inglês bem embolado para o computador dela e ele vai escrevendo... eu, ao lado, fico chocada.

sábado, 14 de dezembro de 2019

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O que sobrou em mim foi empatia para com todos. O que faltou dos outros, foi o mesmo, empatia.



Ontem, dirigindo, sozinha em meu carro, indo para um compromisso importante, lembrei-me do dia em que, aos seis anos de idade, fui sozinha ao salão da cabeleireira conhecida da minha mãe para cortar meu cabelo. A minha mãe ficou na janela olhando-me ir. Eu olhava para trás para ver se ela ainda estaria lá, e seguia o caminho. Creio que foi um quarteirão. A mulher tosou meu cabelo em plena década de 1970. Quando cheguei em casa, a minha irmã era um saco de riso solto porque eu fiquei Joãozinho.

Hoje, sou dona de mim, não olho para trás para ver se tem alguém me olhando, dirijo em qualquer tráfego americano, em qualquer estado e via, e aprecio inclusive fazer isso nas madrugadas.

Mas a menina de seis anos dirigia comigo, ontem. Era um momento importante, eu estava indo fazer um teste difícil e eu então me lembrei, me vi, tão pequena e magra, olhos assustados, o mundo parecia enorme...

Passei no teste de ontem. Só não passo nessa lembrança triste.

Ontem, 12/12

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019


Você, no fim de tudo, deverá prestar contas de si mesmo para si mesmo.

12/12


Firmeza, foco, determinação podem ser apenas palavras, mas se realmente colocadas em prática se tornam realidade e essa é a minha realidade. Debaixo de um semestre em ruínas, onde assisto ao esfarinhamento de todas as minhas ilusões, visito o passado, encaro o presente e enxergo apenas aquela menina franzina, um pouco tímida, mas que ria muito, e isso deve ter sido a minha salvação... e relembro numa forma masoquista, mas que escancara a verdade, e sofro por recordar momentos difíceis que só agora entendo... debaixo desta punhalada que a vida me deu, matando o que eu mais amava antes de conhecer meus filhos... com os nervos em frangalhos, falando alto, com ira, descompensada no estômago e intestinos, sem vaidade, sem vontade de ter esperança, lutando todos os dias para me manter em pé... debaixo desse inferno, eu hoje posso tranquilamente dizer que venci. 

Disseram-me para não desistir, para continuar, para viver da melhor maneira que eu pudesse, disseram-me para eu preencher meus dias, que iriam me aguar de orações, que eu deveria continuar... e eu caminhei dia a dia, mês a mês sem me permitir desistir. 

Qual o segredo, o método, a senha? Respira. Respira. Respira. E segue.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019


Naqueles reiterados sonhos que eu não entendia, eu sofria para enxergar e eu sentia a dor do cego. Acordava péssima. O que é que queriam que eu enxergasse? Sim, sempre havia duas ou três pessoas pedindo para eu enxergar. Eu abria os olhos com dor após extremo esforço e tudo o que eu via era um branco cinza claro.

Não sei o que mais doeu, a tentativa de fazer o que me pediam ou a visão que agora tenho de tudo. Provavelmente, a visão, mas estou livre agora, posso voar, e a visão do mundo é linda quando se tira a venda, o carma, a ignorância.

A queridinha da família é a filha de outra também queridinha e isso, de forma terrível, vai se repetindo. E os carmas criam-se porque injustiça é coisa para se pagar agora ou depois.

Se você que me lê pensa em ter filhos ou já os tem, não crie queridinhas, elas não são felizes. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019



Eu estou bem melhor, praticamente curada. Pela primeira vez na minha vida, meu ânimo voltou, minha alegria por estar viva, por circular no mundo, enfim, meu estado natural voltou sem que fosse preciso um acontecimento fantástico, ou uma pessoa surgida feito fada, um ganho, uma conquista, nada, nada aconteceu, meu mundo permanece o mesmo, eu voltei a ser feliz comigo mesma e com a minha vida porque dias atrás, eu fui a uma igreja, num dia de semana e hora mais banais seria impossível, tentei rezar, não consegui, e, ao sair, escrevi no livro que lá existe para quem quer deixar alguma mensagem para Deus, "Não me abandone como todos fizeram porque eu nem sei mais rezar."

Foi fantástico! No dia seguinte, eu já não era mais a mesma.

Dezembro, 9
( desconheço autoria da imagem)


Amor é flor leve que carregamos com preciosidade, mas não tem vento forte que não o derrube. Conserve. Guarde.