EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


terça-feira, 28 de agosto de 2018


Minha casa é silêncio e paz. Noites frias, dias ainda quentes. O labrador, meu vizinho, latiu poucas vezes... parece que já sou conhecida, meu cheiro, meu Português, meus barulhos de sempre... percebo, já não sou mais estranha. Ouço as vozes em Inglês, elas me soam doces... estou em mim; voltei.

Na verdade, na verdade, estou em paz, não só a casa e os arredores.

Precisei dirigir. Saí cedo. Ah, essa cidade é meu ninho! O trânsito, as ruas e avenidas, esses carros grandes, o verde das gramas me disse seja bem-vinda...

O mundo é assim, vasto. A América do Norte é a minha casa; o Brasil, a minha história. Faz tempo que dispensei contações de histórias, faz tempo que o provisório tomou seu lugar cativo em mim. 


Eu disse que gostava de diários?

sábado, 18 de agosto de 2018

Eu não poderia estar mais nua do que aqui.



Deixei minha casa bagunçada. Onde estou, navego em nuvens. Não estou em minha casa. Não estou aqui. De certo mesmo, apenas meu coração subindo à boca. De tão cheia, tento a pena. Escrever acalma-me. 

Falaram comigo. Falamos. Os rios seguiram em direção aos oceanos. Eu vou para o Pacífico. Eles me aguardarão aqui. Um dia quem sabe, eu volto. Hoje, não.

Tudo o que falamos reverbera. Revivo. Relembro. O passado é terra desgraçada, mas há pérolas que se desprenderam para agora e aqui.

Desaguou em mim dois mundos, os nossos, em direção ao mar. Sou êxtase. Sou um punhado de estrelas das mãos estendidas. 



O menino fala do passado como se fosse hoje. O menino não sabe que o presente é do homem. Eu queria dizer que o menino não existe mais, mas não digo. Calo-me. É tempo do homem perdoar o menino.
As coisas fáceis acontecem. As coisas que não nasceram para existir morrem no nascedouro, por isso, difíceis. Desisti das difíceis faz tempo. Perdoei-me, perdoei-me...

Mereço as facilidades. Mereço amorosidades.

Estávamos parados na ampla avenida. Assistimos a vida a vida toda. Caminha... Nós nunca mesmo nos importamos tanto assim com os acontecimentos. Olhávamos a nós mesmos. Hoje, conta-mo-nos nossas histórias.

Continua. Caminha.

Vem ser. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2018


Eu poderia falar sobre isso. Eu poderia pedir algo a mais, alguma coisa, de preferência, sem precisar de voz. Querido, cansei-me. Ah, você não imagina! Percorro caminhos retos sambando meu coração. Finjo sensatez. Disfarço minhas necessidades. Ninguém imagina, e, por isso, não se acanhe, aprendi a caminhar sobre linhas. Essas, eu desenho em arcos. Num dia que ganho, no outro que perco (suas permissões delimitam o movimento).

Não me importam os dias. 

Nenhum ensaio, nem mesmo algum desejo. Apenas a visão plana à frente de um campo amarelado; estio. Nenhum sinal, nem som de sinos ou badaladas de um relógio. Dia parado no meio (eu poderia falar sobre isso). 

E então eu me permiti falar. 

Como pesou-me meu cabelo, nas costas! 

Falei, falei...

Exaustivo momento de permissão. Foi um arrebatamento. O presente golpeou o passado. Falei por acidente ou porque a visão da planície convidava? 

O acaso presenteia. Era um dia comum.

Só não eram comuns os protagonistas.

É agosto. Chove no inverno. Vivo de exceções.

A planície abarca-me. 

(Eu poderia falar sobre isso)

terça-feira, 7 de agosto de 2018


Por que eu voltaria?
Perguntam-me se voltarei, depois de eu ter ido.
Deveriam ter perguntado bem antes disso.

domingo, 5 de agosto de 2018


Eu vi um olho.  Nele tinha um lago, ou um gramado claro. Como se eu o desenhasse, tomei posse dele numa brevidade. Eu vi um olho que me olhava. Pronto. Fotografei na retina.

Ainda o vejo. Sério. Um olho sério.
O mundo é todo sério nesse mundo. Desse olho.

Eu poderia desenhar pequenas asas, acima, na têmpora.


quinta-feira, 2 de agosto de 2018


Era noite. Na calçada, olhei de soslaio minha companhia. Senti meu corpo alto. Cresci em segundos... 

deve ser a alma.



25 de julho