EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


domingo, 31 de janeiro de 2021

Tornei-me, na casa dos 50 anos, aquela criança que cai, se machuca, levanta sem olhar o ocorrido e diz enquanto anda de volta para casa: nem machucou.


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 


Com certeza, Deus tira certas pessoas da nossa vida porque nós não sabemos, mas Ele sim, o que elas falam de nós.
Ajudei por que eu quis uma infeliz que quase agonizava, no início da pandemia, e agora eu a vejo falando mal de mim. 
Tem gente que tem a vida que merece ter.







Sobre rusgas, preguiça e falatório barato

 

Sobre algumas reclamações como por exemplo, "homem adulto que não sabe cozinhar, lavar roupa, procurar sozinho por objetos que ele mesmo perdeu, limpar a própria sujeira..." que a gente lê por aí, nas redes sociais.


Sobre a minha amiga responder: "Tenho amigas que tem PREGUIÇA de educar os filhos pra vida. Principalmente quando é filho único. Isso parece um loop. Elas reclamam, mas não agem. Pensam que um dia vão acordar e esses problemas já estarão resolvidos como num passe de mágica. Sinto muito dizer, mas coisa que tá ficando cada vez mais idiota com o tempo é mulher. Muita fala, muita revolta, mas pouca objetividade. Se a pessoa é a maior prejudicada, não é ela que tem que virar o jogo? Vai esperar quem fazer isso, rs? Criança bem educada se adequa, pode observar. Podem reclamar um pouquinho, mas se adequam. E outra, tem muita menina que faz a mãe de empregada, também. Esse post, sei não, rs... Beijo, querida".



Sobre o que eu penso: "Concordo totalmente com você, sem tirar, nem pôr. Muita gente com preguiça, e criar filho é justamente o antônimo de preguiça. Sim, "muita fala, muita revolta, mas pouca objetividade." Tocou no ponto! Sou bem flexível em minha vida íntima, quase doce, mas sou o cão e costumo dizer que feminista sou eu que quase nunca fala sobre ou escreve, mas quem me conhece sabe. Tantas mulheres "fodonas" e quando se casam adotam o sobrenome do marido e aqui nos EUA registram seus filhos apenas com o sobrenome do pai. Muito discurso, mas na prática, cordeirinhas que se transformam neles, nos seus homens, verdadeiras metamorfoses. Uma coisa é o que elas dizem, outra coisa é o que fazem. E eu meio que na perferia, bastante evitada por ser desagradável, mas meu marido e meus filhos me respeitam e principalmente me amam porque sou de verdade. Desse mal nojento que a maioria das mulheres sofre, eu não morrerei. Não idolatro homem. Não idolatro mulher".


segunda-feira, 25 de janeiro de 2021


Eu poderia dizer que é por causa da pandemia, mas não seria verdade. A verdade é que cansei de vídeos longos nos quais a única imagem é a da falante, por melhor que seja o tema, cansei, se insistir, me sinto implodindo. Cansei dos cínicos. Cansei de quem não percebe a hora de ficar quieto, cansei dos raivosos de plantão, dos "lacradores" - os donos da palavra final. Cansei das amigas "falsetes", assim no feminino porque certas picuinhas são femininas sim. Cansei da muita eloquência. Farta de receber convites para responder a questionários, ler textos sem fim, interagir prestigiando alguém. 

Eu poderia listar todos os meus cansaços, mas até isso vou evitar. Pareço atleta em fim de carreira fazendo corrida com obstáculos. 

Pareço uma procissão à noite, evitando na caminhada as pedras pontudas e a cera pingando nos meus dedos... mesmo que sejam deliciosos os ventos que batem no meu rosto.

A pandemia não é a causa; é a humanidade.


Janeiro, 25

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

20 de janeiro de 2021, doze anos morando nos Estados Unidos.

 

Teve gente que pensou que eu iria voltar com pouco tempo e me disse isso, mas eu nunca pensei em voltar para o Brasil, saí do país com ânimo definitivo. Já falei que não olhei para trás, mas olhei sim diversas vezes ao longo dos anos. Olho até hoje. Há coisas no Brasil eternas... se eu fechar os olhos um pouquinho só posso senti-las, revivê-las, mas eu sou uma pessoa tranquila, sem grandes anseios que quando decide está decidido, permito-me certos pragmatismos. A vida me mostra todos os dias que muito do que padecemos é culpa nossa porque colocamos muito sentimento em cima... talvez porque eu seja latina, talvez, não... o mundo se sustenta nas relatividades, isso é outra coisa certa. Tudo é relativo, mas viver no Brasil novamente é sonho, utopia, não acredito mais e a gente precisa acreditar para ter força para fazer, correr atrás, mudar.

Assisti à posse do novo presidente americano e quase chorei, eu que nunca choro. Não vejo o mundo um lugar de maus e bons porque somos um pouco de tudo, mas ontem o tempo ficou muito feio, nuvens estranhas me empurraram para dentro de casa, ventava muito e fazia frio. Senti medo do mundo inclusive passei mal no fim da tarde. Os céus pareciam raivosos e um sujeito pernóstico e sua família pernóstica estavam fazendo as malas... Hoje, o dia foi totalmente diferente, bonito e morno. Então, assisti à posse pela televisão e depois fui à rua onde morei quando cheguei aqui há doze anos. 

Ir àquele bairro é um deleite! Parar diante do prédio onde vivi por um ano é a melhor das nostalgias. Sinto-me vitoriosa. Que lugar lindo me recebeu! Lá tem silêncio de monastério. Tem maritacas nas palmeiras imperiais e corvos, tem loja de surfista, tem praia, crianças nas calçadas com seus patinetes, não há muros nas casas e nem grades. Parece que a vida é mais lenta. Não que aqui seja muito diferente, não é, é um bairro predominantemente residencial, e tem o silêncio de monastério, mas a magia está lá. Lá está eu. Eu que não falava nada em Inglês e que tinha um menino de oito anos e uma menina de um ano e cinco meses para cuidar, proteger, guiar, ensinar... tem eu que não sabia distinguir uma loja de uma casa residencial, que não encontrava coador de plástico e nem panela de pressão para comprar e se perdia nas freeways, coisa que me fazia gelar o estômago. Tem eu com mais de quarenta anos tentando recomeçar. Gosto dessa pessoa que fui, tenho orgulho, e essa pessoa acreditava. 

Quando fiz aniversário de cinco anos vivendo aqui, a minha mãe me disse, agora você pode voltar quando quiser, porque ninguém poderá lhe dizer que você fracassou... e rimos bastante disso!

Mas eu não voltei. Sou outra. Aquela que chegou na Grand Ave, no dia da posse do Obama, que olhou em volta e sentiu um fino frio passando pelas bainhas das roupas e entendeu que renascia ali, naquela calçada, enquanto as malas em rodinhas, oito grandes e quatro pequenas, eram empurradas através do cimento perfeito, em direção à entrada do prédio de dois andares, cinza e quieto, aquela pessoa não se adequa mais ao Brasil; e não acredita mais.

Se eu fechar os olhos, posso respirar o meu passado, mas é só isso. Tudo se perdeu, o lodo que eu dizia ter lá, tenho agora aqui. Tenho memórias engraçadas, algumas outras um pouco tristes, mas tenho história, construí um país para mim e nele me reconstruí. Tudo depende do tanto que colocamos de força e fé, e isso eu fiz bem. 

R me disse hoje que escrever no dia 20 de janeiro virou tradição e isso é uma verdade absoluta. Parabéns, novamente, para mim, para nós quatro!


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Redes sociais e os ossos de bezerro.

 

Meu pai sempre dizia que papel aceita tudo, agora tem também as redes sociais. Meu pai era promotor de justiça e ficava abismado com as distorções dos fatos feitas pelos advogados. Cada coisa que escreviam nos autos dos processos! Quando eu, nas redes sociais, não conheço intimamente a pessoa que está falando de si, eu uso o benefício da dúvida, pérola jurídica, ao desconfiar da veracidade daquilo. Quando eu conheço a pessoa na intimidade, penso naquela música, "mas como ele é cara de pau"... Ele, ela... "mas um dia vai se dar mal...".

Voltando ao meu pai, havia um caso célebre: o advogado do suspeito de assassinato disse em plenário que aqueles ossos encontrados não eram da vítima, mas de um bezerro de um churrasco. Falou na cara dura para assombro de todos que tinham em mãos o resultado da perícia médica. Na cara dura! 

Nas redes sociais, tem gente que capricha e eu fico até querendo acreditar em ossos de bezerro.

domingo, 10 de janeiro de 2021

A Vitória Das Mulheres Velhas


"Eu gosto das mulheres velhas
mulheres feias
mulheres mesquinhas
elas são o sal da terra
elas não sentem repugnância
perante os dejetos humanos
elas conhecem o outro lado
da moeda
do amor
da fé
ditadores fazem palhaçadas
vêm e vão
as mãos manchadas
de sangue humano
as mulheres velhas levantam-se
de madrugada
para comprar carne fruta pão
limpam cozinham
ficam na rua
de braços cruzados em silêncio
as mulheres velhas
são imortais
Hamlet debate-se numa armadilha
Fausto desempenha um papel
básico e cômico
Raskolnikov ataca com um
machado
as mulheres velhas
são indestrutíveis
elas sorriem conscientemente
Deus morre
as mulheres velhas levantam-se
como de costume
de madrugada compram pão vinho peixe
uma civilização morre
as mulheres velhas levantam-se de madrugada
abrem as janelas
livram-se do lixo
um homem morre
as mulheres velhas
lavam o cadáver
enterram os mortos
plantam flores
nos túmulos
Eu gosto das mulheres velhas
mulheres feias
mulheres mesquinhas
elas acreditam na vida eterna
elas são o sal da terra
a casca de uma árvore
os olhos tímidos dos animais
covardia e bravura
grandeza e pequenez
elas veem nas proporções
adequadas
compatíveis com as exigências
da vida cotidiana
os seus filhos descobrem a América
perecem nas Termópilas
morrem na cruz
conquistam o cosmos
as mulheres velhas saem de madrugada para a cidade comprar leite pão carne
temperam a sopa
abrem as janelas
só os tolos riem
das mulheres velhas
mulheres feias
mulheres mesquinhas
porque essas lindas mulheres
mulheres gentis
mulheres velhas
são como um óvulo
um mistério desprovido de mistério
uma esfera que rola
as mulheres velhas
são múmias
de gatos sagrados
elas são pequenas
e secas
fontes secas
fruta seca
ou gordas
budas redondos
e quando morrem
uma lágrima rola
pelo rosto
e junta-se
a um sorriso no rosto
de uma mulher jovem"

*Tadeusz Rózewicz, Polônia (1921-2014)

Tradução de Jorge Sousa Braga a partir da tradução inglesa de Joanna Trzeciak

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 A mulher que morreu atingida por um tiro, ontem, no Capitólio, havia escrito horas antes em sua rede social que nada poderia detê-los. Como alguém que viu a guerra de perto pode ser assim tão simplista, inocente, crédulo? A vida foi tão fácil assim? Pois, vem a morte e, sim, ela pode nos deter. 

Morreu bobamente após tantas guerras...

 

Foi-se o meu tempo que durou quase a minha vida toda de compreensões, aceitações, sempre gentil tolerando as maluquices alheias, os desvios de caráter, as picuinhas sem fim. Dei um ponto final nas minhas histórias de tolerância. Cansada demais, inclusive do meu gênio permissivo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Descobri que terminar frase com ponto de interrogação é bem melhor que ponto final.

 

O calendário virou, já é janeiro, perdi a contagem do número de mortos por coronavírus e a de contaminados. Creio que está todo mundo perdido, tentando se segurar na luz da esperança, inclusive eu. Ou é por que não gosto de janeiros? 

Janeiro, 5