EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quinta-feira, 30 de maio de 2019


Eu poderia continuar pensando e escrevendo sobre homens e mulheres mentirosos, hipócritas e invejosos; sobre pessoas vendidas por muito pouco, sobre pessoas que fabricam verdades à medida que precisam justificar suas vidas mal sucedidas. Eu poderia contar a verdade sobre aquele fato ocorrido há mais de trinta anos, mas a verdade, aquela baseada em fatos, não é merecimento de todos. Nem todos podem sentir as benéfices que ela proporciona. Há pessoas que vieram para coadjuvar. Sucesso não é para amadores. A vida não gosta de amadores. Ela cobra caro todos os nossos atos.

Eu poderia continuar, mas meu bairro está lilás. Fascina-me caminhar pelos Jacarandás em flor!
Moro em um deserto onde rosas nascem em cachos, em profusão, o ano todo, e muitas delas estão nas calçadas, e ninguém pisa.

Ontem, doei cinco sacolas de cem litros cheias de roupas, sapatos e cosméticos para a Breast Cancer Solutions Foundation, que deixei no gramado do jardim da frente da minha casa. Eles pedem para fazer assim com um bilhete para eles preso a uma das sacolas porque passarão para buscar entre o amanhecer e o anoitecer, faça chuva ou sol. E ninguém pega.

Se arredondo para mais uma conta que estou pagando para evitar os centavos, as empresas restituem o valor pago a mais via cheque pelos Correios. O valor do selo da carta é maior que essa devolução. E ninguém acha estranho. E ninguém fala que ser honesto é virtude porque isso é obrigação.

Ontem, meu filho recebeu prêmios no colégio. Todos os dias nós somos vencedores sem precisar do suporte financeiro de outros. Vivemos o que temos e somos felizes e livres.

À noite, quando nos deitamos para dormir, nada nos incomoda.

Eu poderia continuar a pensar em quem não merece uma fagulha de meus pensamentos, mas estou em festa. Hoje é dia de festa. Amanhã, também!


Maio, 30


segunda-feira, 27 de maio de 2019



Casaram-se sob o meu símbolo. Sou Suzana. Sou Lily. Sou lírio. Abundância de mim naquela festa. Nos cabelos dela. Nas mãos. No salão! E meus votos são abundância, riqueza, fidelidade, lealdade, e para que jamais voltem a pronunciar meu nome, meu símbolo; para que me esqueçam, para que suas línguas caiam secas antes de falarem de mim. Amém.

Antes eu pudesse falar palavras doces.

domingo, 26 de maio de 2019

Ontem, me disseram que algumas pessoas consideraram alguns textos que publiquei direcionados a certas pessoas. Eu ri. A pessoa riu comigo. Pode ser como pode não ser. Quando é, eu assumo no ato da escrita. Escrevo para me libertar porque tudo me lota e eu não gosto de andar lotada. Eu não sou lotada de meia dúzia de pessoas. Muita pretensão alguém pensar assim. A maior recompensa que recebo é saber que ajudo outras com meus escritos. Quem não gosta não deveria me ler. Não devemos ingerir o que não gostamos, mas tem gente que ingere. 

sábado, 25 de maio de 2019


Serei escritora de absurdos, não porque quero ser lida - porque eu sou lida, nos escuros, ah, eu sei... serei escritora de absurdos porque quero fazer coçar mais ainda. O que dói em muitos é saber que minha escrita é infinita.

O amanhã é o maior dos segredos.


Sobre o meu irmão.


Eu nunca irei me esquecer de que o meu irmão não me convidou para o segundo casamento dele. No primeiro, eu fui madrinha. E ele foi meu padrinho no meu casamento, assim como é padrinho de batismo dos meus filhos. 

Eu nunca irei me esquecer, mesmo que passem os anos, a vida, os rios de encontro aos mares; mesmo que amanhã ele não esteja mais casado, mesmo que amanhã ele se arrependa dessa desfeita para comigo, meu marido e meus filhos.

Eu nunca irei me esquecer. E isso cravou-se mais em mim do que toda a nossa história, embora leve, embora pesada, triste ou alegre. 

Eu nunca irei me esquecer.

Maio, 25

quinta-feira, 23 de maio de 2019


Os corvos estão me chamando, desde cedo. Agora à noite arranham suas gargantas, parecem me berrar, Suzaná, Suzaná! 
Só se eu fosse cega para não vê-los. Só se eu fosse surda! 
Só se eu fosse muda para não falar deles. 

Rasgos negros num céu azul de nossa senhora...

segunda-feira, 20 de maio de 2019


Nem sempre é o mais fraco que pisa as flores do seu jardim, rouba a sua lua... às vezes, é o mais bobo, o mais apagado e sonso.

Ele invade o seu jardim e a sua sagrada casa porque ele precisa se sentir magnífico, audaz, sedutor; o mais bobo deles. 

De verdade, ele não quer a flor, nem o jardim ou a lua da sua casa. Ele apenas quer deixar de ser bobo.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Seja humano se você quiser conhecer o que chama de Deus. Júlio Alves



As duas mudanças de endereços em um ano desregularam nossos relógios internos e foi preciso um ano para que nosso mundo se assentasse, bom, pelo menos, o meu. Quando chegávamos em casa, simplesmente deitávamos em nossas camas para dormir, como se não precisássemos trancar portas e janelas. Assim foi no início. Hoje, consigo fazer o procedimento de forma normal. E também aprendi a me movimentar de forma mais calma, aprendi principalmente a fazer certas coisas em câmera lenta. 
Movimento-me como se estivesse na convalescença.

quarta-feira, 15 de maio de 2019


Sentindo-me invadida. 😡 
Só aceito ser invadida aqui, no blog. 
O que leva uma pessoa a pedir para me seguir no Instagram, entrar e sair imediatamente? Essa pessoa faz parte do meu passado. 
Dou um cent para cada resposta.

domingo, 12 de maio de 2019


Na sexta-feira passada, o trânsito na rua da escola da minha filha parou por alguns minutos para esperar dois patos atravessarem-na. Rua de mão-dupla, uma menina saltou do carro para apressá-los. 

Parabéns a todas as mulheres que se sentem Mães!


sábado, 11 de maio de 2019


No último Natal, estive com amigos e parentes na casa da minha prima e participei também da brincadeira de amigo oculto que eles fazem todos os anos. Uma das definições da minha tia - 91 anos - para o amigo oculto dela era, “é uma pessoa de bem com a vida “. Dei um pulo da cadeira e gritei, sou eu! 

Sim, sou de bem com a vida. Sou de bem com a vida embora tudo, apesar de, eu sou. Nasci assim porque dou ênfase ao que é bom e belo. Embora o mau, que eu gosto de observar de longe.

Maio, 11

quinta-feira, 9 de maio de 2019


E aqueles castelinhos que vocês construíram à beira da praia das águas mornas, tão certos mundinhos... e me diziam vocês que minhas águas eram turvas...

Hahaha! 

Vieram as ondas do mar e riram de vocês...

Eu vi tanto castelo, tanto rei e rainha, tanta fada doidinha, pessoinhas tão centradinhas, eu vi tanta perfeição naqueles castelinhos que cheguei a duvidar de mim.

Hahaha!

terça-feira, 7 de maio de 2019

Relendo

Quase pouco...

E hoje sou feliz e nem tanto. Desconheço bipolaridades, tudo é e ao mesmo tempo não, quase no mesmo instante um quase dia de diferença que nunca completará as horas porque a cada hora sou feliz e triste. Sou rei de um único principado e nele só há um rio que nunca levará n`algum oceano e ele e eu somos um só quando mergulho em suas águas e me vejo tão rei e tão nu... porque hoje sou feliz e nem tanto e nenhum homem pode me deter e me matar, mas uma única criança é capaz de levar consigo todas as minhas riquezas, meus tesouros escondidos, e, debochada, me avistar ao longe, e me acenar de longe, satisfeita por poder me matar, só ela e nada mais e mais ninguém.

A vida de um rei que tem um único principado desenhado num mapa de desvios e atalhos, cortado pelo único e estéril rio - esse, que nunca porém o iludirá, pois é só isso e é tudo -, onde linhas divisórias são quase nulas, mas segredam o desejo do desespero: atirar-se do alto é o sonho desse rei que sou eu e que leva consigo uma criança que pode matar.

Ó caminhos desvairados! Ó vida rica de pobrezas, eu sempre serei assim, feliz um tanto e ardida noutro?

Nunca desejei esse reino, o rio, e a criança. Nunca desejei ser eu. Sonhei com voos silenciosos, insignificantes, que ninguém vê, que ninguém quer, que ninguém aspira. Sonhei apenas em ser ínfima!

Suzana Guimarães.

http://contosdelily.blogspot.com/2015/05/quase-pouco.html

Imagem: scg

segunda-feira, 6 de maio de 2019


Velha e cansada demais para qualquer outra empreitada, para começar nova guerra, mas se assim tem que ser, estou pronta. A vida não é realmente um passeio pelos campos. 

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Diálogos


I. Dia das Mães

Ele: vou passar o dia com a minha mãe.
Ela: não vai, não! Eu não tenho mãe.


II. Decoração

Ela: Por que aquele livro está sobre o criado-mudo?
Ele: Porque eu estou lendo-o.
Ela: Tira-o. Atrapalha a decoração.

de Assis Freitas


garçom, por favor uma dose caprichada de lirismo com bourbon

quarta-feira, 1 de maio de 2019


Casamento é só uma vez. Festa, vestido especial, tiara, o noivo, a noiva, os arranjos todos, a papelada, os proclamas, o sorriso da noiva, a movimentação dos presentes chegando, a nova morada (que seja um quarto). O noivo com os amigos, a noiva no salão, os parentes distantes chegando para o grande dia... Casamento é uma vez só. O resto é ajuntamento. Que me desculpe a senhora ilusão. 

Maio, 1.