EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
“Para de ligar todo dia”
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
terça-feira, 29 de outubro de 2019
O macaco de uniforme
sábado, 26 de outubro de 2019
Poema de Eugénio de Andrade
É URGENTE O AMOR
Eugénio de Andrade - (1923-2005)
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Bula de remédio
Figura A tocando o braço de figura B dirige-se a figura C:
_ Está com inveja?
Figura D abre o braço de pássaro sobre C e diz assim, no tiro à queima-roupa:
_ Figura C não precisa.
Sobre um brasileiro babaca
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
domingo, 20 de outubro de 2019
Sou Suzana
sábado, 19 de outubro de 2019
Texto de Cássio Zanatta.
Da hora
.
.
.
"Chega uma hora em que não é mais desconcertante rever o grande amor. Mais provável ser atropelado na ciclofaixa. Tempo dos cabelos irem desistindo pelo caminho, das ilusões respirarem por aparelhos e de se munir de toda a paciência que resta, quando alguém discute política como se fosse a coisa mais importante.
O tempo de tudo que ainda for possível. Da urgência de experimentar uma fruta desconhecida. Caminhar por uma cidade onde nunca se esteve. Hora de dar menos autoridade ao despertador e de ficar horas matutando, tentando se lembrar do nome do colega de Ginásio. Quando o dia resolve ter a duração de 19 horas e cada sete anos passam a caber em cinco. Da sesta mais por obrigação que por opção.
Descobrir que já leu o livro depois de 282 páginas, faltando apenas 17. Ter todo o tempo do mundo para ir a Machu Picchu, mas ter imensa preguiça de subir aquele tanto. Fazer com o molho na camiseta o que Pollock fazia com as tintas na tela. Esquecer as caneladas e achar que tudo foi leve e bom.
A hora em que toda gratidão humilha qualquer obrigação.
Quando se leu tanto livro, meu Deus, e de cada ida à livraria nasce uma aflição do tanto que ainda se quer ler, mais o remorso de nunca ter lido Joyce. Da barriga insistir em chegar na frente. De sentir uma indefinida tristeza do quanto seria inútil telefonar para os pais.
É tarde para aprender a fazer moqueca. De começar a carreira de astro do rock, de tatuar dragão nas costas, tentar entender o manual de instruções, se entregar a uma nova crença, aprender a cabecear de olhos abertos, desistir de assobiar em público. Mas só para isso, para o resto ainda resta muito e as mangas estão arregaçadas.
Cada segundo dedicado a um lamento é um perdido de dar risada. Um remorso toma tempo demais, demais.
Mas calma, a hora ainda não é esta. É porque o relógio, solidário, também anda se confundindo. Não há pressa, ou melhor, não deve haver. O problema é que você não está no comando, quem está é um CDF, um caxias, incorruptível, o bundão que vai cumprir com a tarefa com toda a eficiência, o pé no acelerador, o quanto antes, sem admitir nem uma matadinha de aula para ir ao cinema.
Chega uma hora em que um aniversário a mais, um a menos, não parece fazer tanta diferença. Só para quem reparou que não havia bexigas coloridas e você precisou respirar duas vezes para apagar todas as velas.
Mas aí vem um abraço longo, que pausa tudo, a gente se deixa apertar por um tempo que não tem medida, de olhos bem fechados e, quando abre, misteriosamente, muito misteriosamente, vê surgirem sobre a mesa três travessas de brigadeiros e duas de quindins."
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
terça-feira, 15 de outubro de 2019
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
domingo, 13 de outubro de 2019
Poema de Mia Couto
"Pergunta-me
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer."
Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'