EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quinta-feira, 30 de abril de 2020

No photo description available.


Não tem fermento nos supermercados?
Compra pela Amazon que eles entregam.
Ah, se fosse assim tão fácil o viver!
Li que Frida kahlo escreveu em seu diário dias antes de morrer que não queria voltar mais. Nem eu.


A palavra soa melhor em Inglês: disgusting. Acordei disgusting. E como se não bastasse leio comentários e postagens mais disgusting ainda.
Percebo que muitos brasileiros não sabem o que significa ser presidente da república. Significa que ele é um empregado, um funcionário do povo, pago pelo povo para cuidar dele. O mínimo que se espera de um funcionário é que ele seja competente, polido, respeitoso, cheio de ideias, eficiente, digno da função que exerce. Funcionário vem da palavra função, então, é todo aquele que exerce uma função.

Nenhum funcionário trabalha de graça e quem paga é o povo. E o povo não escolheu esse funcionário para ouvir dele que morte é algo natural, vem de Deus, e daí, todos vão morrer. Ninguém precisa pagar ninguém para saber disso.
Se esse funcionário não consegue cumprir a sua função deveria se retirar ou pelo menos, fingir melhor que trabalha.

quarta-feira, 29 de abril de 2020


11:00 da noite. O sono me alcança, mas eu quero escrever sobre certas coisas que leio e também sobre outras que vivencio. 

Percebo que invento coisas para fazer porque não quero ficar imaginando, como fico, o vírus entrando no meu corpo e se alojando em meus pulmões. Há doze anos, eu tive Trombo Embolia Pulmonar, e a lembrança da dificuldade para respirar e da dor é  eterna.  Eu não podia encostar em nada porque sentia agulhadas quentes, pontudas e que aumentavam de intensidade se eu insistisse. A dor era de duas formas: intensa nas costas e lenta do peito para cima, como algo que se vai perdendo, sumindo, suavemente.

Em Manaus, os familiares dos mortos estão abrindo os caixões lacrados, empilhados, para saberem se são realmente os seus parentes.

Um político americano pediu às pessoas, "Não bebam detergentes, por favor!"

Pensei que eu era a única pessoa no mundo que não respirava bem e não enxergava usando máscaras. Ledo engano. O mundo inteiro reclama.

Às vezes, tenho vontade de não trocar de roupa, não escovar os dentes, não tomar banho... pra quê, né? Mas arredo essa vontade e como se estivesse tudo bem, cumpro meus rituais e cobro dos meus filhos. Puxei o meu pai, funciono maravilhosamente bem nas situações piores, fico calma e ágil, cumpro minhas obrigações, não fico pensando muito... porque a gente deixa para estrebuchar depois. Terei tempo para surtar em um destes dias pra frente, não agora.

O Reino Unido confirmou mais de quatro mil mortes nas últimas vinte e quatro horas. O Brasil teve quase quinhentas. E eu ouvi brasileiros dizerem que o Brasil não seria atingido. Sempre, sempre, aquele eterno pensamento de que Deus é brasileiro e estamos muito bem, obrigado! O brasileiro precisa urgentemente ser mais realista, mais disciplinado e mais pragmático. 

Uma 'influenciadora' brasileira - como detesto essa palavra!, influencia em quê? - pegou o vírus, creio que em março, sarou e fez uma festinha no apartamento dela para comemorar a saída da amiga daquela besteira de Big Brother. Perdeu seus seguidores (isso parece seita), mas não todos, rapidamente, ela se excluiu do Instagram.E eu fiquei pensando se a gente tem algum motivo para comemorar, além dos motivos básicos que são estarmos vivos, sermos sadios, termos comida e blá blá blá. Sim, claro, devemos comemorar todos os dias tudo de bom que temos, eu comemoro sempre, uso meus melhores tecidos, meus cristais e rendas, brindo às onze da manhã de terça-feira, oro no meio da praça cheia de gente, não escolho dia e hora para essas coisas, mas, com sinceridade, não temos nada para comemorar neste primeiro semestre de 2020 até a presente data.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Aqui, começaram assim, as mortes, de forma devagar... 2020 é um ano feroz.


O Brasil superou a China em número de mortos. Não duvido que a China tenha mentido sobre os números de infeccionados e mortos, mas no Brasil eu sei como será a tragédia que na verdade, já é.



Sobre sábado ao  meio-dia, em downtown. Desci do carro do meu marido para comprar água e ele então daria a volta no quarteirão para me buscar porque perto da estação do metrô não tinha como parar. Deixei minha bolsa no carro e saltei. Foi assim que o sujeito bêbado se deparou comigo, quando eu acabava de caminhar pelo quarteirão e chegava na esquina de duas avenidas. Tudo estava deserto, mas havia movimento dos trens. Vi duas pessoas sentadas, esperando não sei o quê, aquela gente sempre ao lado de pacotes, parecendo sempre de mudança. Ele se dirigiu a mim, perguntou se eu tinha dinheiro, eu atravessei a rua, fui para a direita, ele foi junto, eu voltei, ele, também;  diminuí o passo ao voltar para a esquerda, ele, também. Eu não desviava os olhos dos dele, apenas esperava seus movimentos. Ele não queria dinheiro. Queria se divertir com a minha cara. Foi quando o anjo mais negro que a mais negra noite sem lua voou para cima dele, foi assim que vi, como comentei ontem, voltei lá para entender, ele saltou da plataforma do metrô para cima dele. Deu-se um branco. Só vi o colarinho da camisa dele, xadrez em vermelho e preto, camisa de manga curta, pois eu vi seu braço partindo para cima do sujeito, também negro, mas mais claro, mais baixo, mais velho, barrigudo e bêbado. Corri. Voltei para onde eu tinha saltado do carro. Enquanto corria, eu ouvia os gritos dos dois, o anjo chegou aos berros, aos gritos e aos sopapos. Eu nem disse Thank you... naquele momento, pensei se tudo aquilo seria teatro, uma tentativa de me confundir, como faz a bandidagem em Belo Horizonte, pensei também que aquilo poderia atrair mais pessoas para a briga, então corri. Se alguém pudesse sentir a solidão do mundo, esse alguém era eu naquele momento. Não tinha nada aberto para eu me esconder. Passei o local que havia combinado com meu marido e continuei correndo para parar perto de três homens numa fila de um caixa automático. Foi quando liguei para o meu marido. Mas ele não entendeu onde eu estava e se perdeu também. Foi quando vi o sujeito caminhando menos trôpego em minha direção. Para onde tinha ido R? Atravessei a avenida. Liguei para ele mais duas vezes, aos berros. Entendi então que havia sido aquilo mesmo: o cara me defendeu, sim, e depois seguiu o caminho dele. Avistei R, atravessei a avenida correndo e entrei no carro dele. Não pensei em voltar ao local para tentar agradecer... fiquei atônita. Queria só voltar para casa.

Mas eu agradeci mesmo quando não estava entendendo nada. Ontem, eu dormi digitando isso, hoje, penso nele e faço meu silêncio, sou silêncio, sou a noite lá fora, uma cadeira vazia, debaixo da árvore, à espera. 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O mundo tem mais de três milhões de infectados por coronavírus. Um terço está nos EUA, meu país adotado.





As festas de anivérsários das crianças estão acontecendo, mas em formato diferente. O usual é a família da criança aniversariante enfeitar a casa pelo lado de fora, os amigos chegarem de carro, em fila, deixarem um presente, e receberem um saquinho de surpresinhas. A família de um conhecido convidou inclusive um policial e, de carro, ele escoltou o grupo pelo bairro. Acredito que as crianças ficaram felizes assim no oeste, polícia, mocinhos...

Nunca mais vi para comprar papel higiênico, fermentos para bolo e pão, e álcool. Se procurar, encontra, mas nos diversos supermercados que fui, não. Álcool, realmente, duvido muito encontrar.

Nos fins de semana, as calçadas em frente ao mar estão com muitas pessoas caminhando, deitando-se na grama, mas eu, honestamente, não tenho vontade. Talvez porque eu more em casa. Talvez, se eu morasse em apartamento, estaria lá também, para tomar sol. Parou de chover. Caminhamos, então, para o verão.

Os céus continuam os mesmos. Maritacas voam em bando, naquele verde de estremecer os olhos. Os patos, todo fim de tarde, sobrevoam o telhado da minha casa, em direção ao sul e o barulho deles é um presente aos meus ouvidos.

Parece tudo normal, assim, olhando a olho nu, mas não está. Somente a natureza continua em seu ritmo. Colhi rosas no meu jardim. Enfeitei a casa. Li que roseiras amam sol, pouca água e ter suas rosas podadas; quanto mais se corta, mais produzem. Sabia que as rosas são chinesas? 

Eu não sabia de muita coisa e de outras, como disse o poeta, desconfio.


domingo, 26 de abril de 2020


Sessenta pessoas em New York beberam desinfetantes e foram parar no hospital. Talvez, inspiradas pelo presidente americano que teve essa estapafúrdia ideia. Como se o cotidiano mais estapafúrdio ainda não nos bastasse... 

Meus escapismos estão me cansando. Já cismei com jardinagem e culinária, mas estou exausta. Para ir à rua, preciso me lembrar de usar máscara no rosto, tenho usado bandanas e não sei respirar direito com elas e nem enxergar. 

Passei o dia pensando no que aconteceu ontem. Voltei lá porque à noite, ao me deitar, fiquei pensando que tive um surto, que tive um delírio e criei tudo aquilo na minha cabeça, então, voltei. Eu queria entender de onde mesmo aquele cara saiu, pois eu só me lembrava mesmo dele num salto, num pulo, vindo de cima para baixo para atingir o sujeito que estava tentando brincar de gato e rato comigo naquela rua deserta. Eu tinha os olhos fixos no sujeito para pensar o que eu iria fazer, então não vi direito e por isso duvidei de mim à noite, deitada na minha cama.

Meu anjo ébano pulou da plataforma do metrô, então ele estaria embarcando ou desembarcando... quando me viu no cruzamento das duas avenidas tentando me desviar do sujeito. Fui lá e vi e entendi o que aconteceu. Tem uma escadinha, uns três degraus com grades bem baixas laterais. Ele dispensou os degraus e voou pelas grades, indo em direção ao sujeito. Por isso, o que primeiro vi foram suas pernas como se pulasse ou saltasse. Meu Deus! Na hora que eu precisei, na solidão daquele momento, tinha um homem bom e bravo me vendo... penso no quanto é tolice pensarmos que estamos sós, talvez a gente não esteja... 

Ainda não me conformo de não ter dito pelo menos, Thank you.

Amanhã, escrevo sobre isso. O dia foi longo, lembro-me de estar na cozinha pela manhã fazendo pães e agora estou aqui, tentando segurar qualquer coisa em mim pois parece que tudo se liquidificou e eu nem sei para onde. 

Abril, 26

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Por SCG

sábado, 25 de abril de 2020


Pela primeira vez, em mais de 11 anos de EUA, eu senti pavor na rua, mas um anjo me ajudou. 🙏 
Depois, vou escrever sobre... já passei por inúmeros perrengues nas ruas, no passado, mas esse foi até bonito, visto depois, quando passou o desespero. Posso dizer que já tive um super-herói americano, negro como a tecla do piano, numa camisa quadriculada em vermelho e preto. 🖤

sexta-feira, 24 de abril de 2020





O ministro da economia deixou os sapatos para entrar no recinto. Não entendo a pergunta das pessoas sobre isso. Era o único com máscara! Parece que o único com o juízo perfeito. Não ouvi o discurso, mas procurei as imagens.


Não entendo o Brasil. Estão imunizados contra o coronavírus?

Sobre hoje e eu ainda nem falei sobre anteontem.


Mês 4, ano 2020 e deve ser assim o inferno. Só hoje, para não falar dos dias anteriores, eu vi o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil pedir demissão; o presidente do país aparecer na televisão para fazer um discurso pé de chinelo, rodeado de umas vinte pessoas, todas sem máscaras e sem luvas, salvo o ministro da Economia; o ditador da Coreia do Norte num morre e não morre; uma barata gorda e voadora na parede em frente à minha cama; o corpo morto e já fedendo de um opossum enorme, do tamanho de um gato grande, encontrado pela minha labrador que tem em seu dna a marca da caçadora e foi até ele e o lambeu, deitado morto com as tripas para fora dentro de um canteiro do meu quintal que eu nem sabia que existia - um quadrado fundo no muro tampado de Olhos-negros-de-Suzana, sim, Suzana, o nome da trepadeira linda originária da África... fez hoje 32 graus centígrados, assim, de uma hora para outra, em plena primavera, e isso para nós é muito calor... e depois, quando tudo já estava resolvido, corpo morto dentro da lata de lixo arrastada para a calçada, antecipadamente, e a cachorra novamente no quintal, surge então um rato ligeiro e fogoso...

O pano de fundo? Esta pandemia chinesa. 

Mas, pelo menos, o pé de jasmim da casa vizinha lançou na parte esquerda do meu quintal seu aroma divino... e eu o respirei, respirei... 

E eu nem falei ainda sobre anteontem... como se houvesse isso de hoje, anteontem e ontem.


Li no Facebook:


"ATENÇÃO ATENÇÃO.
O GOVERNADOR INFORMOU EM COLETIVA DE IMPRENSA que em virtude da quarentena, atendendo o pedido da população , amanhã vai passar o caminhão fumigador borrifando tinta de cabelo. Por essa razão pede à população para colocar a cabeça do lado de fora das janelas segundo o cronograma:

6:00 horas Preto.
7:00 horas Marrom escuro.
8:00 horas Marrom claro.
9:00 horas Ruivo.
10:00 horas Loiro claro.


Em breve estarão disponíveis loiro avelã, loiro piupiu, e loiro cirigaita."


Eu sou difícil para gostar de coisas e pessoas. Detesto discurso, qualquer um. Não me lembro de nada do que o paraninfo discursou na minha formatura. Quando a pessoa começa a falar, eu automaticamente abstraio. Respirei fundo, hoje, criei coragem e ouvi o discurso do Sérgio Moro na íntegra. Só tenho aplausos. É uma verdadeira aula de ética, leis e de como fazer uma sentença condenatória perfeita. Talvez seja porque a matéria me agrada por formação, talvez porque eu nunca espero mesmo santidade absoluta de ninguém. Só sei que gostei.

Estudou, calculou, mirou e atirou, sem dó. No alvo. Palmas para ele!

quinta-feira, 23 de abril de 2020


"Eu só queria telefonar" é o título de um conto de Gabriel Garcia Marquez que li há muitos anos, mas que fica na minha memória constante. Eu só queria comer alguns salgadinhos e docinhos brasileiros aqui nos EUA, eu só queria ajudar a pessoa que postou o anúncio nos Páginas Amarelas e, no fim, sinto-me desanimada, com preguiça - ah, já nem mais consigo me exaltar. A pessoa leva uma semana para se comunicar comigo, respondendo uma pergunta para cada três. Como vou decidir o sabor da empadinha se ela não envia o cardápio para mim após eu pedir duas vezes, e como vou pedir se não me responde quanto é para entregar? Envio meu endereço, meu telefone, mostro boa vontade, mostro que não sou uma curiosa ou desocupada que precisa conversar com alguém e por isso inventa conversa. Decido então cancelar o pedido. Ela então responde, telefona... não atendi. Eu só queria alguns salgadinhos e docinhos para ocupar nosso fim de semana, algo que nunca fiz aqui, encomendar, meu marido e eu sempre fizemos em casa ou compramos nos mercados brasileiros.

E vem então a avalanche de desânimo, preguiça que tenho com os humanos, com gente.
Já desisti dos grandes quereres para com o outro faz tempo. Agora era somente isso, eu só queria fazer um agrado e dar um help.

Abril, 23

P.S.: eu só queria dizer isso.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Antes, eles queriam papel higiênico. Agora, querem fermentos para pães e bolos.


Long Beach descansa...



Ninguém na rua. Só eu tão só.



Dias inimagináveis


Há uma organização ruim nos supermercados. Logo eu, tão admiradora de Organização e Método! Não é em todo supermercado que há fila para entrar, mas em todos há a exigência do uso de máscaras. E há tensão enquanto caminhamos pelos corredores e na hora de pagar. Todo mundo muito contido e disciplinado, tentando incomodar o mínimo possível e sonhando para não ser incomodado. Há setas vermelhas indicando mão e contramão nos corredores e círculos vermelhos desenhados no chão para nos posicionarmos em cima, respeitando o limite de seis pés ou dois metros de distância do outro. Ou então, listas horizontais em vermelho ou preto, demarcando espaços. Muitos ‘Não faça assim ou faça...’. Cartazes por todos os lados dando ordens e avisos e eu fico pensando num espirro... Detesto tudo isso, mas R está trabalhando normalmente porque é serviço essencial o que faz e nós quatro, os meninos também, claro, esperamos que eu faça o supermercado. Vou de quinze em quinze dias, mas às vezes saio para comprar leite ou pão. Dias atrás, LR comprou dois potes de sorvete de chocolate para nós... Detesto a máscara, as luvas e principalmente a sensação de que nada é real.  Faço o que esperam de mim e eu mesma espero... é a minha hora de transbordar amor. Então compro, cozinho, limpo, cuido, zelo. Não sei como serei depois disso. Se eu estiver viva, já estará muito bom porque AL tem somente doze anos... Eu sustentarei todos com a minha força. Muito antes disso, eu, em sonhos, limpava exaustivamente os caminhos, a vida.

Abril, 20

P.S: no rosto de todo mundo há cansaço. 

Brasileiros irritam-me. Primeiro foi o endeusamento à cor vermelha, agora, às cores da bandeira. Ainda bem que me basta ler nas coisas a palavra Brasil para eu me lembrar do que mora em mim.

O filme: A vida invisível.

O filme que não indico:
A vida invisível. Lançado em dezembro de 2019.

Já me contaram e eu já li, claro, sobre a vida das mulheres nas décadas de 1920, 1930, 40, 50, 60...
O filme diz que retrata essas épocas, mas durante todo o filme todos os homens brancos brasileiros ou não foram sacanas, egoístas e maus, salvo um gay e o detetive negro. Todas as mulheres foram ou apagadas ou sofridas. Quatro pessoas morreram: dois homens já velhos e não nos deixam saber como e por que e duas mulheres bem mais novas, de câncer, após muito sofrerem. O único homem que foi tremendamente bonzinho deixando a sua casa para uma das mulheres não apareceu hora nenhuma, apenas foi mencionado como sendo um bobo que acreditava nos gozos sexuais que ela fingia para ele. 
Por que suportei até o fim? Porque eu esperava a entrada triunfal da Fernanda Montenegro, e, claro, ela deu um show, mas ela só aparece no fim do filme, no papel da pianista sofrida.
O mundo não é assim. A vida não é feita tão burramente. Há homens maus e bons e mulheres também más e boas. Como alguém pode ter uma visão tão estreita, obtusa, como não consegue viver sem generalizar? Só pode ter sofrido muito para não ter tido olhos que vissem melhor. 
Lamentável. E ainda sonhou com o oscar.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Aparência física estranha a do novo ministro. Quando chego à noite na porta da minha casa e vejo o quanto está deserto o meu bairro, muito mais que antes, e quando tento andar nele sinto o silêncio ruim e relembro sonhos ruins, eu sinto medo. Quando vou atrás das notícias do mundo sinto medo novamente pois não dá para ser feliz sabendo que mais de 2.000 pessoas morrem por dia no país rico que escolhi para mim. E sinto então algo pior ainda quando vejo o representante maior da saúde do meu outro país. Aparência física estranha... prefiro as minhas ruas desertas. 

Abril, 16

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Coisas sobre mim:



Aprendi a nadar aos 28 anos.
Não sei andar de bicicleta.
Sei montar a cavalo.
Já voei de ultraleve.
Já andei de ambulância.
Nunca andei num carro da polícia.
Já pari.
Já estive em uma UTI.
Tenho intolerância à morfina.
Detesto o cheiro da maconha.
Já tentei aprender a tocar piano e violão.
E também a falar Italiano.
Falo Inglês muito mal.
Escondo-me para comer chocolate.
Meus banhos são fervendo.
Meus cabelos caem em abundância.
Gosto de amarelo.
Gosto de lugares sem gente.
Já acampei.
Já tive um psiquiatra.
Já quase morri.
Meu nome não é Lola.

sexta-feira, 10 de abril de 2020


Pedi a Deus que não chovesse hoje e não choveu, apesar da meteorologia ter anunciado chuvas para todo o dia, desde ontem até hoje às 7 da manhã. Se chovesse, eu ia sentar à porta de casa e chorar. Nunca chove na primavera em Long Beach, e o que estamos tendo desde março são chuvas, irritantes chuvas, aquela murrinha caindo o dia todo, sem barulho nenhum, mas alagando pátios e  minhas ideias. Às vezes, a gente surta, então eu reclamei ontem o dia todo, como para um Deus não seria fácil mudar o tempo? Fazer sol, chuva, fácil, um bater de cílios... 

porque está tudo triste, não vejo mais ninguém sorrindo. Há um silêncio preso nas pessoas, nas praças, no ponto do ônibus, nas pistas de carros... nunca foi tão fácil trafegar na cidade. Acostumada a ouvir o silêncio, não o ouço mais, apenas um abafamento no ar, nas casas trancadas... por aqui, não tem ninguém cantando nas sacadas. Nos supermercados está todo mundo tenso, aflito, e os mais conhecidos me olham tristemente. 

Para onde foi todo mundo? A América parou. A Europa parou. O mundo parou e tem uns idiotas no Brasil, sob comando de um idiota maior, se aglomerando, se tocando, cuspindo salivas na contramão do mundo... um país peneira furada dizendo que pode carregar água límpida. 

Pelo menos, hoje, não choveu. Alguma graça a gente tem que ter na vida e eu gosto de Deus principalmente quando Ele me dá coisas bobinhas, fáceis. Aquela água escorrendo noite e dia desde domingo parecia um sorvete na casquinha, ao sol. E eu vendo a vida escorrer e já me bastam esses todos olhares tristes, essa falta de riso, esse andar contido, essas pessoas limpando, limpando. 

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Cartas


Este poema veio a mim. 28/junho/2010 https://omedodesuzana.blogspot.com/2010/06/cartas.html

CARTAS
Suzana C. Guimarães
Quando eu morrer,
Não me enviem
Cravos, flores
Rosas brancas.
Quando eu morrer,
Me enviem cartas.
Quero cartas
Em papéis de seda,
Papel rascunho,
Muitas folhas
Ou uma única.
Mas, prefiro as longas...
Me enviem cartas
De amor
Desabafo...
Irrefreadas candongas!
Que falem da última fornada de bolo
Sobre o filho que nasceu
O pai que morreu.
Me conte sobre as últimas músicas
Últimos livros, últimos poemas que sorveu
Me descreva a última viagem ou a primeira
Pois eu amo cartas.
Enviá-las ou recebê-las...
E tantas foram as cartas
Que li e reli,
Minhas ou alheias...
Rasgos de cartas,
Cartas quase que incendiadas
Cartas mofadas, esquecidas,
Renascidas em minhas leituras
Pelo simples amor
Que eu sempre dediquei a elas...
Sem maldade, sem culpa que me acuse.
O primeiro beijo,
Aquela noite inesquecível
Aquela madrugada insuportável.
Ou não conte nada,
Escreva um infinito de pontinhos
Entre palavras desconexas.
Me conte daquele abraço que pediu e
Do beijo que aproveitou para roubar!
Do sono que perdeu.
Me fale dos Réveillons em que preferiu dormir
Do Natal que não viu passar...
Choramingue o amor não correspondido
Que, para não se esquecer de quem já lhe esqueceu
Diz que comprou aquele disco
Que toca o dia todo feito vício.
Me escreva a mais simples verdade
Use melodia...
Ou as maiores mentiras.
Mas, cartas.
Não me envie rosas
Principalmente as brancas
Não as quero mais.
Morta, largo mão de tolas queixas,
Dos sonhos escorridos pelos vácuos
Morta, apenas cartas...
Iniciem com "Querida",
Terminem com sua ida.
Iniciem com meu nome
Ou aquele que você sonhou me chamar
Ou aquele que você me chamou em sonhos...
Morta,
Estarei sem mãos,
Rosas, não as poderei pegar.
Morta,
Abrirei os olhos tão eternamente fechados
Para minhas cartas alcançar.

Estou lendo algumas coisas no Facebook, no Instagram e no WhatsApp que me levam a desejar às pessoas que escreveram e escrevem o meu, "Bem-vinda ou Bem-vindo ao mundo!".

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Cuida de você e dos seus. Não espere o seu político chorando no seu velório porque ele não se importa com você. E nem se preocupe com velório porque não vai ter.



Sou brasileira com orgulho, apesar de todas as infelicidades porque há coisas boas também, mas sair por aí dizendo, escrevendo e compartilhando que os brasileiros irão se livrar do vírus de forma melhor que o resto do mundo é pretensão demais, ilusionismo - algo meio que inerente a muitos.

Se o brasileiro é tão "phoda" assim, por que vive da forma que vive? Onde está esse sucesso todo que a maioria não vê?

Continuo é com pena dos pobres.



Fui ao supermercado hoje atrás de legumes e verduras porque o governo pode travar tudo. Que cenário desanimador! Todos de máscaras e muitos de luvas. Difícil falar, ouvir. A máscara incomoda muito. Não dá para ler direito.

Éramos a promessa da Terra, dentre animais, minerais e vegetais, mas não conseguimos. Fracassamos por pura vaidade.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Parou de chover e meu filho e eu levamos a nossa cachorra para passear. Ôh, noite explêndida! Noite de bruxos. Totalmente solitários ganhamos as ruas desertas, molhadas e escuras. Passou somente um carro por nós. Amo lugares sem gente. Eu quase não gosto de gente. As copas das árvores balançavam sem cadência, ventava muito. No ar, cheiro de coisas puras. Mas voltamos rapidamente. Em frente ao pequeno parque do bairro tinha um coiote. Era gordo e por isso achei estranho, mas podia ser uma fêmea prenha. Quando meu filho disse, tem um cachorro ali, não, deve ser coiote, eu não hesitei. O bicho estava calmo, parado, com comportamento diferente dos cachorros do bairro e não existe animal sem dono onde moro. Voltamos, apressados. Eles costumam andar em bandos e é sempre um único que atrai a sua atenção para os outros atacarem pelos lados. E o parque termina na freeway. Voltamos, mas voltei feliz porque ventava, porque minha cachorra até me puxava de volta, porque era solitário e livre, e eu pensei no meu pai, eu havia pensado nele quando iniciamos a caminhada porque ele amava a liberdade das ruas noturnas... como a gente pode ser tão dúbio! Em um espaço de sessenta minutos, a gente é triste, feliz, saudoso, forte e medroso.

Macarrão com abobrinhas Em menos de 20 minutos.

Hoje, eu fiquei com preguiça. Prato descomplicado e rápido: macarrão com abobrinhas amarelas, parmesão ralado e alecrim. 
As abobrinhas são passadas rapidamente na frigideira com azeite e sal.

Notas:
Pode fazer com abobrinhas verdes também.
Fiz a receita com as duas últimas abobrinhas da geladeira da minha casa, mas o ideal é ter mais legume que massa.
Usei azeite, mas pode ser manteiga ou óleo de cozinha, de canola, por exemplo.
Usei alecrim, mas você usa o que mais gostar ou tem em casa, como por exemplo, tomilho, salsinha, cebolinha.
Não coloque água na frigideira em momento algum.
Depende do fogo e da panela, mas o tempo de cozimento do macarrão é de mais ou menos oito minutos e da abobrinha, cinco minutos.


segunda-feira, 6 de abril de 2020


... os dias seguem quase iguais, e eu já confundo se falei algo na semana passada ou na anterior a ela, as minhas mãos estão machucadas e trincando de tanto lavar, não apenas pelo medo de contrair o vírus como também porque não consigo ficar à toa vendo o tempo passar, não assisto tv, não estou a fim de filmes e nem de livros, estar em movimento físico é o que me faz bem e eu então limpo, cuido, planto, faxino, lavo, cozinho, vou mil vezes ao quintal, onde sempre tem algo para fazer, mais mil à garagem. A minha cachorra é filhote e o tempo decidiu contrariar todas as outras primaveras, chove, choveu a noite toda e vai chover mais ainda, e isso significa limpar o que ela suja, ela, que tomou banho ontem, em casa, como sempre, e hoje se jogou em poças de lama no quintal... Alguma coisa ou todas elas me cutucam para eu surtar, mas eu não surtarei. Os dias seguem quase iguais porque a vida se impõe com seus problemas e nós quatro, aqui em casa, não podemos fazer o isolamento por completo. Já nem me importo. Reina em mim um certo descuido, ordem antiga que me diz para chutar o pau da barraca, sim, deixar as peças do dominó caírem livremente pelo tabuleiro, mas eu ainda seguro algumas nas mãos.