EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Quando eu era Xovem (meu sobrinho fala assim), bastava arrumar a malinha e sair. Agora que não sou mais Xovem, tenho que arrumar a malinha e toda uma estrutura de governo, pareço um país.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Eu gosto de pessoas gentis. Um amigo ex-virtual foi à missa de sétimo dia da minha irmã em Belo Horizonte. Minhas amigas de infância também, embora não nos encontrássemos há décadas. Um amigo virtual recente me enviou de presente um livro que eu queria ler. A minha prima na Califórnia me presenteou com vários vasos de plantas e outras coisinhas mais. Fui convidada a participar de um grupo fechado de meditação e esse grupo me conheceu outro dia. Tem amiga virtual e não virtual (e isso é apenas conceito) que me enviam mensagens para dar notícias e também perguntar por mim. Eu gosto de pessoas gentis e procuro ser assim também, embora (viciei-me nessa palavra) não esteja sendo ou não esteja apenas, ou não estou sendo apenas, ou não estou aqui e nem aí. 

Mas é isso. Contemplo o meu umbigo como se nunca antes... contemplo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Tenho medo de pedir coisas porque sei que a realização dos desejos traz junto coisas ruins. 

Você não vai estar aí quando eu chegar. Bom, pelo menos, os meninos ficaram felizes com a viagem do A. Até comemoraram.

Não vai ter você e Didith no aeroporto. Ela, muito cheirosa e vc muito elegante. 😔

domingo, 12 de dezembro de 2021

Cada movimento meu será um tempo mais de vida para a minha mãe. Era início de ano quanto eu a vi em sonho, morta. Jamais poderíamos adivinhar a desgraça que nos atingiria, mas ainda há tempo, e, igual ao sonho, eu insisto e grito para que ela viva. Nunca pensei muito sobre a minha relação com a minha mãe, apenas a vivi, apenas vivo.
To indo para o Brasil. Cessa tudo quanto a musa antiga canta quando um poder mais alto se alevanta..

sábado, 11 de dezembro de 2021

ela é constante recordação

Faz muito tempo. A gente dividia um quarto, morávamos com nossos pais. Aos sábados, ela levava um radinho para a cama, ligava numa estação romântica, as melhores músicas daquele ano para ouvir e sonhar. Perguntava se me incomodava. Não,  não me incomoda, pelo contrário, gosto, deixa tocar. E a madrugada nos engolia em profundo silêncio de nós mesmas, o único som era o do rádio... BH fm... a gente ouvia até o meio da madrugada. A gente então dormia.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

"It's a feeling like I'm living inside a long, long line of Wednesday afternoons in February. They stretch out forever-all those Wednesday afternoons, all the same. No leaves, no flowers, no colors, just gray. I look down that line of days and it's... a void"

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Vi Didith em sonho, hoje. Entendi agora que às vezes sonho com ela, mas com o cabelo em rabo de cavalo ou solto como era e isso são minhas memórias. Quando ela aparece com o cabelo mais curto é diferente e assim foi naquela madrugada no CTI e no sonho com a roupa rosa. Terceiro sonho: mãe apareceu porque eu chamei e ela vinha atrás dela. Estava com uma blusa preto brilhante de pelúcia e por cima uma camisa de botões, aberta, estampada de flores vermelhas, rosas, alaranjadas, azuis... estava de calça comprida, não lembro a cor.

sábado, 4 de dezembro de 2021

À noite, no meu quintal, fiquei mexendo nas roseiras e pensando, Didith, onde você está tem rosas, tem flores?
No outro dia, mãe sonhou com ela. Ela dizia: onde estou tem flores.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Dezembro


Ontem, eu comecei um texto mentalmente, mas hoje eu não o tenho mais. Ontem, eu tinha um país, uma família e amigos, mas hoje eu não os tenho mais. Os amigos não eram amigos, o pai e a irmã se foram, e um irmão que dele ficou apenas a sua carcaça. O país levou um tabefe de outro, caiu no chão e grita silenciosamente por amor eterno. 
Ontem, eu quis falar sobre dezembro de 2021, mas as obrigações e as distrações levaram-me para longe, ou foi o mal físico desconhecido que me tombou em pura covardia e na saída se intitulou luto? Não sei. Esse ano foi o mais longo da minha vida, o mais desfocado, alguém biruta me mirava por binóculos e ria.
Percebo que não sei falar do que vivi  e nem sei se vivi. Talvez tenha tudo sido um lapso entre ontem e agora e eu perdida e desequilibrada tento manter ritmo num corpo já se desestruturando. No fundo, a gente deve ser só alma e nem sabe.
Ele jogava-a na cara que teria por obrigação cuidar dela, mas ela morreu. Ela morreu e ele a devia muito dinheiro. Ela nunca realmente precisou dele, ele, sim, dela.

Verdade eterna.