EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sexta-feira, 26 de outubro de 2018


Passei por enorme decepção, caí - eta, tombão! -, mas estou novamente em pé, na guarda, na trilha, satisfeita, feliz e orgulhosa de mim. Erro bem menos que meus “amigos “...

Já não me caibo de tanta euforia! ☺️


Se eu morrer amanhã, saiba, eu fui feliz.



Prefiro o exagero à escassez, então, por isso, não estou me importando com os excessos políticos dos meus amigos, conhecidos e colegas. E, também, parei de brincar de ser Deus há muito tempo. Ser Deus é um exagero insuportável de viver.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018


Não tenho necessidade de afirmação. Não preciso conquistar para descartar. Não preciso repetir frases prontas para convencer-me. Não preciso botar viseiras para fingir que minha trajetória é linda.

Outubro, ontem foi ótimo.  

terça-feira, 23 de outubro de 2018

De certo, temos o nascimento e a morte. Entre os dois, temos as dívidas contraídas.



Eu não gosto de ser descartada, se for, que seja com educação. Não admito que pessoas entrem na minha vida sem gestos de boa educação e caráter, então, quero o mesmo quando elas se forem. Mas, a gente comete erros nesta vida e sofre pelos erros alheios, isso é fato, e é inevitável. O que pensamos ser brilho é apenas lusco-fusco. Daí, sofremos com o descaso do outro. Ah, estou assim, a sofrer! Vai passar, é claro! Mas, dói.

Reencontrei um colega de sala do passado. Ele se aproximou, fez festa para mim, conquistou-me - algo que ele nunca conseguiu fazer em anos de colégios, aproximou-se, falou, segredou, se abriu... como nunca havia feito antes. Pensei que esta vida tinha encanto, sim! O tempo não havia nos tornado monstros! Não éramos estranhos, éramos colegas, eternos. Desencantada no meu mundo de amizades, eu o recebi com meus olhos em chama, reaprendi a sorrir de coisa boba, voltei a acreditar na singeleza das doações. Eram tantas! Poemas, palavras, conselhos... atenção. 

Um dia, do nada, ele se foi e bloqueou-me em todas as redes sociais, sem que tenha havido um desentendimento. 

Ó, Deus! Sopra um vento bom para mim, pois eu me sinto nas chamas da ira! 

Ó, Deus! Quem suporta ser descartado? Quem suporta falta de consideração? Quem gosta de ser ludibriado?

Talvez fosse pouco, mas eu sou de sonhos pequenos... as minhas grandes realizações não nasceram de sonhos, nasceram do meu passo no caminho. Só meus sonhos são pequenos. Mas são meus.

E eu não gosto de ser descartada... 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018



Dizem que não devemos esperar nada de ninguém porque podemos nos decepcionar. Como é viver assim? Como é viver com esse controle, com essa evitação? Como é que eu faço para evitar me decepcionar, quebrar a cara? 

Seria não me doar ou doar-me parcialmente? Seria mentir pouco ou muito? Seria atrair para depois matar o sentimento na raiz? Seria negar-me? Como se faz isso? 

Eu já tenho muitas regras a seguir, teria eu que estipular novas ao contactar alguém? 

Quero morrer decepcionada, Deus, deixa-me seguir assim, como estou hoje, profundamente decepcionada, chocada e triste com quem eu jamais pensei em decepcionar-me.

Prefiro essa tristeza a morrer seca e dura; robótica.

Graças a Deus não sofro de idolatria.


sábado, 20 de outubro de 2018


Muitas palavras, muito blá-blá-blá. Menos generosidades. Menos delicadeza. 
As pessoas podem ser rudes falando docemente.
Muito blá-blá-blá. Bastante sofrimento.
As pessoas ferem ao tampar suas feridas. 

E a gente que se dane.

A nova casa tem grilos. Ouço-os. As noites já estão frias, já é outono, já é outubro. Esse ano poderia acabar agora, nesses dias calmos, cheirando a jasmim. Há pés de jasmim na vizinhança. Todo o bairro acolhe-me, e me conduz à cidade do meu pai. Não vivo de recordações, essas apenas chegam a mim de forma doce, tranquila, sem sobressaltos.

Vivo meu presente hoje. Posso respirá-lo. Esse ano foi de atitudes rápidas, ano de determinação, muitas idas e vindas, muito cansaço, mas ano em que me mantive leve e elegante.

Agora é tempo de desnudar os pés, rir dos enganos, disfarçar as decepções, respirar os ares do meu novo lar! Enfim, após cinco meses, posso prestar atenção no som que os grilos fazem.

Meu pai sempre dizia para repararmos os sons dos pássaros, dos sapos, o balanço das folhas das árvores, as estrelas no céu... Para ele, era forma de relaxamento, e é, hoje percebo isso com clareza.

As coisas ruins que tentaram criar corpo perderam-se no caminho. Sou a guardiã dos meus sonhos, dos meus passos e decido ouvir os sons da paz. A paz corre atrás de mim, deseja-me, busca-me...

Um tempo florido apresenta-se. Sou toda sons!

quinta-feira, 18 de outubro de 2018


Maturidade emocional, poucas pessoas têm. Dinheiro não a compra, nem sucesso, nem a mais perfeita das famílias. Maturidade emocional só se ganha de um jeito: vivendo intensamente e de verdade.

O carro tem que correr quase solto...

quarta-feira, 17 de outubro de 2018


O que há de mais charmoso na Califórnia são as pessoas em suas bicicletas. Chapéus, flores na cestinha, cachecóis, lenços ao vento, roupas coloridas, displicência nas avenidas, o mundo é delas!

Eu as vejo e sorrio feliz. Ontem, mandaram-me ser feliz. Eu sou, eu não estou, mas ser feliz e estar feliz não seria redundância. Pareço triste porque sou só e escrevo... pareço. 

Desculpe-me se você não entende que eu só quero que você seja feliz porque você faz esforço... felicidade não decorre de esforço, é sentimento. Não é o troféu que você carrega e ostenta. É o que você sente por nada.

Você consegue ser feliz por nada?

Para viver um grande amor é preciso ser honesto consigo mesmo e com o outro. Já nem sei mais se vivi um grande amor. O que sei mesmo é que nos finais das tardes eu penso fortemente que já cuidei de jardins e novamente cuido, trato, aguo... tenho medo de repetir aquela história; tenho medo de seguir o mesmo curso. 

O fogo não é para mim, ó Pai!

A minha filha disse-me que não sou ninguém e ninguém sou eu. 

Conselho a quem vive no obscuro: mantenha-se longe de mim porque sou transparente e comigo tudo é às claras.

Novamente com dor de garganta. Novamente deixei de falar algo importante, mas eu não tenho ideia do que seja, se soubesse gritaria. Nenhum segredo é melhor que essa ardência na garganta...

Novamente, fui mal interpretada. 
Novamente, deixaram-me falando sozinha.
Novamente, usaram a minha preciosa energia e se foram, ingratos.

Seduzo os homens sem a intenção, embora eu sinta prazer ao vê-los seduzidos. Se ficaram seduzidos, e isso for um problema, não diz respeito a mim; é problema deles. Eles se aproximam babando e eu é que sou a culpada pela baba?

Outro dia, eu li que foi Adão quem pegou a maçã da árvore e mentiu ter sido a Eva. Concordo.

Outubro que se vai, lento, lento... igual ao meu coração batendo hoje.


terça-feira, 16 de outubro de 2018


Tenho um sentimento de que quem insiste em convencer na realidade não crê no que demonstra acreditar, por isso repete, repete, que nem fazemos um dia antes da prova.

Não, o tempo não cura tudo
Isto é vã ilusão 
Há coisas para as quais
Nem todas as preces
Recitadas em bocas de barro 
Nem todos os joelhos
Dobrados, calejados
Trarão absolvição

[Andrea de Godoy Neto]

domingo, 14 de outubro de 2018


A pessoa vai saindo das minhas veias, do meu corpo, vai sendo expurgada, cuspida, desengasgada. O movimento dos dedos no teclado é o mesmo que o do chicote do padre no demônio assanhado atrás das minhas saias.

Vou escrevendo e vou expurgando. Amanhã, renascida estarei.



Ele tinha algo de chato. Ele acreditava que excesso de formalismo fosse coisa adequada. Parece que ninguém disse a ele que isso é coisa chata, principalmente entre velhos conhecidos. Daí, por eu nunca ter dito para ele parar com aquela chatice, eu tratei de arregalar bem os olhos a fim de sugar daquele homem suas melhores qualidades e energias.

Sim, um cara chato, com lindas qualidades.

Eu só quis ser legal, apresentar um mundo sem chatos, mas ele depois de dizer sim disse não e bloqueou nossos contatos através de uma pasta chata, amarfanhada de dinheiro e sucesso, bem passadas, a pasta, as notas, assim de acordo com os bons costumes e as tradições constantemente achatadas na porta de frente da casa.

Eu, por pouco, não fico chata igual.

Por várias vezes, recebi cartas pelos Correios com cheques em valores abaixo de cinquenta centavos (fifty cents). Eram devoluções de quantias pagas a mais. A folha de cheque, o selo e o envelope custam bem mais caro que esses trocados, mas o certo é o certo sem discussão.

Ser honesto não passa de obrigação; falam como se fosse uma dádiva dos céus de qualidade santa.


Meu voto é um presente meu; meu, daqui de tão longe e feliz.



Nos últimos anos, eu fui livrando-me de pessoas perfeitas... Livrei-me de irmão perfeito, prima perfeita, amigos e homens perfeitos; casais perfeitos, professores perfeitos... fui livrando-me.
Mas, como eles caem no meu terreno! Logo, eu, tão errada e imperfeita! Tenho um blog onde me assumo ex-fóbica, não publico fotos falsas de casal lindo nos perfis das redes sociais, dou ouvidos ao charme masculino, sim, dou, e isso me faz rir! Sou a ira, o mau gosto, a sem paciência... fujo da pose de serena como o capeta de Deus. Fujo de conceitos, de codinomes, de palavras de amor eterno. Odeio amiga de infância! Detesto beijos no coração!

Tão errada e tão cercada de perfeitos!

Nos últimos anos, venho descobrindo que ser igual a mim é necessidade nesse mundo lindo por fora e fedido por dentro.

Amém! Que a imperfeição seja meu lume e meu melhor aroma!

- Mãe, moleques são apenas os meninos?
- Não, minha filha, os moleques envelhecem. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Já não me importa tudo


Já não me importa ouvir 'nãos'e vivenciar omissões, dirigir qualquer carro, empacotar minhas coisas, doar grande parte, desfazer-me. Já não me importa não entender o que falam, o que pensam, nem as minhas cicatrizes pelo corpo - as da alma estão transparentes! 

Posso ir a qualquer lugar, mesmo que eu esteja levemente tonta, levemente cansada, já posso usar qualquer banheiro público, e conversar até com quem só fala chinês. Aprendi isso quando aprendi que tenho três bolinhas vermelhas caminhando na mente, e, a cada hora, cada olhada, é a vez de uma, e não das três ao mesmo tempo.

Já não me importa o assédio amoroso, pesco dele o que irá me trazer satisfação e nada mais.

Já não me importa não gostarem de mim, não me darem atenção, eu sou uma verdadeira festa; autônoma.

Já não me importa onde moro, o que ganho, pois, eu já perdi muito e tive muito medo, agora, vivo em cima deste ser que me criei. 

Já não me importa qualquer julgamento seu; eu já me julguei e me absolvi faz tempo...


e até isso não tem importância.



Outubro, 11

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Ausência


Ausência

“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.”

Carlos Drummond de Andrade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018


As casas não têm muros, não têm portões. 
Os jardins não são pisados. 
Nas varandas há sofás, almofadas, belos vasos com plantas. 
Algumas garagens ficam abertas, algumas portas também. 
É tudo silêncio. 
Paz de monastério. 
Convívio harmonioso: pássaros, carros, gatos, cães e gente.
É outono.
E no inverno, a gente é mais feliz ainda.

Eu passaria por essa rua por esse bairro por essa noite por todo o resto dos meus dias...



Não faço falta, sou só, mas meu cabelo balança ao vento, mechas prateadas na minha cara enquanto dirijo. Janelas do carro abertas. Às segundas e terças-feiras, pego a pista inúmeras vezes e para minha salvação, abstraio... Para sermos felizes basta nos desconcentrar. Desconcentra-se de gente, de vício, de comida, de mania... abstraia. Meu cabelo voa na minha cara, vejo o branco alçando seus voos e junto os pensamentos insistentes com o cansaço da estrada. 

Para de prestar atenção no caminho e ele se fará melhor.

Não desperta em mim o que você não pode sustentar.



Esta constante vontade de isolamento... não sou bipolar e não estou com depressão, é somente vontade de estar só, adoro estar comigo mesma desde sempre, desde criança, e isso nunca foi ruim. Não estendo conversa ao telefone, não quero saber da correspondência, adio todos os compromissos. Cansei de resolver problemas. Essa é a época do meu retiro e isso é ótimo. Se precisar, funcionarei. Sou gato, movo-me quando necessário, mas agora não vejo importância em nada. Adiando as importâncias. Nem das minhas carências quero saber. Sonhei algumas coisas esta noite, não me lembro bem, algo com fechar portas e janelas. Tempo de reclusão.

Não se aproxime, por favor, se não for para compartilhar silêncios. 
Não desperta em mim o que você não pode sustentar.
Não me aborreça com bobeiras, só se for para eu rir.

Outubro, 8


domingo, 7 de outubro de 2018



Penso nela desde então.

Revirava a lixeira em frente ao prédio do consulado brasileiro em Los Angeles. Eu havia acabado de votar para presidente.

Sentada em um banco de pedra, observava-a revirar a lixeira, parecia atrás de água e cigarros. Lançava tudo longe, afoita, falando, com certeza, bastante drogada. Branca, quase loira, quase bonita, pernas sujas de algo preto parecendo carvão. Vestia shorts, camiseta, um agasalho claro, carregava alguns livros e uma mochila nas costas. Tinha nos cabelos algumas marias-chiquinhas.

Um homem a repreendeu.

Esquivou-se, abaixou a cabeça e se colocou a catar o lixo espalhado. Depois, veio a mim. Chegou a um palmo de distância. Falava coisas em tom bem baixo, de forma calma, cadenciada, catou uma guimba de cigarro no chão, mexeu em alguma coisa no banco, eu podia sentir o seu fedor. Não mexi um músculo. À minha direita estava a minha filha, onze anos, observando-a. E a mim, com certeza.

Quinze ou trinta minutos depois, ela entrou na lanchonete onde eu estava. Veio em minha direção, bem determinada, sua barriga um pouco para fora da camiseta, tremia toda, balançava, chacoalhava. Chegou muito próximo a mim, pegou um saco de batatas e fugiu. Com certeza, não tem o hábito de furtar. Olhou para trás enquanto corria, apavorada, olhos arregalados. Olhamo-nos. Eu continuava sem mexer um músculo. Eu também tinha muita coisa dentro de mim, chacoalhando.

Hoje mais cedo.

Outubro, 7

Sinto-me chacoalhada. Nem sei se isso é bom ou ruim. Não sei se isso significa muito na minha história. Só sei que fui chacoalhada, mexida, revirada, batida, espremida: roupa na máquina de lavar, nem sempre com enxague. Essa coisa de ser forte e seguir em frente pode cansar. Dizem que o importante é ser feliz, focar no que importa, engolir os sapos por bens maiores... 

Perdi as minhas referências. Já nem sei mais o que é bom ou ruim. Sigo sorrindo, fingindo que não vejo, respirando...

Talvez, ou muito provavelmente, eu não queira nada disso!

Mas já nem sei mais o que importa. 

Seriam teus olhos apaixonados? Seriam teus olhos medrosos, secretos, fugitivos? Seriam os meus assustados?

Perdi minhas certezas. Já nem sei mais se as quero.

É quase Natal, é quase Ano Novo e eu queria que tudo parasse para eu reaprender a ser eu.



Outubro, 2018 que se vai... e eu, chacoalhada, abobalhada numa esquina que saiu do mapa.

sábado, 6 de outubro de 2018


Eu somente quis fazer o silêncio falar. Ele falou. Agora, sou abstrato silêncio - dentro mora vozerio.

Outubro, 6

quinta-feira, 4 de outubro de 2018


Suzana Guimarães shared a memory.
Just now
Encantada. Encantei-me. Virei um jardim de flores.
Poderíamos voltar a nos cumprimentar assim, "Estou encantada!".

quarta-feira, 3 de outubro de 2018


Posso ter as janelas do meu carro abertas. É outono. Sinto cansaço. Todas as segundas e quartas-feiras  tornaram-se quase exaustivas. Houve um tempo que eu tinha mais tempo. Agora tenho pedaços de tempo...

Continuo com o dom da distração, assim eu me salvo diariamente, principalmente nesses dias de asfalto.

Pelo menos, posso ter as janelas abertas...

É prazeroso sentir meus cabelos em revoada.

O nome disso é liberdade.

Outubro, 3