EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


terça-feira, 29 de setembro de 2020

O que eu fiz nos últimos vinte anos.


A Helena há três anos se perguntou o que fez nos últimos vinte anos. Hoje, faz sete anos que eu peguei um avião às pressas para tentar me despedir pela última vez do meu pai que se foi horas antes de eu chegar e muito eu chorei. Tenho saudade de quando eu chorava... Resolvi então, hoje, pensar, o que fiz nos últimos vinte anos? 


Perdi meu pai há sete anos. 
Deixei o Brasil há quase doze anos.
Mudei de casa sete vezes, sendo duas vezes no Brasil e cinco nos Estados Unidos.
Tive dois abortos involuntários.
Ganhei dois filhos, um casal.
Passei por sete cirurgias.
Fui sete anos ao Brasil, sendo que em dois anos, fui duas vezes, para me despedir do meu pai e em um Natal.
Escrevi um livro há seis anos e em quatro blogs nos últimos dez anos.
Visitei por duas vezes, sete estados americanos de uma vez só.
Conheci três países.


Estou aqui, sentada, pensando no que eu mais fiz nos últimos vinte anos e percebo que o número sete foi reincidente e eu sei desse número, desde o dia vinte e cinco (soma sete) do mês sete, quando nasci, às sete da manhã e alguns minutos... e quase morri por negligência humana, mas meu pai me salvou.


Meus olhos se molham, eu poderia deixar-me chorar, mas este pequeno inventário que fiz, que não diz quase nada, que resume o que me convém neste exato momento, sinaliza que há vida além, ainda, e muita. Não vou chorar, não choro mesmo, a casca interna endureceu faz anos, talvez, vinte. Vou somar mais sete vezes vida!

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Falecimento

 

O primo do meu marido morreu por coronavírus. Mais novo que nós dois, passou mal, foi para o hospital e morreu.


Alguns amigos meus dizem, "Se eu morrer, morri", em total egoísmo.
Eles morrerem não é o problema para mim. Estou irada com essa gente. Se não têm nada a perder, esses infelizes, eu tenho. Trata-se de saúde pública. Pouco me importo com os umbigos deles. Que morram!


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 

Viajei, aproveitei bastante, mas usei máscara o tempo todo, limpei os quartos dos hotéis com álcool antes de entrar e não me meti em aglomerações, evitei conscientemente. Também não abracei ninguém em respeito a mim, ao meu marido e principalmente aos meus filhos, e, por fim, mas não menos importante, em respeito aos outros.

Acabo de ler que a Luana Piovani visitou quatro países e se comportou como se não houvesse amanhã. Agora está no quarto da casa, sem poder contactar os três filhos, os pais e a amiga que mora com ela. O que posso dizer e digo é bem feito!

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Sobre casamento



Sobre casamento:

Eu não falava e muito menos pensava em me casar, embora gostasse de estar envolvida amorosamente, até hoje, inclusive. Aconteceu! E eu quis tudo a que tinha direito, igreja, festa, vestido e buquê. 

Não existe casamento sem problemas, quando dizem isso é puro fingimento ou hipocrisia, pior ainda quando é tentativa de enganar a si mesmo. 

Nos vinte e quatro anos de casamento, obviamente houve muitas brigas e muitas reconciliações que foram sempre uma continuação do dia, nunca houve sentar para discutir a relação. Era mais ou menos assim, eu armava a confusão e R ficava calado. Imagina dois leoninos juntos sacudindo a juba? Não seria possível. 
O ascendente dele em Gêmeos fingia não prestar muita atenção em meu ascendente em Leão.

O importante é que nós continuamos. Aí está a parte principal! Os acessórios foram dispensados ao longo do caminho. Nós nos temos, um ao outro, sempre, principalmente quando as portas se fecham ou as pessoas aprontam conosco. Somos orgazinados amorosamente, somos sinceros, a gente nunca teve pessoas entre nós ou interesses materiais. De uma coisa tenho certeza, não é fácil quando há somente amor e carinho envolvidos e deve ser tremendamente horrível se for de outro jeito.

Tenho consciência onde perco bastante e onde ganho e com R, nós ganhamos.

A vida me mostrou que algo ser difícil não significa impossível. Se a pessoa está disponível, coisas acontecerão, boas ou ruins, mas cabe a nós escolher entre bom e ruim, somente a nós.

Se eu recomendo? Sim! Casa, casa, tenha coragem! Vista a melhor roupa ou manda fazer, compra bebidinhas e comidinhas, chama a família, os amigos, os colegas ou casa com seu amor sozinhos, no mato. Eu não me casaria novamente nesta vida, só se fosse novamente com R, porque eu fiz entornar a xícara e bebi em grandes goles e me dou por satisfeita, mas na próxima vida, lá estarei eu casando de novo...

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Sobre ontem


Excetuando dois ou três movimentos ligeiros, tirei o dia para fazer nada. Estava com saudade de fazer nada, de deixar rolar, de não me importar, de procrastinar sem culpa.

 




Sou a da jarra e tenho pena dos do conta-gotas. Nem sei ser conta-gotas... prefiro pular do cem para o zero. Tenho horror de gente meia bomba, meia vida... e mais ainda de quem tenta me conduzir nas dosagens. Retiro, sim, imediatamente da minha vida.


Às vezes, o processo de retirada em mim é lento, mas a porta eu abro imediatamente e aponto a rua.



Imagem encontrada em rede social.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020


Se não bastasse a pandemia, os incêndios. O prefeito de Long Beach aconselhou-nos a evitar o lado de fora porque o ar está ruim para a saúde.


Long Beach está com cor de catástrofe.



Tom sépia triste.


quarta-feira, 2 de setembro de 2020



Poucas pessoas sustentam o meu olhar por mais de alguns segundos, a minha cachorra é uma delas. Aqueles olhos amarelos aceitam a profundeza dos meus porque eles têm o mesmo.



terça-feira, 1 de setembro de 2020



Sonhei que eu caminhava a pé, acompanhada de cerca de cinquenta pessoas em uma estrada larga, de chão firme e sinuosa, num dia claro, e essa estrada não tinha fim. Eu vestia meu costumeiro vestido claro de saia godê de todos os meus sonhos e ninguém carregava malas ou bolsas. De repente, sem ninguém ter me chamado ou sem que algo tenha acontecido, decidi voltar. Em outra estrada, estavam em um ônibus, com outras pessoas, meu marido e meus filhos. A minha filha dormia. Falei para eles que a estrada agora estaria segura, não seríamos mais vistos e que poderíamos continuar.