EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quinta-feira, 22 de junho de 2017


Tempo do ócio. É verão na América do Norte. É calmo outono em mim. 

Férias❣

Aos meus queridos leitores espalhados por este mundão de Deus, minha saudade antecipada de vê-los repetidamente nas estatísticas do blogger.com... eu nem sabia que Macedônia era um país (para mim, era uma região do passado), tampouco havia ouvido falar em Mayotte. 

Felicidades, sucesso... são meus votos a todos!

Suzana

terça-feira, 20 de junho de 2017

A lanterna japonesa balança ao vento, altiva e leve, tremula. Anoitece. São oito horas da noite e parece dia, mas tudo é quietude, inclusive eu. Criei rotina. Que me valha por noventa dias! Tudo é som e sensação. Descobri, há corujas! Três altíssimos pinheiros protegem-me e me olham, fazem perguntas, fazem graça... vejo rostos, figuras, imagens. Esquilos passam e me olham, indiferentes. Ah, descubro prazer no balanço da rede e na indiferença humana. A solidão ensinou-me a escolher. Eu escolho aqui.

segunda-feira, 19 de junho de 2017


A gente sente, senta e escreve; depois, passa; graças a Deus, eu não poderia sentir o tempo todo. Daí, penso em frivolidades e até as sinto. Sentir é meio que mania. Se não sentir, caço um jeito de recomeçar...
Image may contain: one or more people, outdoor and closeup
(foto: arquivo pessoal de scg)


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domingo, 18 de junho de 2017

Estou a me rasgar. Como dói!



Ele estava arrumando o quarto dele. Chegou perto de mim e disse, ao entregar-me três pequenos álbuns de fotografias, "Duas delas talvez te farão sofrer."

​Cortou-me uma faca. Fotos de dez anos atrás. Minha última casa no Brasil, eu, grávida, ele, aos sete e oito anos de idade... 

Então, mãe, eu posso lhe dizer, agora, que eu estava errada ao lhe dizer que cinco anos seriam o suficiente para eu me curar de todas aquelas tristezas e de todo esforço empreendido... você disse, "Dez anos!". Possivelmente, pelo que eu vi em mim mesma, nas fotografias, não há cura, há somente um caminho a seguir, a continuação.

Com clareza, vejo o quanto eu era doce. Bonita! Bronzeada, cabelo bem curto, escuro, sorriso meigo; um barrigão enorme... sete, nove meses de gravidez.

Explica tudo, mãe, fotografias explicam tudo, relembrar.

Explica eu não aceitar certas fraquezas, posicionamentos ambíguos, leseira, ânimo frouxo. Não posso mesmo com parvoíces, que me desculpem os mais fracos.

Ele me disse, "Não foram duas, né, mãe? Foram vinte dezenas".

Mãe, você se lembra das cortinas das salas? Transparentes, claras, claríssimas, o sol batia nelas a tarde toda... e o vento. Elas voavam para fora das janelas, satisfeitas.


Junho, 18​

"Quem quer lavar roupa, secar e dobrar?"
"Quem quer limpar a cozinha?"

As frases que fazem meus filhos me deixarem em paz.
A minha próxima crônica é sobre copos, o pouco que já é o bastante e rugas.

Domingo, dia dos Pais nos Estados Unidos. Eu não tenho pai. Fato.


Junho, 18
Às vezes, diários fazem bem.

sábado, 17 de junho de 2017

A zona da caixa


Aprendendo, aos 50 anos e 3/4, a lidar com as minhas neuroses, inclusive com as novas e as desconhecidas até então. Mudei-me há um mês e dez dias e ainda há caixas em todos os cômodos, que parecem se multiplicar nas noites...

Incomoda, não gosto. Os americanos me dizem, "Relax". Eu não sei relaxar quando eu quero. Consigo 'meditar', que é quando se para tudo, em qualquer lugar e tempo, mas nunca quando eu quero. Certas coisas acontecem em mim naturalmente e eu deixo porque já me bastam aquelas contra as quais devo lutar constantemente.

Ler "The Box zone" todos os dias, a marca delas, incomoda-me. Tenho medo de deixá-las como algo natural. Tenho medo de terminar no Natal.

Mas, a minha vida não se resume a mim mesma, um ser individual, contudo, e não se resumem meus dias em arrumar uma casa após mudança. Tenho cara de desocupada porque sou feliz. 

Aprendendo aos 50 anos e 3/4 a lidar com tudo aquilo que não se pode lutar contra. Para que lutar se posso ir devagar, calmamente, parando de tempos em tempos, deixando de fazer, deixando de ser... esgotou-me ser eu mesma. Esgotou-me tentar o certo, o melhor. Isso tudo foi durante anos conviver com o mais ou menos. Em todas aquelas tentativas eu acabava aceitando, de uma forma ou de outra, o mais ou menos que me ofertavam.

As caixas estão me ensinando... estou aprendendo a olhar com olhar desviado...



Junho, 17 (em meu perfeccionismo, eu teria que escrever 18, ou, então, "há um mês e nove dias").




quinta-feira, 15 de junho de 2017



"Ri melhor quem ri por último". Eu sempre olhei de soslaio para esse ditado porque eu tinha dúvidas a respeito. Mas as redes sociais são xereteiras e eu mais ainda e por fim, cedo, sim, rendo-me ao ditado, realmente quem ri por último, ri melhor.

Então, evita, ou melhor, não apronta com pessoa alguma, não se sinta melhor, maior, mais belo, mais competente, mais ousado e capaz; não subestima ninguém, não se sinta no direito de 'fazer hora com a cara do outro, enrolar'.

Principalmente, não se esqueça que haverá amanhãs enquanto você viver e a você não é dada a oportunidade de saber como eles serão.


(É claro que o acima escrito não combina com a grande maioria, sempre superior a essas pequenezas, mas combina comigo, baixinha mesmo, 5'2'' de tamanho.)



Junho, 15 - ano do galo, que estufou o peito e seguiu.

quarta-feira, 14 de junho de 2017


Meu tio morreu de amor. Eu não quero morrer de amor, mas quero morrer amando. Amo mais o amor que o amado. Amados são vários, passam. O amor é que me faz leve, tranquila ou sobressaltada. É ele que justifica eu tão abstraída,  parada num trânsito caótico, esperando ser atendida pelo médico, numa viagem longa que não termina nunca. O amor me faz permanecer na fila de um banco o tempo que for, sem nem perceber. É ele que me distrai quando estou no supermercado, fazendo compras, lavando o carro, limpando a casa. É ele que me faz aturar aquela festa chata, aquela gente chata. O amor tira os meus pés do chão. Há quem tenha medo dele, eu não. Nem um pouco. Há quem diga que amar faz ferida, deixa cicatriz, mágoas, mágoas... pode até ser. Mas há tanta coisa nesta vida que faz o mesmo em nós e nem por isso ficamos nos esquivando delas, pois se esquivar do amor é dar as costas para a existência.(...)


Trecho da crônica "Meu tio morreu de amor" de Suzana Guimarães. 

Pareço flutuar nos dias mais comuns da minha vida. Pareço caminhar na mentira, tamanha é a beleza. Quisera eu ter partido antes. Deveria ter ido, deveria ter me concentrado mais.

Eu passava na porta do jardim todos os dias, mas não adianta o jardim e nem a porta quando estamos cansados e transtornados. Transtornos nos tiram a visão que já é pouca...

Mas o jardim esperou por mim. Claro, não arredou um pé, jardins nos fazem flutuar, mas eles não caminham. Eu tive que fazer o que cabia a mim, andar.​







Inventaram uma Suzana e acreditaram no feitio arranjado. Não importa o que a real fala, escreve e demonstra em atos e omissões, em silêncio ou ira. A real pode até gravar o passado e repassá-lo, comentando minuciosamente todos os movimentos deste filme de terceira que decidiram criar para ela. A real pode beijar, não beijar, atuar ou não, repito. O que importa é o filminho que não pode parar.

Oras, a minha querida R. diria: "Vá amolar boi!".



Quando o presente vem de Deus, ele é impermeabilizado.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Eu gosto muito de morangos e nem por isso tenho plantação deles, compro-os todos os dias, como-os todos os dias ou desejo-os todo dia.

E assim eu caminho em direção ao céu na terra.

Junho, 13


Quando nos conhecemos, ela me emprestou uma roupa de Papai Noel, e, por conta disso, meu filho largou os quatro bicos. A gente era colega de trabalho, e se via pouco. Depois, anos depois, eu morava nos EUA, e meu pai precisava de doadores de sangue... muitos se comprometeram, quase ninguém foi doar... ela foi, e levou a mãe dela (as casas de recolhimento de sangue nos diziam, via telefone, quem doava) - ela me avisou antes e eu acreditei! Elas foram. Os outros fingiram que foram. Isso foi em 2013. Ela estará em meu coração para sempre. 

Onde for, saiba, se precisar, estarei à sua disposição, linda mulher, linda pessoa! 


segunda-feira, 12 de junho de 2017


Quando cheguei nos EUA, E. disse-me, "Com o passar do tempo, você não pensará mais em Real, somente em Dólar, que será a sua moeda de uso." Fato. E. estava certa. Com o passar do tempo, tudo toma outro corpo e forma. Doze de junho não significa mais Dia dos Namorados para mim... e a lista torna-se infinita...
Junho, 12

I should have just let it go...


(photo by Suzana Guimarães)

sexta-feira, 9 de junho de 2017

O que mais me incomoda é o discurso de perfeição.


O que mais me incomoda é o discurso de perfeição.
Escrevi, dias atrás, "(...)Quero esquecer a moça que me apresentaram como guerreira, os golpistas, o poeta confuso, o homem em união estável, a mulher indecisa, a bipolar, (...)". Eu já escrevi várias vezes que escrevo para mim, mas eu tenho amigos bipolares. Incomoda-me pensar que ofendi, que fui insensível, apesar do artigo "a" em frente à palavra 'bipolar'. Então, eu pensava diretamente em alguém. Não dou satisfações sobre o que escrevo, mas eu respeito meus amigos e até os estranhos a mim, bipolares. Eu gostaria de dizer que a pessoa bipolar não me incomoda, o que me incomoda são os discursos de perfeição que ouvi pela vida e, hoje, cansada da lembrança deles, tentei expurgá-los.
Eu tive uma doença ansiolítica por décadas; um dos meus blogs se chama "O Medo de Suzana". Eu conheço certas doenças silenciosas bem de perto. Sei que meus amigos não precisam de explicação, mas eu não posso deixar de me explicar...
... e se a lua, (tão tua) minguar, eu te darei o meu céu... 


Angel Popovitz

quinta-feira, 8 de junho de 2017


Tudo acontece muito rápido quando é de Deus. Você pode até sentir o caminho enquanto o percorre, mas dias depois se perguntará como foi mesmo que aconteceu, puxará do fundo da memória os fatos ocorridos e se perguntará onde arranjou coragem. Deus é rápido.

Junho, 8 - um mês se foi e parece ter sido um dia, uma hora, alguns parcos minutos... 

em branco


(...)quatro dias brancos, seguidos; um céu constante, imóvel, silencioso. Branco. 

A minha mãe disse para eu não parar de escrever e eu penso nisso, "Parar por quê?". Nada neste mundo justificaria...

(...)esse céu provoca-me, brancura de arder os olhos... 

Quero esquecer o passado, quero começar folha nova. Branca. Esse tempo combina comigo e eu não recuso a oferta.

Quero esquecer a moça que me apresentaram como guerreira, os golpistas, o poeta confuso, o homem em união estável, a mulher indecisa, a bipolar, os ambíguos e os vendidos. Lembrar nunca mais dos perdedores. Quero esquecer as pessoas que exageram quando pensam em mim, e jamais enxergam a mulher normal, como outra qualquer. Dão-me honras que não tenho ou que eu mereça. Sou uma criatura que bate os dedos no teclado e debocha da vida, mas que nunca debochou do amor. 

E eles me apontam o amor, mas nunca o conheceram...

E eles me perguntam qual o meu número preferido, e eu respondo, "O branco".


(eu plagiando meu filho na última frase... mãe, enquanto houver céus, eu escreverei).

Junho, 8



terça-feira, 6 de junho de 2017


Ontem, hoje, dias que nascem e morrem brancos com frio de outono em final de primavera. 

segunda-feira, 5 de junho de 2017


Doeu-me vê-lo naquela gravação de segunda, correndo, naquela avenida escura, sozinho, perdido, desesperado, sujo, doeu muito e desde então, desde ontem, eu volto-me para ele, estendo invisível mão, alguma oração e um pedido aos céus.

Em seus anos de total anonimato, eu me lembrava dele, às vezes, e o imaginava... Foi triste vê-lo. Eu poderia tocá-lo, levemente, no escuro de todas as suas noites, eu poderia chorar um pouco por ele.

Junho, 5

domingo, 4 de junho de 2017


Já não suporto mais responder, quando a minha mãe pergunta como estou, "Cansada". Cansou-me isso, também. Então eu paro porque eu posso - todos nós podemos! Uma dose de caipirinha feita com cachaça brasileira ajuda. Parar é sempre bom. Só os loucos vivem sem interrupções; talvez, nem eles. Sentada no tempo, desisto até de mim, mesmo que seja só até à noite. Dei-me ao direito, ontem, de sentir-me o 'um' daquele jogo que meu tio-avô jogava, o "Resta Um". Restar, sobrar pode ser também sinônimo de vencer. Não combina comigo esse sentimento, mas sentir o que qualquer humano pode vir a sentir é magnânimo. Compartilhar, ser o outro, mesmo que brevemente. Parar. Repensar. Largar. Resgatar. Um dia, escreverei "perdoar ", eu ainda não faço isso. Perdão é coisa de Deus! Então, lentamente volto a mim mesma. Algumas pessoas pensam que eu escrevo para elas, inclusive já falaram-me isso às claras, mas eu escrevo para mim na forma mais egoísta possível e até quando pego a dor alheia e a sinto é por mim.

No ponto em que estou, sentada, na realidade, num tamborete na cozinha da minha casa, uma dose de aguardente é suficiente. Qualquer coisa, digo, qualquer coisa que possa vir a me conduzir a excesso, eu evito.

Respeito meu momento atual, agitado, incontrolável e cansativo, mas, hoje, agora, eu me dou ao direito de parar. Sou aquele jogo que meu tio-avô, o cara que me colocou no mundo, jogava. Sou a poderosa pedrinha vermelha, a que sobrou.


Buda não seria Buda se não tivesse deixado o palácio.

quinta-feira, 1 de junho de 2017


Eu sempre fui uma pessoa dura, às vezes doce, mas dura, feito a rapadura - um desenho comestível de mim. Meta os dentes sem atenção ou permissão e sentirá o impacto, sério, dura de nascença. Porém, quando vejo certos rostos e viajo neles e no tempo sinto o corpo todo por dentro desmanchando. Chego a escorrer pelo vão que há entre a minha história e esse resultado que sou, mais duro a cada dia.

Junho, 1