EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019


Deixa para surtar apenas sobre o que é problema. Se não é problema, não surta.

Para 2020


Eu queria que meus amigos e amigas solteiros encontrassem e fossem felizes com meus amigos e amigas solteiros.

domingo, 29 de dezembro de 2019

Encomenda que a vida deixa


Sentadas, sozinhas, brindamos a entrada de 2019, mas não conseguimos, juntas, terminar o ano. Separamo-nos. 

Se não existe Deus, e isso é possível, existe com certeza um poder soberano, ilimitado, inexorável e duro, que a tudo governa. Se assim não for, como explicar as histórias que sabemos, que vivemos, que nos contam, como explicar aquilo que muitos chamam de destino?

Existe esse poder e eu sei um pouco dele - qualquer corajoso consegue senti-lo, sabê-lo, reconhecê-lo.

Tem gente que entra em certos círculos somente para destruir e separar, que não aprende nunca - mesmo que tenha levado uns tabefes do tal "destino".

Tem gente que vive para a matéria e quanto mais tem, mais quer.

E eu me sento diante deste anoitecer, e aguardo com a paciência que ganhei ao nascer, o poder maior que distribui livres arbítrios falsamente - acredito que seja apenas um jogo - tomar a sua dianteira e decidir mexer as peças no tabuleiro.

Haverá muitos amanheceres e anoiteceres pela frente - vê, você não pode contra eles - e eu estarei com meu olho sobre você. A gente aguarda, você e eu.


Descobri, ontem, que eu posso chorar, sim, apesar de anos seguidos sem derramar lágrimas. Eu posso chorar e chorei, mas eu choro apenas pelo que vale as minhas lágrimas.

sábado, 28 de dezembro de 2019


Ontem, sem motivo algum pensei que encontraria P. na praia dos cachorros, talvez porque ela gostasse de cachorros, tivesse sempre alguns ou mesmo porque ela gostava de fazer programas, era uma pessoa ativa. No ano passado, enviei mensagem privada via Facebook - chequei, hoje - sim, enviei algumas palavras mostrando que gostaria de revê-la, mas ela nada respondeu. Pensei que o motivo do silêncio fosse o simples fato de que ela não interagia em redes sociais nunca. R disse, “ela pode estar morta”. Em 2013, fiz um jantar e a convidei, ela me disse que não estava bem, que estava com depressão. Naquele ano, meu pai ficou mais doente do que estava, faleceu, e nos anos seguintes, eu vivi a montanha russa de todos os meus sentimentos, todas as pessoas foram entrando e saindo da minha vida e por eu insistir, voltavam, para depois se negarem novamente para mim. Depois vieram várias perdas financeiras, adaptações, a minha filha era o bebê se tornando menina e meu filho, a criança se tornando homem, algumas mudanças em pouquíssimo espaço de tempo... um ritmo de vida enlouquecedor que prefiro esquecer. Então, eu não mais a vi. Naquele 2013, ela pediu para eu ir a casa dela, para ensiná-la pela centésima vez a fazer mousse de maracujá. Eu não pude ir, mas R foi com nosso filho. Ela criava o sobrinho que era colega de sala do meu filho. Depois, meu filho trocou de colégio, depois eles não eram mais amigos, depois tinha a mulher dela que não era simpática comigo, depois tinha tanta coisa, mas quando eu não falava nada de Inglês foi ela quem me recebeu com os braços abertos, oferecendo amizade, passeios, ajudas, presentes, tudo o que nem os mais íntimos costumam ser ou fazer... Ontem, eu pensei nela como sempre costumava fazer, desejando reatar o contato, mas só pensei. Ontem à noite, uma colega distante do meu filho, do último ano de High School, enviou uma fotografia para ele. Nessa foto, meu filho aos nove ou dez anos de idade ao lado do sobrinho da P. Meu filho perguntou, “ Como você tem essa foto?”. Longa história. Na casa dela, as duas mães dela conversavam sobre os amigos do passado dele, do sobrinho, mencionaram o menino que falava Português. Ela disse que conhecia aquele menino... A mãe adotiva dela havia se casado, dois anos atrás, com a viúva de P... Hoje, pela manhã, queríamos entender a história. Tudo estava confuso. E eu lavava a louça da cozinha imaginando que P., ao nos encontrarmos, diria que meu Inglês melhorou muito... mas P. se foi, faleceu dois anos após aquele jantar em minha casa. A viúva se casou com a mãe da colega chinesa do meu filho.

Eu pensava que P. estaria sempre ali, aqui, que poderíamos a qualquer tempo reatar aquela amizade começada assim que cheguei no país, em 2009... ela era mais nova que eu, a nossa cidade não é uma megalópole, apesar de que eu estranhava muito nunca encontrá-la casualmente como costuma ser... eu pensava que a depressão mencionada por ela fosse algo passageiro por ser recorrente, eu pensava que haveria sempre todo o tempo do mundo quando eu me lembrava dela, mas P. está morta.

E eu estou aqui com um nó na garganta, sentindo um buraco na alma, vendo um trem em movimento e eu parada sem entender. 

A maldade vence porque os bons não querem ter trabalho.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

A minha cachorra fala com seus olhos um livro quando às vezes me olha, e tudo o que diz é magnífico, puro, reconhecido e belo, embora só isso eu saiba porque não ouso saber mais, ela diz um mundo ou dois para mim, fala coisas que eu não sei mais entender, é um presente do universo para mim, uma dádiva, a minha companhia, a minha cachorra fala tudo o que os humanos não conseguiram, salvo um.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019


A América do Norte parece nunca parar, mas a minha rua já está sem movimento, não vejo os carros de sempre estacionados, na maioria das vezes, de estudantes da faculdade próxima. O céu está azul claro com fortes tons rosados, chove desde ontem, chuva fina, estou na varanda da frente e vejo o mundo. Ah, eu posso ainda ver o mundo! Parada, estática no sofá, posso dormir, sinto que vou, e ninguém irá me importunar na varanda sem grades ou muros, silenciosa, extensão de mim. Tenho dois casacos, um com capuz, e tampo parte do meu rosto, vejo o mundo por detrás da fileira de bambus... um cão labrador vestido com capa de chuva amarela passeia com seu dono, uma criança de menos de dois anos caminha ao lado do pai, ambos em seus casacos... não existe nunca mau tempo para o americano porque ele sabe sempre se vestir dos pés à cabeça... não é aquela coisa brasileira de chinelos, vestidos curtos, shorts e sombrinhas voando por sobre e entre poças... eles se protegem pra guerra. Passa um carro de entregas do Amazon, "Prime", passa um caminhão pequeno de mudanças do tipo "faça você mesmo", outro carro de entrega, marrom, o motorista não tem porta... as luzes de Natal se acendem, no inverno, anoitece muito rapidamente. 

Vou arrastar os latões de lixo dos fundos da casa para o meio-fio, hoje é segunda-feira... acordo do meu transe. Estive como se a alma balançasse na rede.

Eu me dou intervalos...

sábado, 21 de dezembro de 2019


Estive no Brasil no Natal do ano passado, após dez anos sem ir, sem estar. Não sei se voltarei, provavelmente nunca mais, mas eu queria dizer que os ônibus em Belo Horizonte à noite circulam iluminados para as festas de fim de ano.

Dezembro, 21

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019


Ele me disse que eu estava vivendo aquilo que experimentamos quando no filme a que estamos assistindo deparamos com a surpresa de um final não esperado, então, daí, repassamos o filme, devagarinho, em nossa mente, para relembrar, entender, compreender as etapas que nos passaram talvez indevidamente percebidas - porque, se assim não fosse, o final não seria esse susto, essa surpresa toda...

Eu, em Os dias pareciam tão perfeitos...

Eu perguntei: por que nasci no Brasil?


Ele respondeu: para aprender a viver.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019


"Cafeteira, abajur e água quente $40 ou vendo separado ou troco por bicicleta feminina ou coleção dos 7 anões de pelúcia disney."
Das coisas que me fascinam...


(li no Páginas Amarelas dos Brasileiros em Los Angeles)

Meu colorista é Deus.



A minha filha fala Inglês bem embolado para o computador dela e ele vai escrevendo... eu, ao lado, fico chocada.

sábado, 14 de dezembro de 2019

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O que sobrou em mim foi empatia para com todos. O que faltou dos outros, foi o mesmo, empatia.



Ontem, dirigindo, sozinha em meu carro, indo para um compromisso importante, lembrei-me do dia em que, aos seis anos de idade, fui sozinha ao salão da cabeleireira conhecida da minha mãe para cortar meu cabelo. A minha mãe ficou na janela olhando-me ir. Eu olhava para trás para ver se ela ainda estaria lá, e seguia o caminho. Creio que foi um quarteirão. A mulher tosou meu cabelo em plena década de 1970. Quando cheguei em casa, a minha irmã era um saco de riso solto porque eu fiquei Joãozinho.

Hoje, sou dona de mim, não olho para trás para ver se tem alguém me olhando, dirijo em qualquer tráfego americano, em qualquer estado e via, e aprecio inclusive fazer isso nas madrugadas.

Mas a menina de seis anos dirigia comigo, ontem. Era um momento importante, eu estava indo fazer um teste difícil e eu então me lembrei, me vi, tão pequena e magra, olhos assustados, o mundo parecia enorme...

Passei no teste de ontem. Só não passo nessa lembrança triste.

Ontem, 12/12

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019


Você, no fim de tudo, deverá prestar contas de si mesmo para si mesmo.

12/12


Firmeza, foco, determinação podem ser apenas palavras, mas se realmente colocadas em prática se tornam realidade e essa é a minha realidade. Debaixo de um semestre em ruínas, onde assisto ao esfarinhamento de todas as minhas ilusões, visito o passado, encaro o presente e enxergo apenas aquela menina franzina, um pouco tímida, mas que ria muito, e isso deve ter sido a minha salvação... e relembro numa forma masoquista, mas que escancara a verdade, e sofro por recordar momentos difíceis que só agora entendo... debaixo desta punhalada que a vida me deu, matando o que eu mais amava antes de conhecer meus filhos... com os nervos em frangalhos, falando alto, com ira, descompensada no estômago e intestinos, sem vaidade, sem vontade de ter esperança, lutando todos os dias para me manter em pé... debaixo desse inferno, eu hoje posso tranquilamente dizer que venci. 

Disseram-me para não desistir, para continuar, para viver da melhor maneira que eu pudesse, disseram-me para eu preencher meus dias, que iriam me aguar de orações, que eu deveria continuar... e eu caminhei dia a dia, mês a mês sem me permitir desistir. 

Qual o segredo, o método, a senha? Respira. Respira. Respira. E segue.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019


Naqueles reiterados sonhos que eu não entendia, eu sofria para enxergar e eu sentia a dor do cego. Acordava péssima. O que é que queriam que eu enxergasse? Sim, sempre havia duas ou três pessoas pedindo para eu enxergar. Eu abria os olhos com dor após extremo esforço e tudo o que eu via era um branco cinza claro.

Não sei o que mais doeu, a tentativa de fazer o que me pediam ou a visão que agora tenho de tudo. Provavelmente, a visão, mas estou livre agora, posso voar, e a visão do mundo é linda quando se tira a venda, o carma, a ignorância.

A queridinha da família é a filha de outra também queridinha e isso, de forma terrível, vai se repetindo. E os carmas criam-se porque injustiça é coisa para se pagar agora ou depois.

Se você que me lê pensa em ter filhos ou já os tem, não crie queridinhas, elas não são felizes. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019



Eu estou bem melhor, praticamente curada. Pela primeira vez na minha vida, meu ânimo voltou, minha alegria por estar viva, por circular no mundo, enfim, meu estado natural voltou sem que fosse preciso um acontecimento fantástico, ou uma pessoa surgida feito fada, um ganho, uma conquista, nada, nada aconteceu, meu mundo permanece o mesmo, eu voltei a ser feliz comigo mesma e com a minha vida porque dias atrás, eu fui a uma igreja, num dia de semana e hora mais banais seria impossível, tentei rezar, não consegui, e, ao sair, escrevi no livro que lá existe para quem quer deixar alguma mensagem para Deus, "Não me abandone como todos fizeram porque eu nem sei mais rezar."

Foi fantástico! No dia seguinte, eu já não era mais a mesma.

Dezembro, 9
( desconheço autoria da imagem)


Amor é flor leve que carregamos com preciosidade, mas não tem vento forte que não o derrube. Conserve. Guarde. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2019


(...) lá tem um livro para quem quiser escrever para Deus.

Um livro de capa dura, sempre aberto em cima de um aparador, com uma caneta ao lado, presa por um barbante. De forma singela e natural, você escreve para Deus, com a letra que quiser, na língua que quiser, assina seu nome ou não, é tudo do jeito que você quiser. Dias atrás, escrevi pedindo para que Ele também não me abandonasse, finalizei meio sem paciência, escrevi que eu já não mais sabia rezar. Isso me lembra agora um sonho antigo, de três anos atrás, eu dizia que não sabia mais dançar e dispensava um vestido todo bordado de lantejoulas. Chega sempre o dia que a gente desiste porque cansou e a gente passa a não querer mais. E isso é algo vivo dentro do nosso coração, não é charme, não é um outro jeito de ficar mais. É fechar a porta e passar o trinco.

Meu filho disse para eu continuar escrevendo aqui, nem que seja em inglês. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Para eu não me dizer que me esqueci da “2019 conclusions”.


O que fica de 2019 para mim:

1. Não precisa fazer o curso de Direito e extensões se você “sabe tudo” quando consulta o Google e três advogados. 😂

2. O mal reside em rostinhos lindos também, e esse é o pior deles. 😱

3. O planeta Terra deveria ter o nome trocado para planeta Vítimas. 🌎

4. Ou então, planeta Sonsos. 🙈🙉🙊

5. Poucos são os bons, mas eles são fortes, por isso esse mundo não acaba. 💪

6. Não deixe a sua vida nas mãos de quem nunca obteve algum sucesso; muito menos peça conselhos. 🧐

7. Se Deus me tirou do país foi porque Ele não me queria lá. Se Ele não me queria lá é porque Ele também não me queria com aquelas pessoas. 😏

8. Leia os salmos. As ondas do mar fazem barulho, mas o barulho dEle é bem maior. 🙏

sábado, 16 de novembro de 2019

Os anos pares são os mais leves.



Sobre mim, para quem não me conhece na intimidade:

Sabe a personagem Kim, da novela A Dona do Pedaço? Igualzinha. A diferença é que ela é um personagem e eu, de verdade. Não sei se sempre fui assim, mas é o meu último upgrade. Não me refiro à aparência física. Meus filhos dizem que sou mistura de Rainha Branca com a Vermelha, mas a Kim... 

Sim, estou assistindo novelas...

A loucura é poço escuro e fundo que alcança quem chega muito perto.

É fácil ser feliz quando o que importa é somente ter as necessidades básicas preenchidas, não se importando nem um pouco com os meios usados para concretizá-las.
A pessoa tem uma espécie de trator no estômago que vai passando por cima de tudo que poderia vir a ser empecilho. Enjoa ou vomita nunca!

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Como se o país precisasse de mais um partido político... como se mais um partido resolvesse. Longa Constituição, longos Códigos, longas discussões plenárias, longos recursos, tudo longo... Consciências curtas.
Hoje é dia da gentileza e eu poderia ter sido gentil a semana toda, mas a pessoa grita comigo, é desaforada e desliga o telefone na minha cara. Eu, então, desisto da gentileza. Como dizem os mineiros, eu tenho o queijo e a faca na mão... mas não darei uma fatia de queijo algum.

As pessoas assustam-me. Com rostinhos angelicais escondem verdadeiros monstros; feios, arrogantes e não gentis.

Novembro, 13

domingo, 10 de novembro de 2019

sábado, 9 de novembro de 2019

"Tenho saudade do tempo em que o Mundo cabia nos meus sonhos
No pequeno quintal da casa da minha infância.
Saudade do universo que criei nas conversas da minha solidão.
Do mar que eu tinha dentro, e da vontade de acreditar na vida."
**
Elke Lubitz

Há quem chora a vida, a pouca sorte, os sonhos não realizados, mas é pouco na disponibilidade, na empatia, na sensibilidade até quando o outro está satisfeito. Vive em cima de suas regras impostas, e se faz um pedaço de pau seco. Depois vem aquele mesmo outro e dá um corretivo, devolve com a mesma moeda, ou vem a vida, monstruosa e inexorável, e dá também bem pouco.

Solução: vira gente.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019


Tem gente que fala que não vai se casar, que quer muito sexo e não terá filhos, que quer ganhar o mundo... e blá-blá-blá... nada contra, mas ninguém tem vinte ou trinta anos a vida toda (salvo se morrer cedo), nem a cabeça e o corpo serão os mesmos. A solidão nos chega de diferentes formas ao longo da vida... orgasmos, pets, viagens, sucesso, amigos... gente casada também tem. Está aí a diferença: "também tem".

7/11/1987 Uma história para chamar de nossa.


(foto de SCG)


Trinta e dois anos que estamos um na vida do outro. Atravessamos duas existências, vários lugares, vencemos os nossos inimigos e a nós mesmos, mostramos ao mundo e sua gente que, como dizia meu pai, somos heróis. Fizemos filhos e a nossa história. 

E agora, "vamos rir de todo mundo!"




“(...)Precisei de três meses para me sentir arrumada, sabe, casa interna arrumada? Passei noventa dias amargando com meus filhos e meu marido o que sofri no Brasil. Todo machucado tem suas fases. Tem a dor, tem a cura e a cicatriz. Ficou cicatriz. Mas eu tenho 20 cicatrizes em meu corpo... estou acostumada. Sou feliz. Tenho um vidão para viver. Perdoar é voltar atrás. Nem quero. Sigamos! 😊


(...)Quando a pessoa sofre violência física, ela descobre no processo de cura que já vinha recebendo e deixando passar inúmeras violências morais, verbais.
Terminou meu tratamento. Noventa dias exatamente sentindo dor e amargando a cura. Fica apenas cicatriz. Isso não é problema.”

A vocês que mastigaram o meu coração em 2019, jamais me peçam perdão porque eu não perdoo ninguém. Perdão é coisa de Deus. Peçam a Ele.

Preferia ter perdido para a morte.

O medo de que eu a perdesse para a morte me rondou severamente na minha infância, adolescência e inclusive na minha fase adulta. Mas eu a perdi para a mentira ("Não poderemos conversar porque estarei sem telefone"), para o descaso, a injustiça, a  falta de interesse e cuidado, a omissão; a certeza  de que eu não precisava de ajuda inclusive financeira e de defesa. Parecia perfeito me ter correndo atrás dela.
Eu preferia ter perdido-a para a morte. A morte não bota fim nas ilusões.


Agosto, setembro e outubro que eu esquecerei. Juro! A vida me sorri ainda.

domingo, 3 de novembro de 2019

A vida se impõe.

Cheiro bom sai da minha casa e invade a vizinhança.
Tenho vários motivos para comemorar e nenhum.
A vida boa sou eu quem faço.

sábado, 2 de novembro de 2019

7:24 da noite. Trabalhei o dia inteirinho, agora vou estudar para fazer uma prova até às 11:59 da noite. Isso não é fato novo na minha vida. Lembro de mim lavando, secando e dobrando roupas à 1 hora da manhã. A minha tia de 92 anos me disse que está ótima como está porque ela nunca parou e ainda não. Isso é um conforto. Não quero ter Alzheimer. Quero morrer bem rapidamente no auge de alguma coisa bem legal ou fazendo a lavanderia, não importa, só não quero é me entrevar.
Já são 7:30.

A morte física de alguém traz dor, mas a emocional em mim me destrói.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Eu ser bruxa não é figura de linguagem.


“Para de ligar todo dia”


Apesar de detestar conversar ao telefone, eu ligava, sim, todos os dias porque eu queria agradar, compartilhar, e, principalmente, entreter. Sempre tive vida cheia e agitada, mas eu tinha tempo porque eu queria. Eu fazia por amor, nunca foi por dependência. Ah, sou um pássaro livre! Sou um corvo! Além da cor e dos voos, retribuo amor. Então, telefonar todos os dias ou quase era assim, como os corvos, a minha gratidão, meus presentinhos com brilho - e foram tantas as conversas, alegres, tristes, esperançosas, irritadas, bravas, de alertas, e era o que eu podia dar devido à distância.

Eu só queria amar e ser amada.

E dizer que eu não vejo cifrões em pessoas, nunca, e dizer que é triste viver pensando assim, pensando ser sinônimo apenas de dinheiro, como era repetidamente dito a mim.

Eu não queria telefonar. Nunca quis.

Outubro, 31

* Não tenho mais idade para um certo tipo de desapontamento.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O macaco de uniforme


Um dia, eu vou entender os mistérios que levam pessoas menos inteligentes, comprovadamente menos capazes, maniqueístas, atoladas em alardeados preconceitos e que sequer despistam e que sequer mostram arrependimentos, quase sempre exímias na arte da mentira, comprovadamente fracassadas no currículo da vida, pessoas que nada construíram, nem filhos, nem livros, nem ideias, nada, nada, quais são esses mistérios que lhes concedem o direito de decidir sobre os destinos e corações alheios, sobre o bom e o mau, sobre as riquezas e as pobrezas, sobre a vida dos outros? 


sábado, 26 de outubro de 2019

Poema de Eugénio de Andrade

É URGENTE O AMOR
Eugénio de Andrade - (1923-2005)

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A morte do meu sogro desencadeou em mim a morte do meu pai que foi há seis anos. Quantas vezes meu pai irá falecer?

Hoje, eu fui ao salão para cortar meu cabelo. Meu cabeleireiro e eu perdemos um amigo em comum há dez meses. Falávamos sobre a morte dele. Nessa hora, sem que eu soubesse, meu sogro falecia em um hospital de Belo Horizonte.

A morte é uma senhora presente nas bocas dos vivos.

Outubro, 24

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Não se morre duas vezes. Uma vez basta.

Bula de remédio


Figura A tocando o braço de figura B dirige-se a figura C: 
_ Está com inveja? 

Figura D abre o braço de pássaro sobre C e diz assim, no tiro à queima-roupa:

_ Figura C não precisa.

Tive, durante um ano, reiterados sonhos em que pessoas me diziam para eu abrir os olhos e enxergar. Eu tentava e isso me causava dores. O máximo que eu via era um clarão. Agora, passo por situações que me mostram que eu realmente tinha os olhos fechados.

Sobre um brasileiro babaca


Até hoje, eu nunca tinha ouvido falar de Mc Gui. Melhor seria morrer sem saber. Cara, você é aquele brasileiro babaca que ri das pessoas nas ruas, nos shoppings, nas praias, em todo lugar porque gosta de fazer gracinha para os amigos por causa da aparência física de gente que você nem sabe quem é e o que vive. Depois, por hábito e falta mesmo de caráter ou alguma empatia ou os dois, vai para o exterior rir da cara de quem não vive dessa maneira. Cara, você precisa nascer de novo pois já tomou bomba nesta vida.

Deve ser ótimo ter alguém como eu correndo atrás.

domingo, 20 de outubro de 2019

Sou Suzana


A pessoa que pensa que posso ser destratada não precisa conviver comigo. Aos 53 anos, sou quase uma velha e amo-me! Amo-me! Tudo que sou foi graças a mim, então, quando falar comigo não levanta a voz. Não levanta o braço para mim. Contenha-se. Sou quase uma velha. Não mendigo mais amor. Só exijo respeito.

Sem tempo para rainhas. 

Sou Suzana. Desafio reis. 

Fiquei livre daquele dedo sempre apontado para mim.

sábado, 19 de outubro de 2019

Texto de Cássio Zanatta.

Da hora
.
.
.
     "Chega uma hora em que não é mais desconcertante rever o grande amor. Mais provável ser atropelado na ciclofaixa. Tempo dos cabelos irem desistindo pelo caminho, das ilusões respirarem por aparelhos e de se munir de toda a paciência que resta, quando alguém discute política como se fosse a coisa mais importante.
      O tempo de tudo que ainda for possível. Da urgência de experimentar uma fruta desconhecida. Caminhar por uma cidade onde nunca se esteve. Hora de dar menos autoridade ao despertador e de ficar horas matutando, tentando se lembrar do nome do colega de Ginásio. Quando o dia resolve ter a duração de 19 horas e cada sete anos passam a caber em cinco. Da sesta mais por obrigação que por opção.
      Descobrir que já leu o livro depois de 282 páginas, faltando apenas 17. Ter todo o tempo do mundo para ir a Machu Picchu, mas ter imensa preguiça de subir aquele tanto. Fazer com o molho na camiseta o que Pollock fazia com as tintas na tela. Esquecer as caneladas e achar que tudo foi leve e bom.
     A hora em que toda gratidão humilha qualquer obrigação.
     Quando se leu tanto livro, meu Deus, e de cada ida à livraria nasce uma aflição do tanto que ainda se quer ler, mais o remorso de nunca ter lido Joyce. Da barriga insistir em chegar na frente. De sentir uma indefinida tristeza do quanto seria inútil telefonar para os pais.
     É tarde para aprender a fazer moqueca. De começar a carreira de astro do rock, de tatuar dragão nas costas, tentar entender o manual de instruções, se entregar a uma nova crença, aprender a cabecear de olhos abertos, desistir de assobiar em público. Mas só para isso, para o resto ainda resta muito e as mangas estão arregaçadas.
     Cada segundo dedicado a um lamento é um perdido de dar risada. Um remorso toma tempo demais, demais.
     Mas calma, a hora ainda não é esta. É porque o relógio, solidário, também anda se confundindo. Não há pressa, ou melhor, não deve haver. O problema é que você não está no comando, quem está é um CDF, um caxias, incorruptível, o bundão que vai cumprir com a tarefa com toda a eficiência, o pé no acelerador, o quanto antes, sem admitir nem uma matadinha de aula para ir ao cinema.
     Chega uma hora em que um aniversário a mais, um a menos, não parece fazer tanta diferença. Só para quem reparou que não havia bexigas coloridas e você precisou respirar duas vezes para apagar todas as velas.
     Mas aí vem um abraço longo, que pausa tudo, a gente se deixa apertar por um tempo que não tem medida, de olhos bem fechados e, quando abre, misteriosamente, muito misteriosamente, vê surgirem sobre a mesa três travessas de brigadeiros e duas de quindins."

Louvado seja Deus que me livrou daquele inferno.

Todas as manhãs têm cara de manhãs, e todas as tardes e noites. Só não têm cara de amores alguns amores.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A professora de Saúde da minha filha pediu aos alunos que digitassem (para manter o anonimato) o que seria para cada um deles a pior parte das suas vidas, aquilo que para eles fosse escuro e difícil. A minha filha disse que a grande maioria disse que era assistir às brigas dos pais. Eu quis saber, perguntei, tenho pena dos jovens, mas das crianças eu ainda não tinha... fiquei triste por tudo que ouvi. Então, perguntei o que ela havia respondido. Ela disse que não confiava mais em sua família. Engoli seco. Como? Ela disse, "não vocês, você, meu pai e meu irmão, mas toda a outra família que vive no Brasil ". 
Assim corre o rio.

terça-feira, 15 de outubro de 2019




Fiquei mais da metade da minha vida tentando arranjar um lugar especial no coração dela. Tenho consciência disso e ela ouviu-me falar, falar, falar. Hoje, não quero mais falar. Cansei. Há muito tempo reclamo cansaço, há anos, talvez mais tempo que eu pudesse suportar. Se suportei é porque sou forte. Mas eu não quero mais ser forte. Quero ser comum, banal, qualquer coisa. Ser muito desgastou-me. Serei pouco. Na minha família há muita gente pouco. Tenho exemplos. Não vou segui-los, não tenho mais idade para brincadeiras, apenas uso certas figuras familiares como papel de presente ou de parede, bilhete na porta da geladeira, fitinha no pulso, para lembrar-me; adorno; enfeites na árvore de natal para lembrar que é natal.

Tenho em mim um mundão, assim mesmo no aumentativo. Trafego nele como se fosse uma fada branca, uma sereia dos ares, um murmúrio no pântano quando se joga alguma luz. Essa luminosidade a mim pertence. Sou um serzinho mágico. Posso estar ou não estar e continuar sendo. Explicando: hoje, mais cedo, no quintal com a Merci, ouvi sons da cidade do meu pai que está a dez mil quilômetros de distância de mim. Foi um conjunto que durou segundos, mas que é melhor que cocada. Dentro do silêncio, o pio de uma ave, o ronco do motor de um carro, provavelmente certa música que não identifiquei sendo tocada nesse automóvel que passava, umas folhas secas voando e pronto, eu estive em Abre Campo. 

Ela é bonita no papel. Ficarei mais tempo escrevendo sobre ela. 





domingo, 13 de outubro de 2019

Poema de Mia Couto

"Pergunta-me

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer."

Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'

A porta aberta para a loucura é curva e estreita, mas qualquer um pode passar por ela.


sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Comunismo é uma merda.


A mãe ou o pai comunista inicia em casa a ideologia que Estados abraçam. A mãe ou o pai comunista não suporta o filho fracassado, não suporta assistir ao desmanche de seus sonhos de família perfeita. Então, a mãe ou o pai comunista quer igualdade, mas nem isso sabe fazer pois na realidade desiguala, doa valores, doa tempo, doa os ouvidos, doa inclusive e pior ainda a imagem do filho ou filha que alcançou sucesso, sim, lança aos ventos na ira do desgosto e da impotência aquela ou aquele que arquitetou, pensou, se lascou, economizou, trabalhou, cancelou doidices, seguiu firme atrás de seus objetivos e venceu. A mãe ou o pai comunista na realidade sonha sem contar para ninguém que o filho bem sucedido renuncie a tudo, a sua honra, seus valores, seus sentimentos, seus dinheiros para aplacar a presença voraz do filho ou filha fracassado.

Comunismo é uma merda.

Outubro, 11

terça-feira, 8 de outubro de 2019


Todo amor é passível de morrer porque amor é doce, é calmo, dá conforto, mas também é rígido, amor detesta migalhas, não sabe ser despedaçado, só sabe ser inteiro. Amor não aceita desconsideração, destrato, amor exige porque pode, porque é pleno e quando maltratado prefere partir.

Se tem que se humilhar, não é amor. 

domingo, 6 de outubro de 2019


E então vai dar no jornal local a seguinte nota:

Senhora de cabelos brancos sentada à mesa da cozinha da sua casa durante o terremoto não se moveu para se proteger. Segundo os filhos e o cão Merci, ela havia acabado de se sentar para comer após se levantar uma dezena de vezes para fazer alguma coisa quando se deu a catástrofe natural.

Até o cão procurou abrigo. Ela, não. Segundo consta estava exausta.

"Só pessoas ocupadas ajudam as outras".

Por Roberto Meneghini.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

"Memória __é apenas um nome
inscrito
na sola dos pés.
Vai se perdendo na caminhada".

Nydia Bonetti.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019


Se agosto durou dois anos, setembro, em compensação, durou dois dias. Parece que nadei e respirei uma única vez. À noite, empurrando os containeres (é essa a palavra?) para a calçada porque amanhã é terça-feira, dia dos caminhões de lixo passarem, eu me senti meu pai, trabalhando da hora em que abro os olhos até fechá-los para dormir. Lembro dele reclamando. Nem tenho forças para tanto. Nem tenho sequer alguma vaidade - igual a ele. Eu havia saído do banho quando me lembrei das latas de lixo, são duas, uma para lixo comum, outra para reciclável. Fui de pijama, sem pentear os cabelos que ficam em nós quando são lavados... aquele emaranhado, fios prateados, quem passa e vê pensa que sou uma senhorinha. Já não ligo para mais nada. Nem para as perdas que tanto me fizeram chorar. Ontem, eu não estava bem por mim mesma e porque, ontem, completavam seis anos da morte do meu pai. Juro! Sentada na varanda da frente, no escuro, forcei choro, pensei que seria legal, saudável chorar, mas não consegui. O máximo é um leve molhado nos olhos.

E vem em mim a lembrança de um sonho. Foi há cerca de quinze dias ou menos. Essa lembrança insiste. Eu lustrava uma porta de madeira clara, cor caramelo, lustrava com gosto, e meu serviço estava chegando ao fim, mas eu vendo-me ali, naquela porta nem fechada e nem aberta, eu não sabia se aquela - eu - iria fechar ou deixá-la aberta.

O que persiste é a beleza da porta e a dúvida. 

Meus filhos, doze e dezenove anos, são muito mais maduros que alguns muitos com mais de trinta anos. Após os trinta, é obrigação.

domingo, 29 de setembro de 2019

Eis aqui o meu Porra!


Que intimidade é esta? Que amizade é essa que me oferecem? Que mundo é este? Que gente estranha, meu Deus!

No WhatsApp, mensagens diárias ou semanais, bom-dia, boa-tarde, boa-noite, ótimo fim de semana, ótimo dia, os anjos que a encaminhem, Deus que a livre. Seja feliz, seja feliz, pelo amor dos santos, seja feliz e receba essa minha atenção dissumulada, esse amor fétido. Não me conta seus problemas, aquele último escândalo, aquela quase ida para a delegacia, não me pergunta nada, não peça fotografias, cabe a mim perguntar, oferecer, cabe a mim a dimensão da reserva. Cabe a você sorrir e agradecer.

No Facebook, não percebem que a fotografia do perfil foi mudada, mas aparecem na hora exata em que se publica algo político ou se comenta de forma contrária à publicação que é até pública. Ali, você será esmiuçado com a um peixe em dia de feira. Irão medir seus conhecimentos e o quanto aguenta da surra.

Vou quebrar seu galho, família é o bem maior, enviarei mensagens de autoajuda, vídeos lindos com casais velhos se beijando. Mas espera, espera. Não importa se o leite derramou, se a panela explodiu no fogão, os bombeiros chegaram e tudo é apenas ruína.

Seja feliz, querida! Seja feliz!

A vizinha também não escapa, amanhã, e insiste, amanhã tomaremos vinho na sua casa. E fim.

Será que isso me livrará no momento em que eu decidir por mim mesma quando será meu fim? Essa espanada na prateleira dos bibelôs que um dia talvez você precise irá defender-me da minha loucura mansa, mas certeira, um tiro no meio da testa?

Que gente é essa? Que nojo! As abelhas na árvore do meu quintal são inúmeras, centenas, milhares, os marimbondos aumentaram o tamanho de suas casas no alto do telhado e multiplicaram-se, aranhas gordas e coloridas tecem suas teias e matam-me de susto quando à noite caminho pelos jardins, mas são infinitamente melhores que essa gente que me assedia.

Porra! Se não me ama, me esquece.


Por Suzana Guimarães



P.S.: E não adianta deletar os chats. Eles retornam.

... para suas assombrações.




terça-feira, 24 de setembro de 2019

Eu tatuaria um de seus poemas na minha pele.


ESCUTA

Gosto quando calas, e fica entre nós um silencio de tecido espesso. Gosto quando falas, um tinir de frescos cristais como ouviu Chopin antes de compor os seus noturnos. Se choras é como se eu morresse um pouco a cada soluço, que soluço contigo. Quando brincas é o reverso da tempestade, fulge ao teu redor poeira cósmica de alegria. Mas quando me olhas séria, é o melhor. Consigo entender o mudo pedido do teu olhar, e então tenho certeza.

- (Dário B.).

Comi brigadeiro de colher ainda quente.

domingo, 22 de setembro de 2019


“Fui convidada por Thelma Ramalho
a publicar imagens, uma por dia, de 20 livros que marcaram minha trajetória como leitora e escritora. Sem
comentários ou explicações, apenas a capa, mas hoje no último dia, vou comentar. (no Facebook)

Este livro foi um impacto não como biografia, romance ou ficção, mas um clarão que até então ninguém havia me passado, um desvendar do pano que me cobria e eu sabia, mas não sabia como escapar. Eu tinha 19 anos e perambulava pela Edições de Ouro livraria (posso estar errada quanto ao nome) que ficava na Avenida Afonso Pena em Belo Horizonte. Meu mundo mental era uma prisão quando eu conheci o autor, dentro de um livro de bolso. A leitura não mudou somente o gosto pelas letras ou a forma, mudou minha relação com meu mundo interior.”


20.



quinta-feira, 19 de setembro de 2019


Enquanto alguns estão pensando em suas aposentadorias, eu sigo de outra forma, pensando em como entender e me fazer entender em uma conversa com meu médico asiático via telefone; pensando que definitivamente não acerto as preposições inglesas, tentando entender como alguém nascido e vivido no Brasil não consegue saber a diferença entre "mais" e "mas", escrevendo bilhetes em Espanhol que não sei para os jardineiros que não falam nem Inglês e nem Português.


E a panela ferve.

Setembro, 19

Meu filho está dando aulas de Inglês para adultos imigrantes. A glória tem nome e sobrenome.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Quando algo pequeno que faço se torna imenso em duas almas.

"Suzana Guimarães, posto os livros, mas esqueço de falar sobre você. 
Eu a conheci através de seus blogs. Seus textos sempre precisos tocavam minha alma... inquietava os pensamentos...
Depois, descobri mais um pouco... da grande guerreira sensível e resiliente que és.  Dona de um coração ímpar.
Você me salvou em muitos momentos de intensa agonia. Obrigada por sua amizade!! Deus supra suas necessidades,  seja qual área que for, e a abençoe ternamente!!!"


Da Cris para mim em uma brincadeira no Facebook sobre os livros que nos causaram impacto.

Coisas do destino. Embarquei com meus dois filhos em um voo arrumado para mim na última hora. Sometimes, a gente tem que abortar os planos, a viagem a passeio e mudar nossas agendas. Não era para eu estar naquele avião. Os números das nossas poltronas nos foram entregues no checking. E antes do embarque fizeram outra troca para que a minha filha ainda criança viajasse a meu lado. 

Ele chegou e se sentou na cadeira dele. Falava muito. Eu era apenas um corpo à espera d’alguma hora em que damos pane e nos desligamos. Ele começou a falar comigo em uma apresentação diferente. Parecia a campainha da casa da gente quando não estamos esperando ninguém. Então, eu me virei para ele e conversamos por seis horas. 

Ele, todo feliz, ia se encontrar com seus irmãos que não via há quinze anos. 
Eu, em silêncio de cemitério, queria os meus, mortos. 


terça-feira, 17 de setembro de 2019


Quem é você? Eu sou o conjunto da obra. Não sou quem eu digo ser ou o que dizem de mim. Cada pessoa coloca na definição a sua própria carga e assim desvirtua o conceito.

Eu sou o resumo básico aquele que usamos ao definir alguém a outro. Você também. Somos.

A gente é o conjunto da obra destituído de qualificações. Basta descrever como se preenchesse formulário comercial ou o senso. Não importa sucesso ou derrotas, se casou uma ou quatro vezes.

A gente é aquela descrição básica dita a um estranho sobre outro estranho. Nessa descrição não é preciso desenhar setas, nada. E todo mundo entende bem entendido. 

Em meu coração de tartaruga, recupero-me.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A Globo vai passar Éramos Seis. Está aí uma novela que não poderei assistir. Há mais de dez anos Somos Quatro. Só nós sabemos. 

domingo, 15 de setembro de 2019


(Encontrei na Internet)


Duas semanas de enjoos. Vomitei. Tenho horror de vomitar!

Tem domingo que a mim parece segunda-feira, dia primeiro. Assim foi hoje. Até meus pensamentos me dão náuseas. Outro dia, R perguntou se eu não estava exausta enquanto andávamos nas areia seca da praia. Respondi que estava. Ele parou e me olhou. Eu continuei andando. Creio que ele não entendeu. Sim, exausta, mas é o meu feitio, não importa, continuo. Às vezes, nada me para.

Penso em 2019. Tenho medo. Esse ano me dá medo. Parece um tapa na cara. Parece um naufrágio e até quem se agarrou à tabuinhas na água afundou.


sábado, 14 de setembro de 2019

Republicação

Eles sabem para onde vão, por isso correm. Eu não, eu não sei para onde estou indo, por isso vou devagar.



Eu nunca soube de cor o número do meu CPF. Aos vinte anos, eu tentava imaginar o que estaria fazendo ao completar 40 anos, só porque eu deveria renovar a minha carteira de motorista. Decorei três números de telefone, o da minha mãe, um do meu irmão e o meu. Atualmente, paro antes para me lembrar do meu. Outro dia, perguntaram-me, num estacionamento, qual o número da placa do meu carro, eu respondi que não sabia, ela, a moça que cobrava a permanência, que olhasse. Porém, recordo-me das datas de aniversários de amigos do passado, gente que nunca mais vi e nomes de ruas nas quais morei. Meu espelho é sempre a minha última fotografia, por ela vejo o que mudar ou não em mim.

Percebi que eu tinha os olhos tristes, apaixonados, perdidos. Percebi isso ao rever velhas fotografias que resgatei de dentro de caixas. Mas, eu nunca fui triste, eu tinha tristezas, apenas isso. Apesar da minha dificuldade para decorar números, sou ótima para saber de mim, mesmo quando finjo o contrário. Pois então, eu sei muito bem o que quero, eu sempre soube. Ou melhor, eu sabia.

Hoje em dia, qualquer vento pode me fazer cócegas e muitos dos meus princípios mudaram de endereço, perderam-se nas decepções da vida. Para que tanta definição de si mesmo? De mim mesma? Para merda nenhuma, que me perdoem o bom uso dessa palavra! Para que a minha eterna tabuada, pregada na barra da minha saia para eu colar de vez em quando e fingir que sou mestre?

Eu sei quem sou eu, sei, sim. Hoje, eu sei o que me faz feliz e o que não faz. E só. Basta! Não preciso mais do que isso. Outro dia, conheci um menino que me fazia sorrir, conheci três, conheci dez! Entretanto, todos, em um determinado ponto, pararam de me fazer sorrir e, eu, muito tonta, continuei sorrindo para eles e traçando mapas para nós, delirando... Revejo esses meninos, revejo-me e nada mais encontro porque eu fui ali, saí, larguei o que eu carregava em cantos quaisquer, desfiz as magias tolas e fui ser feliz. Simples. Minha felicidade é o meu corpo, que cuido; minha alma que preservo, e minha inteligência, que me salva.

Eu não sei mais para onde estou indo, o GPS pifou. O mapa? Eu nunca soube mesmo para que lado posicioná-lo. A agenda de telefones? Demoro um ano para atualizá-la, estou sempre um ano atrasada, enquanto todo mundo corre. E todo mundo se espanta, ainda tenho agenda de papel. Ainda tenho tempo de me perder porque parei de dar importância ao traço do compasso. Nunca fui boa mesmo em aritmética, nem em ritmo e equilíbrio, tenho Labirintite, não aprendi a tocar piano e a andar de bicicleta. Só acertei o alvo quando gritei 'este, eu quero', e isso ocorreu poucas vezes. Durmo antes do terço acabar, ladainhas são soníferas... Minha reza é apenas uma conversa, às vezes, íntima, às vezes, nem tanto. Sempre houve em mim um quê de distração pelas coisas, desejos e pessoas... o que eu sempre soube fazer foi levantar voo; me dê uma razoável tranquilidade e eu já não estou mais onde você pensa que estou.

É que todo mundo corre porque já quer chegar. Eu estou sempre indo.



por Suzana Guimarães
(Originalmente publicado em 9 de novembro de 2012, no blog O Medo de Suzana)

sexta-feira, 13 de setembro de 2019


Por acaso, hoje, ouvi “Strangers in the night”.

Por acaso, a gente pode ficar bem e eu nem sei se isso é ser feliz ou realizado. Ficar bem pode ser o que buscamos de verdade, apenas isso, por algumas horas ou pelo tempo de uma música.



segunda-feira, 9 de setembro de 2019


Ah, se eu fosse dizer o que penso dos homens, mesmo que fosse de um apenas... mas eu nem começo, só penso, acredito que nem aos cinco anos de idade, eu teceria cometários ou mesmo um único, "É feio"! Mentira! Há pouco tempo, após trinta anos sem encontrar duas amigas, nós três dissemos em um único som, "Fulano é feio, sempre foi!", na cozinha do apartamento de uma delas. Não me lembro de outra vez. Confesso que não senti prazer ao dizer. Beleza e feiura são de extrema relatividade. 

Aos cinco anos de idade, ou menos, todos deveriam parar de falar assim tão primariamente, para fazermos jus à nossa inteligência.

Não é na verdade questão de educação, é como fazer xixi ou cocô. É natural. Nem precisa farer esforço para conseguir. Isso, calar a boca para dizer nossas verdades podres.

Mas eu sei, a gente sabe, os homens em frente aos espelhos são iguais aos anoréxicos: não conseguem enxergar a verdade. 

Conheci um homem com corpo e rosto maravilhosos, pés, mãos, cabelo... e de uma doçura incalculável, mas ele fedia. Treinei jiu jitsu com ele centenas de vezes. Fedia de matar! Eu poderia ter dado um toque nele porque isso é permitido nos tatames, mas nunca falei nada. Para muita coisa nesta vida, eu prefiro me calar. 


domingo, 8 de setembro de 2019


(foto: Suzana Guimarães)

“E no meio do Aqui e Agora, não acha que podemos nos encontrar de vez em quando?“ —  Richard Bach