EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sexta-feira, 29 de junho de 2018

Quando eu quero ser egoísta, eu escrevo.



As pessoas não podem me responder, não podem colaborar, estender um braço, alargar uns passos, guiar-me n’ algum sonho, participar... mas eu posso escrever. 

Eu posso escrever.

Não quero mais afundar. A bóia me soa espetáculo!

O passado cutuca-me, cutuca-me, fica me dizendo coisas, usa pessoas, fotografias. Fala o que só quero esquecer, aponta imagens antigas, projeta outras futurísticas... Ele não sabe, esse desgraçado, que eu não olhei para trás, estava decidida e assim permaneço. Caminho por alamedas seguras. Sou outra, graças a Deus!

O passado é um morto que fala.

quarta-feira, 27 de junho de 2018


A minha vida tem sido um banho interrompido. 

Gabriel Garcia Márquez escreveu um conto intitulado “Eu só queria telefonar “. Uma mulher desce de um ônibus e se dirige a um telefone público instalado em frente a um hospício. Alguém passa e entende que ela é fugitiva do hospital e a leva à força para dentro. E por lá ela fica.

Ela só queria telefonar.

Eu só queria tomar um banho. No meu caso, é como se eu estivesse em luta com o diabo, os insetos, as temperaturas irregulares, as sombras alheias... tudo ou qualquer coisa para atormentar-me. 

sábado, 23 de junho de 2018


Sempre estive frente a frente à beira. 

Pelo menos, isso ensina a arte da fleuma.

Tudo o que não aconteceu não era para ter acontecido.

Maio, 23

terça-feira, 19 de junho de 2018


Vivo anos em meses...

Vivi um ano em um mês, certamente. Hoje, tombo mais que cansada. Não adianta a mente ordenar se o corpo não atende... só mesmo essa enorme vontade de escrever que me bateu há dias e entrego-me, rendida.

Eu tive que me mudar de endereço novamente e em pouco tempo, e, dentro desse processo para frente, futurista, imediato, fui puxada para trás...

Hoje a poeta escreveu, “O tempo que não cuidou de nossas histórias “.

Sem mesa, computador e internet teclo dedos hesitantes...

A casa é plana, clara e arejada. O cão labrador late quando abro as portas da varanda, ele agora haverá de aprender Português porque a vizinha só fala assim... Português do Brasil.

Aquelas caixas de um ano atrás empilharam-se na sala. Aos poucos, eu venço a bagunça.

E o passado remexe a minha mente. Bateu à minha porta, dias atrás, e me consome. Me consome. Está me roendo, igual ao cão na cerca.

Mexo justamente onde nunca toquei. Mexo onde o tempo não trabalhou.

Maio, 19