Toque de recolher em Long Beach, o ano do caos.

“A luz passa pelas frestas.”

Sábado, 30 de maio.

Hoje, eu entendi que apesar de estar há dez anos escrevendo muito sobre a minha vida, e principalmente sobre as minhas vísceras, eu tranquei o meu passado nas caixas das minhas fotografias. Como se a vida nos EUA fosse apenas tudo o que fui a partir de quando cheguei aqui. De certa forma, matei metade de mim. 

Não tenho nada para fazer sobre isso. Esta pandemia está sendo de espantos e por consequência não me sinto preparada para nada, nem para arrumar saídas, soluções para tudo. Talvez essa situação tenha me libertado da insistente mania de estar pronta. 

Não estou pronta para nada.

Na época de Luther king, as ruas ficavam lotadas de negros. Hoje, tem mais brancos que negros. Quem suporta tanta maldade? O que a cor da pele tem de tão importante?

Tomo mundo em isolamento e agora o povo vai para as ruas e isso está absolutamente correto, mas, daí, eu penso: tinha mesmo que ser assim? Não dá nem para acabar de matar o primeiro dragão e já vem outro. 2020 e caos significam a mesma coisa. Long Beach entrou na lista das cidades com protestos e é assim mesmo. No tatame, a gente aprende a continuar a luta e só depois parar para passar mal.

Cem mil mortos por covid 19 nos EUA.

A grande maioria dos meus amigos do Facebook, penso que eu nunca vi na vida, mas fico triste quando os vejo tristes. Meu psiquiatra que depois virou meu amigo, me disse que isso aqui é tão real quanto a vida. Ele disse que não existe amizade virtual. Eu retruquei, Mas eu não os conheço fisicamente! Ele disse, Você não conhece, expressão vinda da bíblia, que significa que não fez sexo, apenas isso.

Aguenta, gente, aguenta. Juntos voltaremos a nos divertir!

A minha cachorra ficou menstruada, ontem. É a primeira vez. Demorei para aceitar, pensei que fosse qualquer outra coisa... confesso que senti tristeza, coisa estranha isso, é natural, é bom, é saudável, mas bateu melancolia. É a primeira vez para mim também porque eu tive cachorro, um pequinês macho, nunca lidei com uma fêmea, tive três gatas persas, mas eu não as vi menstruando.

Tenho um primo na Itália e perguntei a ele se o país está mesmo saindo da quarentena, ele disse que sim, mas está quase tudo o mesmo, alienados e preocupados ocupando o mesmo espaço. O mesmo aqui, na CA, apesar de que meu salão de beleza está fechado, salão da família. Meu marido ligou para xeretar quando irão abrir, fingindo não saber, e o dono disse que o atenderia porque somos clientes antigos, mas que ele teria que entrar pela porta dos fundos. Meu marido desistiu. E haja pomada naquele cabelo!

Daí, vem Brasil abrindo as portas e a linha ascendente de mortos no país não para de subir, nunca paralisou e muito menos abaixou...

Li um comentário de uma pessoa instruída, graduada. Ela diz que o isolamento imposto pelas autoridades públicas é inconstitucional e que, entre governo que pratica inconstitucionalidades e o vírus, ela prefere o vírus, sendo ela profissional na área de saúde. Provavelmente, ela entende alguma coisa de saúde, mas com certeza nada sobre a Constituição Federal brasileira, pois sua fala demontra desconhecer a causa jurídica. Autoridades podem sim, em caso de calamidade pública, tomar atitudes que restrinjam as liberdades individuais porque o bem maior, no caso, a saúde pública, toma lugar superior ao das liberdades de cada indivíduo.

De advogado, poeta e doido, todo mundo tem um pouco, já disse a voz popular.

Eu sempre quis ter um cachorro grande ao meu lado para eu sentir segurança, mas, lá em casa, apenas old sister podia escolher a raça, cor, nome...

Ontem, ela comeu uma abelha que voava distraidamente no quintal. Quando meu filho me chamou, ela cambaleava e procurava se distanciar dele, mas quando me viu, voltou. Meu coração ficou do tamanho de uma ervilha quando a vi parecendo que ia desmaiar, andando de forma trôpega... Entendi que a amava, que eu amo a minha monstra. Passei as mãos na garganta e na cabeça dela e então ela vomitou. Ainda bem que foi somente isso.

2020, querido, você é um buraco fundo de emoções. Basta-se!

Mais cedo, encontrei uma garrafa de champagne na geladeira da garagem. Bebi. Não tem nada no lugar mesmo, nem coisas, nem pessoas, nem tempo, em alguns casos, nem espaço. A minha filha dorme às 4 horas da manhã, acorda às 2 ou 3 da tarde. As colegas de sala dela, também. Meu filho diz que como é mais ajuizado dorme às 2 ou 3 da madrugada. Eu, eu não durmo. Finjo. Espero não vir a abrir champagne às 8 da manhã.

Quebrei um pedaço do meu dente, um dos do fundo da boca. A vida por aqui está tentando voltar ao normal, mas eu não sei mais como fazer isso e por isso melhor deixar esse dente e a consulta para consertá-lo para mês que vem, apesar de que não sei bem ao certo quando é mês que vem. Não sei bem ao certo quando isso tudo começou, deve ter sido em março, sim, foi em março, mas isso não se projeta dentro de mim. Estou escutando Minnie Riperton, Loving you, porque parece cantiga de ninar, bom, deve ser música de ninar a alma... até então, era apenas música conhecida, a voz, a melodia, só que agora é muito mais que isso, devo estar usando-a para ser meu fundo de tela, onde passam cenas e mais cenas, de agora e de um passado bem distante, umas coisas antigas retornaram e outras ficam me cutucando dia e noite, madrugada também, nessa quarentena dos infernos. Mas lá no fundinho de mim, ainda sorrirei disso tudo, e direi, época de contato, de troca, de confidências, de chega aqui mais perto porque eu não mordo.

Quem disse que no Brasil não haveria mortes por covid-19?

Melhorando a pergunta: quem disse que o Brasil é a terra de Deus e que seria no máximo, para nós, uma pequena gripe a pandemia que está assolando o mundo?

Número de mortos hoje: 22.165

Ao longo do dia, sábado...

Quando estou muito triste, procuro me lembrar do anjo negro de 25 de abril. Lembranças salvam.

Estou pensando que enxergamos menos da metade do que podemos ver, estou pensando que apenas agora eu entendo alguns surtos que tive aos quinze anos, estou pensando que as pessoas podem ser muito parecidas.

Estou pensando que não consigo mais dormir muito, tenho cochilos apenas. Estou pensando em me levantar dessa cama espinhenta e fazer cuscuz. Cuscuz é de verdade a comfort food. Estou pensando no tanto que ainda tenho medo de ir à rua. Estou pensando que este mundo é muito chato. Estou pensando que está batendo saudade da minha mãe.

E. veio me visitar de lá longe da cidade dela e presenteou-me com inúmeros vasos de plantas e alguns presentes guardados desde dois anos atrás porque a gente pouco se encontra. Ficamos conversando na frente da minha casa. No começo, eu nem abri a porta direito. Fiquei igual a um jacú olhando-a pela fresta da porta por onde passam cartas, encomendas... Mas pessoas distraídas têm seus momentos de lucidez e visão, então eu saí. Só mais tarde percebi que ela estava o tempo todo de máscaras e eu não. Depois chegou a vizinha da frente também de máscaras para presentear-me com gigantes suculentas. A vizinha se foi e E. e eu continuamos a tagarelar aos gritos. Só depois também percebi que falávamos aos berros. Meus vizinhos devem pensar, ah, coisas de latinas! Tenho dois sofás mais para dentro da varanda, mas pessoas distraídas quando decidem não focar, não focam. Não os puxei para fora, espaço tem. Eu também não podia tocar em mim mesma porque as minhas mãos poderiam estar virulosas, mas era a morte sentir minha calcinha boxer vermelha da Lupo novinha mas sem lycra descendo pela bunda dentro da calça jeans e uma das alças do sutiã também escorregando. E. também não podia coçar o próprio nariz. Ela se foi e eu comprei um kit de cadeiras de jardim do colega do meu marido e fiz agora a minha nova sala de visitas. Volta, E., vamos comer biscoito de polvilho assado e tagarelar, detalhe, sentadas!

Sempre pode piorar, né? Conversinha de boteco de bairro com uns doidos no meio cuspindo ódio. Que gente raivosa numa reunião! Capetão está solto.

No WhatsApp, com amigo, estamos conversando. Amigo faz uma pergunta e diz que vai desligar porque tem aula para assitir. Respondo, okay, vai lá! Continuo escrevendo porque sou uma pessoa inteligente e sei que ele irá ler depois que sair do computador, claro, ele deve estar no computador. Amigo aparece e escreve, para com isso! Vocé está me desconcentrando. Você é muito poderosa e atrapalha a minha energia. Te amo!

Amigo continua lá na lista de contatos, mas amigo foi deletado do meu coração.

P.S.: não adianta dizer amor.

Quinta-feira, às 9 horas da noite, minha rua é puro silêncio, nem uma alma viva a passar, somente eu, de robe, aguando as plantas. A garganta seca, entretanto.

Um amigo meu me enviou áudio zen, púrpura e amarelo brilhante tombando para alaranjado, com mantras e eu estou aqui, deitada no sofá, meio abobada achando a vida boa e muito gostosa.

Om mani padme hum Om mani padme hum om mani padme hum... 💛🧡💜

🙏🙏🙏🙏

20.000 mortes em dois meses, no Brasil. Ultrapassou a dengue, zica e gripe. Ou ainda há argumentos?

A minha filha:

Mamãe, quero entrar no carro e viajar por três dias até bem longe.

Sobre ela: mamãe, eu quero morar em Ouro Preto e quero também aprender a ser brasileira, não quero ser tão diferente de uma brasileira.

Owwnn... ❤

Três pessoas ensinaram-me a viver: a minha mãe, o meu marido e o meu filho, assim, nessa ordem.

E tem em si gota d'água, uma por dia, mas sempre. 💚

(foto: SCG)

Eu sou usualmente excesso, mas sei ser pouco, falta, escassez...

Cá estou novamente para defender o sr. Inácio. Ele nem me paga para isso, mas sou justa. Qual é o problema ao dizer que o coronavírus aconteceu para ajudar, acordar, ensinar... sei lá qual verbo ele usou. Veio, sim! Como tudo na vida qualquer pessoa ou qualquer fato tem o lado bom e o lado ruim, basta a gente ser realista para poder enxergar.

P.S.: e ele nem está ocupando cargo público para podermos dizer que ele não está sendo correto.

Então, você deveria fazer uns docinhos.

Então, você deveria fazer uns docinhos. 

A minha mãe sempre comentava que os docinhos dependiam do freguês. Se o freguês estava com boa energia, tudo corria bem. Se não estava, tudo desandava. Certa vez, comentei ao vê-la desenformando bombons com sucesso total:  

  - Mãe, não caiu nenhum! 

Para assistir a próxima forma bater na mesa e os bombons saltarem direto para o chão.

Provérbio árabe: Quem quer fazer alguma coisa, arruma um jeito. Quem não quer, arruma uma desculpa.

Eu agora escrevo sem vírgulas. Isso é o máximo!

Segunda-feira, 18 de maio de 2020, amanheceu chuviscando, o pedreiro da obra vizinha retornou a seu trabalho com um ajudante, Merci late para ele, estou vestindo meu quimono dupla-face bordado com dragões amarelo e preto, farei biscoitos de polvilho para o meu leite da manhã, e, voltei à realidade em um tempo só - antigamente, demorava mais.

Eu tinha dez ou doze anos e sentia, todo fim de semestre, algo extremamente forte, uma satisfação pessoal indescritível ao caminhar para fora do meu colégio sabendo que tinha passado em todas as matérias e embora outros tivessem ficado para a recuperação, eu não e só isso importava. Sensação essa que me marcou assim como o cheiro das merendeiras no primário e eu nunca mais realmente senti embora tenha tido outras vitórias.

Hoje, eu a sinto novamente, nos meus 53 anos. Exatamente a mesma. Ressuscitando-me.

Pai, todo fim de tarde, quando a terra começa a perder o calor e os pássaros ensaiam despedidas com seus barulhos de que está tudo bem e agora vamos dormir, eu o ressuscito. Sinto-o presente no quintal, posso percebê-lo quando abro a torneira e estendo a mangueira de borracha para molhar as plantas, o cimento, as pedrinhas, assim como você fazia naquele seu jeito espalhafatoso. Agora, tenho um cão também. E ele segue meus passos, mal imagina ele que estou tantos e tantos anos para trás, diante do meu presente, replicando você.

Previsão para a primeira semana de agosto nos EUA: mais de 137.000 mortes no total.

O número de mortos nos EUA era de mais de 80.000 na segunda-feira, um total surpreendente que se acumulou em menos de três meses. Excedeu o número de mortos na Guerra do Vietnã, em que mais de 58.000 membros das Forças Armadas dos EUA morreram e superou o número total de mortes na temporada de gripe de 2018-19, que era de 34.200 e na temporada anterior, que foi de 61.000.

Fonte:

Experts attribute a rising forecast of coronavirus-linked deaths to the public growing more weary of stay-at-home orders and moves to roll them back.

About this website

LATIMES.COM

California coronavirus deaths hit stubborn plateau; experts fearful about future

Experts attribute a rising forecast of coronavirus-linked deaths to the public growing more weary of stay-at-home orders and moves to roll them back.

Brasileiro não tem um dia de sossego.

Amanhã, as praias de Long Beach estarão abertas, mas ninguém poderá ficar parado nelas

O ano é 2020 e ainda tem mulher dando o golpe da barriga.

Às vezes, penso em alguma coisa e monto uma historinha para horas depois desmontá-los, a historinha e o que penso. É porque eu fui me cansando, cansando... Aquela que corria a duzentos por hora anda agora bem devagar e às vezes nem anda.

Não tem restaurante para ir e para ser sincera nunca vou em dias festivos, já fui inúmeras vezes, mas não gosto, detesto. E, atualmente, não me importo em ser desagradável ou desmancha prazeres. Dentro da minha natureza isso é normal, não é? Gosto de tudo que está mais para vazio, até gente - gente de poucas gentes. Então, por ser dia das mães e somente é meu dia porque tenho LR e AL, vou cozinhar para eles. Eba! 

Eu nunca disse que gostava de diários...

Maio, 10

Os óbitos nos EUA passam de 77.000. No Brasil, 10.000. O presidente do Brasil disse que vai fazer um churrasco com futebol, amanhã.

"Aceite ser feliz", por Maria Socorro de Araújo

( fotografia: SCG)

Tem dia que estou assim, como se me fizessem cócegas, algum anjo invisível ou fadinha... e o que me resta é rir.

Nunca gostei da Regina Duarte, primeiro porque não gosto das queridinhas e segundo porque eram tantas as caras e bocas para expressar amor, compaixão, tristeza, susto, humildade... lembro-me do meu irmão tentando imitar as caretas dela e do tanto que eu ria.

Sempre chega o dia de mostrarmos quem realmente somos. Chegou o dela.

Estou sentada diante do meu computador com o cheiro de pão assando invadindo todo o meu ser, corpo, alma e além alma...

(pãozeira de 19 anos, viajada internacionalmente)

Bolo de ontem, ainda delicioso...

(Bolo de Bananas - receita da minha mãe)

Cansada das questões políticas do Facebook. Não preciso ir lá para saber o que se passa. Já me bastam as minhas mazelas, o tanto que me sinto sufocar, a sensação estranha de que tudo é irreal, o tempo, a existência em si; até a frente da minha casa parece flutuar quando a vejo. Gosto muito de ler os amigos que também se exteriorizam nas palavras e reclamam, e choram, e se vasculham. Moro em uma casa com quintal e jardim, tenho uma filhote de labrador, quatro bocas para alimentar, mas sei que essa não é a realidade de todos e sei que muitos estão presos em seus apartamentos e gosto, gosto muito quando eles aparecem para gritar, porém certos posicionamentos políticos desgastam-me e tem gente que entra no Facebook somente para isso.

Sempre alheia, a natureza me oferece a mais bela das luas... de banho tomado fui para o quintal pegar as roupas do varal e isso pode ser muito chato para muitas pessoas, mas para mim não é, pelo contrário, é prazeroso. Os meninos também gostam. Eu dispenso R dessa atividade, mas ele também participa. Talvez sejamos os quatro os bruxos que marcaram esse encontro, planeta Terra, norte do mundo, costa oeste dos Estados Unidos. 

Nove horas da noite, jurei que ia dormir cedo. Estou exausta. Não suporto mais toda essa situação do mundo.

Sol de torrar. Até a cachorra se estatelou no chão de ladrilhos da área de serviço. Fiz um bolo de bananas, macarrão ao alho e óleo e assei batata doce com alho. Sentei para escrever. Os 53 anos pesaram nas minhas costas. Eu queria dormir, roncar desavergonhadamente...

Por que as pessoas que estão cobrando ética do ex-ministro Sérgio Moro fizeram vistas grossas ou melhor não cobraram ética por parte dele quando julgou o Lula?

País dos dois pesos e duas medidas.

Muita hipocrisia.

P.S.: E eu nunca gostei do Lula e nunca escondi isso. É questão de ser ético. Sou ética.

Esta foi a pior semana de Long Beach para novos casos de Covid-19

Nos últimos sete dias, Long Beach confirmou 184 novos casos de Covid-19, desde que as autoridades locais de saúde encontraram seu primeiro paciente doente com o vírus há cerca de dois meses. Na segunda semana de março havia 5 casos...

Houve um aumento esperado já que os testes (drive-thru tests) estão sendo feitos gratuitamente e de forma rápida, a pessoa nem precisa sair do carro dela para ser testada, mas o número incomoda, sim, incomoda. 

O ator Flávio Migliaccio se matou nesta segunda-feira. Ele deixou uma carta. Uma amiga no Facebook comentou que ele não é o primeiro que ela conhece a morrer de Brasil. Ela reclama em sua publicação, "Morrer de Brasil. Um país que nos adoece. Maltrata nossos sonhos e memórias."

Eu comentei: "Não é difícil morrer de Brasil."

Oh, como eu sei! Quase morri naquele país, quase morri dele. Lugar que destrói os mais delicados sonhos na forma mais irônica possível, ao som de carnaval ou pagode na esquina.

Ontem, eu pensei sobre isso. Ontem, escrevi que queria esquecer o Brasil. 

...Vontade gigante de esquecer o Brasil. Devia ter borracha para isso.

Fiquei quase o dia todo na cozinha, meu atual reino. Fiz cuscuz novamente. Essa está sendo a minha comida reconfortante, "comfort food"! Feito com queijo muzzarella em fatias finas e salsicha em rodelas. Em cima, fina camada de manteiga com sal. Não compro manteiga e outras coisas sem sal, já basta a vida de vez em quando... Depois fiz uma receita nova, uma comida egípcia, Shoreek, pãezinhos deliciosos. R me ajudou. Os meninos só agradecem, só agradecem...

R me disse que o sindicato combinou com a empresa onde ele trabalha que quem precisar se ausentar para resolver questões familiares nessa época de covid 19 poderá pedir licença, inclusive foram liberados os empregados do grupo de risco, mas tem amigo dele que continua trabalhando, diz que prefere porque trabalha mais em casa... 

R não está no grupo de risco. R está na época de ouro da vida dele. O dia em que a roda da fortuna gira é para todo mundo, melhor ainda quando ela gira na fase madura, quando já estamos cansados. 

Amanhã, R vai pedir licença para cuidar de questão de saúde da nossa filha, nada de covid 19, graças a Deus. Os problemas acontecem sem nossa permissão e sem olhar a conveniência, apenas acontecem...

No Brasil, o presidente decidiu surtar aos domingos. Todo domingo, surta. Vontade gigante de esquecer o Brasil. Devia ter borracha para isso.

Quando eu comecei a ficar velha?

O estado de Nova York registrou pelo sexto dia seguido declínio no número de mortes. Alguns estados americanos estão acabando com o isolamento, mas a Califórnia ainda não, apesar de que algumas praias ficaram cheias no fim de semana passado. Em Long Beach, tudo permanece como antes, graças a Deus. Não quero sobressaltos.

No Brasil, a briga política não cede para a saúde pública. Li, hoje, um comentário de alguém reclamando que os governos não cuidam, que os brasileiros estão pedindo máscaras emprestadas para quem entrou no recinto e está saindo... numa total falta de educação e que a culpa é do governo. Não estou falando do governo federal que tem como representante principal um burro louco que não acredita no vírus, ou finge não acreditar simplesmente porque não sabe o que fazer já que não sabe fazer nada. Estou falando dos governos municipais e estaduais. Oras! Adultos que não sabem se mexer sem a ajuda do papai... assim é a mentalidade da grande maioria do povo brasileiro. É preciso fazer a sua parte também! Todo mundo pode ter um pedaço de pano para tampar a cara. Sem contar que nem precisa ter um pedaço de pano. Tem gente tampando a cara com saco plástico, fralda, modess, sutiã, bucha de cozinha...

A minha casa cheira a pão. Colhi rosas no quintal e enquanto caminhava pela sala pensei que a vida pode ser um filme bom que a gente nunca sonhou. Essa minha casa cheirando a pão e rosas é a prova disso.

Sinto-me dentro do mundo num instante e noutro, fora dele. Esse distanciamento total confunde a minha realidade. Nem sei mais o que é realidade. Então, é muito bom estar na minha casa, um lugar meu, onde faço o que quero, quando quero, na hora que quero sem ter alguém me vigiando, cobrando, perguntando, provocando... como foi quase a minha vida toda na casa dos meus pais e parentes, inclusive na casa de amigos. Sou aquela pessoa que nunca mais, nunca mais mesmo, ficará hospedada na casa dos outros. Para isso, existe hotel.

Meu lar é meu mundo verdadeiro. O resto é o resto.