EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


domingo, 30 de setembro de 2018

sábado, 29 de setembro de 2018


Se alguém souber mandinga para livramento de gente doida, por favor, me passe a receita. Pago bem.

A minha paz e a paz que entrego não é graciosidade da vida. É de verdade a maior força que faço, muito mais que ser feliz e próspera ou ter sabedoria. Nem é generosidade alheia, pelo contrário, de tempos em tempos chega um para perturbar a minha rotina, meu sorriso, meu jeito de caminhar. 

Não adianta pendurar placa de aviso no pescoço ou escrever na testa: "Beware of dog". Para quem não sabe, "Fica longe do cão", no caso, eu.

Não adianta. Os loucos caem no meu quintal feito frutas do pé, principalmente nos vendavais deles.

Isso poderia ser uma crônica, mas não será. Tomei preguiça de gente, principalmente das doidas e inseguras. 

A insegurança pessoal é que apodrece. Balança, balança, e, por fim, cai.

29 de setembro de 2018



Cinco anos depois...

Estou contando nos dedos para saber se é isso mesmo, se não seriam cinquenta anos ou cinco meses, mas são cinco anos, o tempo sem você por perto - apesar de eu sabê-lo em mim, seu gênio difícil ainda vive, contorna-me onde eu não imaginava possível. Graças a Deus, sou continuação sua, só hoje percebo isso, esse presente.

Cinco anos sem conseguir lhe escrever uma linha. Eu queria contar sobre nós que ficamos. Eu queria dar detalhes, falar as coisas boas e as ruins, mas nem sei se é preciso, lá em casa, eu senti você em vários momentos. Não sei se você está feliz ou triste, só sei que você sabe, nada mais foi como era.

O sistema de irrigação dos meus jardins queimou, então, eu os aguo, dia sim, dia não. É quando somos um só. O cheiro das plantas molhadas, da terra, o vento que bate, as folhas no chão - "um mar de folhas", lembra-se? - e eu mesma, em pé, às vezes, satisfeita, às vezes, não, olhando um não sei onde, pensando que coisas devem ser feitas... 

Tenho saudade de chamar alguém de pai, mas só pode ser você. Tenho saudade do seu jeito diferente de ser. Tenho saudade de nossos últimos dias juntos. De todas as lembranças, essa é a pior delas. Gostei de cuidar de você, sozinha, longe de todos.

Não consigo ainda lhe escrever. Trava-me. Alguma coisa abre no peito e se alonga em um vácuo, um saco de papel onde haveria pães, mas, hoje, apenas o nada.

No Prado, fingi poder vê-lo nas esquinas. Lembrei-me das pessoas que você gostava e que também andavam pelo bairro.

Não o vejo nos meus irmãos. Vejo-o à volta da minha mãe. Vejo-o no sofá de quarto que não existe mais. E em mim, que já nem mais sei.


Suzana

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

sexta-feira, 21 de setembro de 2018


Fiquei independente. Sou dona de tudo que sinto. Ninguém mais desvia a minha rota.

Salvei muitas vidas. Ninguém me salvou. Mas foi no ato de salvá-las que me fortifiquei. Hoje, nem preciso mais salvá-las, mas salvo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018


Àqueles que gostam de ler meus blogs: Parei de escrever e não é por falta de vontade ou inspiração. Há muitos meses, perdi minha mesa na posição adequada, meu laptop (atualmente está dentro do armário de roupas), a visão que eu tinha, o sossego, uma certa rotina... isso tudo e o bater dos meus dedos no teclado impulsionavam a minha inspiração e por consequência a minha escrita.

Eu me mudei de endereço duas vezes em exato um ano, passei por uma cirurgia de recuperação demorada, fiquei semanas com a minha mãe e até hoje não alcancei meu laptop. Minhas constantes frases soltas são digitadas com um dedo (o médio) no meu IPad. Não tenho mais meu canto. É preciso certa estrutura material...

Beijos!

O auge da minha maturidade percebi enquanto eu limpava o meu vômito pela certeza de que ninguém mais faria isso por mim. 

domingo, 9 de setembro de 2018

A dor da cegueira


Esta noite, em sonho, senti a dor do cego. Duas ou três pessoas diziam-me coisas, creio que me diziam para levantar a cabeça, abrir os olhos e ver. Eu estava diante de uma mesa vazia. Por duas ou três vezes, tentei. Eu tentei. Com dor, abri os olhos como se abrisse portas pesadas, as pálpebras subiam pesadas... as pálpebras não se sustentavam porque era muita dor, clarão e frio. Por dentro, eu dizia-me, não vejo, não vejo, não vejo. Eu nada via o que já tinha visto! 

Setembro, 9

quinta-feira, 6 de setembro de 2018


Se você ama não podendo olhar de lado, você não ama. Esse amor é absolutamente frágil. Isso é qualquer coisa, menos amor.

Melhor entregar-me novamente. Era 16 de agosto e eu falei bastante. No dia seguinte, bateu-me violenta dor de garganta. Dizem que se não falarmos a garganta adoece... pois, falei, falei, meus cabelos pesavam-me às costas... Falei e adoeci. Até hoje não me recuperei. Qualquer tentativa de vida prostra-me! Os remédios não estão funcionando. Não falei tudo? Foi isso?

Talvez não tenha falado... um oceano não cabe num rio...

Não cabe em mim o que me mata.



O homem não perdoa o menino, e, por isso, o menino esperneia no corpo do homem envelhecido. E o menino tem medo. Não sei quem ganhará essa luta. Dei a mão ao menino, estendi minhas asas, falei para ele, fala, fala, não tenha medo... Talvez, amanhã, sua garganta adoecerá.

Um oceano não cabe num rio... o menino não se cabe dentro do homem envelhecido que carrega um barril e uma agenda.

Cabe nele tudo o que o mata.



Eu não gosto de diarios. Eu gosto de outras coisas.

Setembro, 6


quarta-feira, 5 de setembro de 2018


O mar é meu pra eu olhar. Não quero nele morar. Em frente ao mar, ninguém é pobre.

Se eu te convidar para um passeio, saiba, é só um passeio.


Cheguei há dez dias. Descansei bastante por lá. Comi muito. Engordei um quilo por semana e isso é, de fato, a minha única certeza, mais nada. Longe estou atrás de certezas - quero nenhuma -, basta-me o simples respirar. Mas eu queria me sentir em casa, queria novamente ser engolida pela rotina e o que tenho é apenas a sensação de que ainda não cheguei. 

Não consigo colocar a casa em ordem. Prorrogo compromissos. Quando olho para a manhã já a encontro tarde. 

Tudo parece novo. Tudo parece diferente, mas sei que nada mudou. Talvez, eu.