EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


terça-feira, 30 de janeiro de 2018


"_ Fracasso é algo subjetivo, Suzana!

_Claro que é! Mas não paga contas."


Ninguém vive de quimeras.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018



Tenho pena das pessoas que se calam antes da hora. É triste. Sinto-me como se estivesse em um velório. Mas velórios são para os mortos.
Ele me disse que os espartanos tinham absoluto orgulho de suas armaduras. Quando iam para as guerras, respeitavam a seguinte lei: 'Volte abraçado ao seu escudo ou deitado nele, mas nunca sem ele'.
Ele me disse isso para explicar o valor de uma pessoa com armadura. Às vezes, ela salva o seu grupo.
Janeiro, 29

O fracasso me trouxe até onde estou e isso é maravilhoso.


domingo, 28 de janeiro de 2018

Vencemos


​Ninguém havia me dito que a questão era nos mantermos vivos. Até então, eu tinha meus romantismos. Eu os tive até outro dia, para ser franca. Parecendo bolhas de sabão sumiram no ar, todos eles, despencaram ao chão ou simplesmente evaporaram-se. Talvez, ou com certeza, eu tenha tentado agarrar alguns deles, mas isso agora pouco importa. Estamos vivos. Eu não pensava nisso, nem quando fui às pressas para sala de cirurgia, e isso foi mais de uma vez e duas.

​Mas, ontem, eu percebi definitivamente. Veio um clarão ao tomar conhecimento e participar, mesmo à distância, via WhatsApp, de um encontro da minha turma da faculdade. Passaram-se trinta anos e foi um pouco difícil reconhecer alguns dos colegas, mas, de repente, se fez dia, e eu os vi, e voltei para trás e entendi que somos vitoriosos, pouco importando nossos endereços e nossas contas bancárias. Nós estamos vivos e inclusive continuamos quase os mesmos...

Era só isso, meu Deus? O segredo era vencer doenças, intempéries, o tempo, a nós mesmos?​

​Então somos fortes e ponto final.


Janeiro, 28​

Sobre ontem


Vencemos! Estamos todos vivos.

- 30 anos de formados -

sábado, 27 de janeiro de 2018


Então, é assim: sou cega, burra e idiota porque não concordo com os seus pensamentos e crenças. Entendo que o melhor critério para se avaliar alguém é este: irei a sua casa e conviverei com você e os seus por um certo tempo.
Todos os outros critérios são falíveis.
Janeiro, 27

terça-feira, 23 de janeiro de 2018


Eu nunca vivi mais de dez anos na mesma casa. Tenho cinquenta e um anos de idade. Tem gente que mora, no máximo, no segundo endereço, e é mais velha que eu... frequenta a mesma praia, da mesma cidade, a mesma igreja, o clube de sempre. ​Usa o mesmo estilo de roupa, tem os mesmos amigos de sempre... isso é bom, mas, no meu caso, que, desde o nascimento, não paro, é um pouco difícil, claro, eu já tentei, cartas e mais cartas, atualmente, e-mails... mas a falta de contato esfria qualquer amor. 

Não sou volúvel. Estou casada com o mesmo homem há mais de duas décadas. Tive o mesmo cabeleireiro por vinte anos, tenho o mesmo médico angiologista, desde os meus trinta e quatro anos de idade, embora eu more há nove anos fora do Brasil. Eu também não me desagrado das coisas e por isso, mudo. Meu último endereço no Brasil foi o melhor que tive em toda a minha vida. Fui feliz e desinfeliz lá, vivi, eu, que me mudava de dois em dois anos, morei nesse lugar por seis anos. Faz pouco tempo que parei de relembrar, de molhar meus olhos por me lembrar... mesmo assim, quando vou a Belo Horizonte, paro o carro em frente ao prédio e choro.

Tenho bolsa de festa que pertenceu à minha tia-avó em sua juventude. Tenho casacos que comprei na casa dos trinta anos. Quase tudo que ganhei de presente de casamento, eu tenho até hoje.

Mas, em nove anos de Estados Unidos, estou em meu quarto endereço. Eu realmente não paro. Não sei se é sina, se é mania, não sei se são sonhos em demasia... Na mesma cidade, passei, em seis anos, por quatro academias de Jiu Jitsu. O último proprietário e professor disse que a gente só para quando está satisfeito. Pode ser isso. Pode não ser.

Eu as vejo, essas pessoas que se estacionaram faz tempo, eu as vejo como se eu estivesse dentro de uma bolha e elas não. Isso soa estranho. São elas que vivem em bolhas, nos mesmos círculos! Talvez, seja o movimento da bolha que faz a diferença... A minha bolha alaranjada, sim, ela é colorida, ela rola comigo dentro, e, dentro, eu também rolo. Há um brinquedo assim. Você entra em uma bola de plástico, gigante, transparente, e rola em uma lagoa preparada para isso. Penso que a minha bolha não patina em terreno preparado, ele é 'para preparo', "obras à vista", só pode ser.

Cada um carrega seu segredo jamais revelado. Esse é o meu. Desisti das respostas, mais ainda das perguntas.

Entretanto, apesar da existência mutável, eu permaneci quase a mesma, até dois ou três anos atrás.

Hoje, convivo com meu novo 'eu' como se tomasse chá, num fim de tarde, olhando-me, a nova se olhando, entendeu? A nova olhando a nova, a que tomou o lugar da velha que se foi, não existe mais. É um processo fantástico de descoberta. Talvez, agora, a bolha alaranjada esteja em águas seguras e cristalinas. Há um quê de cristalino em toda pessoa nova, não importando a idade.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Sobre aqueles dias...


Ela, tão criança ainda, procurava formas de me distrair. Disso não me esquecerei. Tornou-se dona de mim, do espaço à minha volta, do tempo; foi absoluta. Desprezo a lembrança de quase tudo - eu sempre boazinha digo 'quase' -, mas disso eu não me esquecerei. 

Cozinhou arroz e mingau para mim, fazia misto-quente quando a fome chegava fora de hora. Acendia e apagava as luzes quantas vezes eu pedisse, inventou brincadeiras fáceis para mim, colocou o celular para tocar músicas que eu gosto. Dormia ao meu lado com o cuidado de não me chutar durante a noite. Ela me vigiava. E velava. 

Foi a minha mãe. 

Eu era apenas uma velha triste.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Nove anos...


É inverno e chove, clima diferente em uma vida também diferente... Nove anos se passaram e parece que foi ontem, ou, no máximo, há nove meses... Sempre chove neste dia. Hoje, fez muito frio e ventou bastante. 
No pinheiro, a passarinha não sai do ninho. É uma colibri! Ó, meu Deus, obrigada! Perto de onde eu enterrei um, nascerão dois! A passarinha cuida. Ter filho é ter responsabilidade. Os ventos agitam os galhos para cima e para baixo; um balanço, e ela passou o dia todo no mesmo lugar, zelando pelos ovos. 
Singelo ser responsável e amoroso, ah, isso é amor... singelo ser que nos fez sorrir. Feito promessa.

Janeiro, 20

Eu celebro a nossa força.


Ops, não choveu hoje!

terça-feira, 16 de janeiro de 2018


Ela disse que vai ter uma rede (para balançar) quando se aposentar. Eu nem respondi. Fingi que não ouvi. Viver é arte difícil, fazer planos é que é fácil. Detesto lista de planos. Detesto o uso indevido da frase "Eu te amo". Detesto muita coisa, mas eu não vim falar disso. Então, ela disse que terá uma rede na casa dela quando ela se aposentar. 

Eu deveria rir disso. Bom, estou rindo agora. Lembrei-me desse fato porque fui à varanda pendurar a minha rede que acabei de tirar da secadora de roupas. Viver é arte difícil, fazer planos é que é fácil. Morar na praia, ter uma casa de campo, ter piscina no quintal... Eu tenho tudo isso, a rede, a praia, a casa de campo e a piscina no quintal (do condomínio, mas pertence a mim também, claro!), então eu sei do que estou falando. 

Eu só não tenho aposentadoria. Eu nunca pensei nisso, soa ruim, parece aposentar a vida. E eu não tenho planos, nem falo "Eu te amo" por falar. Não se trata também de frase sagrada e imortal; eu já deixei de amar algumas vezes, e de falar.

Quando eu me "aposentar", eu quero o que já tenho, pessoa para eu rir junto, com vontade, incontrolavelmente; para desligar a música ou o jogo somente para me ouvir, por desejar me ouvir mais ainda ou se cansar e dizer que se cansou, que eu sou uma chata, mas que sou bonitinha demais, apesar de chata e brava. Pessoa disponível ao toque, ao abraço, sempre disposta a sentar-se à mesa para me acompanhar na refeição mesmo que não coma nada. Pessoa que parece sempre tempo bom, céu claro, dia azul, descanso, rede, mar, um prado com uma única casa... E nos momentos ruins, quando o dia se fecha de escuro e fúria, que seja silêncio. 

Ela disse que vai ter uma rede quando se aposentar e eu deveria ter dito alguma coisa, mas a vida é uma caixa de remédio personalizada, cuja bula, também personalizada, não pode ser lida por outros olhos. Talvez, por exemplo, o que é rede para mim é aquisição que dá trabalho para ela.


Suzana Guimarães



segunda-feira, 15 de janeiro de 2018



Ontem ou anteontem, escrevi para uma amiga, "Eu também não estou para muita coisa". Depois fiquei pensando nisso e ainda estou assim, pensando sobre, inclusive, hoje, na rua, para eu retomar minhas atividades que a mim parecem novidade e não são, só parecem ser, fiz da frase, um mantra. É delicioso repeti-la!
Eu também não estou para muita coisa, basta-me minha passada lenta, quase exausta. Estou exausta! É algo físico. Tive um problema de saúde, mas estou bem agora. Por ondando, perguntam-me onde estive nos últimos meses...

Eu estive em mim. Não me deram muitas chances de estender esse estado. Então, fiquei em mim, morada sagrada.

Por imposição da vida (e por grande amor) voltei ao mundo comum, mas...
"Eu não estou para muita coisa."


Janeiro, 15

sábado, 13 de janeiro de 2018


Tem umas coisas tão absurdas...

O príncipe inglês, sua mulher e os dois filhos constantemente aparecem em fotografias vestidos, todos eles, com a mesma cor, ora azul claro, ora lilás... Como conseguem? Não atingi esse nível em minha vida... 

Ajudar os outros é um dom ou esperteza. Ajudar os outros é fácil; mais fácil ainda ajudar a si mesmo.
Divagar é refletir, eu gosto de divagar. E gosto, às vezes, de escrever, mesmo não ganhando nem um centavo por isso.
A consciência de si mesmo é muitas vezes fonte de inspiração para outros. 

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018


Ele abriu uma fresta da persiana e disse, "Abra a cortina e escreva para a árvore". É um pinheiro bem alto, já sabedor de mim, onde passeiam esquilos, pássaros fazem voos solitários ou em bandos, e à noite pousam as corujas. Fica bem em frente à mesa de escrever, agora, outra, pequena, de metal, onde só cabem um laptop, duas mãozinhas de madeira feitas na Indonésia e o mouse com seu tapetinho. A persiana se divide em duas partes, verticais, o pé direito duplo exige metros de material... a parte menor dessa cortina esconde a minha mesa. É só abrir para ver uma paisagem constante, mas viva, real, minha. Toda para mim... mas eu me esqueço...

Deveria esquecer outras coisas, fatos e pessoas, principalmente, essas, e quanto a isso posso dizer o universo conspirou, e, por motivos pessoais, comecei a esquecer, processo físico. 

Com prazer, paguei multa outro dia porque eu esqueci. Ri, satisfeita. E estou esquecendo detalhes, lista de compras, o tanque de gasolina se esvaziando, as coisas nos cantos, espalhadas, esquecendo a vida, parando de pensar nela, tentando somente arrastar-me na rotina; rotina, isso, aquilo que faz a gente mais gente.

"Escreva para a árvore"... Meu Deus, e eu já ia me esquecendo dessa última frase. De desfecho.


Janeiro, 12

You do not know the word. The word is "cafuné".



Escrevi poucas linhas, dias atrás, sobre adoção, caridade e trabalho voluntário em terras estrangeiras... Muita gente não gosta, entende que é julgamento... pois bem, acabo de ler o final da história do cara preso na Venezuela. Acompanhei, primeiro porque tive pena, até rezei por ele; segundo, porque a história estava soando estranha demais... agora, o cômico desfecho.
Não sei se choro ou rio de tamanha babaquice.

domingo, 7 de janeiro de 2018


Quem é brasileiro não precisa adotar filhos ou fazer caridade fora do Brasil; ou mesmo trabalho voluntário. Se eu fiz? Fiz, só não adotei filho. Meus pais sempre ajudaram as pessoas e eu segui os passos deles. Eu pegava ônibus em Belo Horizonte para chegar à creche, ou ia e voltava para casa a pé. Eu tinha cerca de dezessete, dezoito anos... Aos trinta e poucos anos, fui voluntária em Juizado Especial. Eu não entendo quem precisa ir para fora do país. Coração é terra de ninguém, mas eu me atrevo a dizer que, em terras estrangeiras, isso soa chique para muitos.

A palavra é: lamentável.

Janeiro, 7

"Parabéns pra você, nesta data querida...".
Estou na varanda e esse som vem do prédio um pouco à frente de onde moro.
Ouço palmas.
Até então poderia ser delírio, eu ouvindo demais, além, mas as palmas são brasileiras. Americanos não batem palmas quando cantam "Happy birthday to you...". Já falei sobre isso, parece lamento, é triste, não gosto.
Não tenho saudosismo. Não nesse caso. Não estou com saudades do Brasil, somente da minha mãe. O 'delírio', a desconfiança disso, é fato normal há nove anos, enfim, desde que cheguei aqui. Às vezes, ouço sons que me levam a acreditar que são palavras em Português, mas não são.
Parece que vi uma estrela cadente ou um arco-íris, só isso, mas é bom. Não sei explicar. Deve ser um retorno a toda uma história; a minha.

A minha história pode caber em umas palmas...


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Para 2018 ficar melhor!


1. Aceite com serenidade a rejeição e não roa as unhas, elas não alimentam nem alma e nem estômago.
2. Aceite quando perder.
3. Comece de novo, você ainda está vivo.
4. Aceite a solidão, se você não é gêmeo de outro, você nasceu sozinho.
5. Não lustre o metal barato; todo mundo sabe a verdade, ou, pelo menos, desconfia.
6. Esqueça quem você rejeita e volte ao número 1, acima.

Para 2018 ficar melhor.

Janeiro, 4