EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Quando eu era Xovem (meu sobrinho fala assim), bastava arrumar a malinha e sair. Agora que não sou mais Xovem, tenho que arrumar a malinha e toda uma estrutura de governo, pareço um país.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Eu gosto de pessoas gentis. Um amigo ex-virtual foi à missa de sétimo dia da minha irmã em Belo Horizonte. Minhas amigas de infância também, embora não nos encontrássemos há décadas. Um amigo virtual recente me enviou de presente um livro que eu queria ler. A minha prima na Califórnia me presenteou com vários vasos de plantas e outras coisinhas mais. Fui convidada a participar de um grupo fechado de meditação e esse grupo me conheceu outro dia. Tem amiga virtual e não virtual (e isso é apenas conceito) que me enviam mensagens para dar notícias e também perguntar por mim. Eu gosto de pessoas gentis e procuro ser assim também, embora (viciei-me nessa palavra) não esteja sendo ou não esteja apenas, ou não estou sendo apenas, ou não estou aqui e nem aí. 

Mas é isso. Contemplo o meu umbigo como se nunca antes... contemplo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Tenho medo de pedir coisas porque sei que a realização dos desejos traz junto coisas ruins. 

Você não vai estar aí quando eu chegar. Bom, pelo menos, os meninos ficaram felizes com a viagem do A. Até comemoraram.

Não vai ter você e Didith no aeroporto. Ela, muito cheirosa e vc muito elegante. 😔

domingo, 12 de dezembro de 2021

Cada movimento meu será um tempo mais de vida para a minha mãe. Era início de ano quanto eu a vi em sonho, morta. Jamais poderíamos adivinhar a desgraça que nos atingiria, mas ainda há tempo, e, igual ao sonho, eu insisto e grito para que ela viva. Nunca pensei muito sobre a minha relação com a minha mãe, apenas a vivi, apenas vivo.
To indo para o Brasil. Cessa tudo quanto a musa antiga canta quando um poder mais alto se alevanta..

sábado, 11 de dezembro de 2021

ela é constante recordação

Faz muito tempo. A gente dividia um quarto, morávamos com nossos pais. Aos sábados, ela levava um radinho para a cama, ligava numa estação romântica, as melhores músicas daquele ano para ouvir e sonhar. Perguntava se me incomodava. Não,  não me incomoda, pelo contrário, gosto, deixa tocar. E a madrugada nos engolia em profundo silêncio de nós mesmas, o único som era o do rádio... BH fm... a gente ouvia até o meio da madrugada. A gente então dormia.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

"It's a feeling like I'm living inside a long, long line of Wednesday afternoons in February. They stretch out forever-all those Wednesday afternoons, all the same. No leaves, no flowers, no colors, just gray. I look down that line of days and it's... a void"

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Vi Didith em sonho, hoje. Entendi agora que às vezes sonho com ela, mas com o cabelo em rabo de cavalo ou solto como era e isso são minhas memórias. Quando ela aparece com o cabelo mais curto é diferente e assim foi naquela madrugada no CTI e no sonho com a roupa rosa. Terceiro sonho: mãe apareceu porque eu chamei e ela vinha atrás dela. Estava com uma blusa preto brilhante de pelúcia e por cima uma camisa de botões, aberta, estampada de flores vermelhas, rosas, alaranjadas, azuis... estava de calça comprida, não lembro a cor.

sábado, 4 de dezembro de 2021

À noite, no meu quintal, fiquei mexendo nas roseiras e pensando, Didith, onde você está tem rosas, tem flores?
No outro dia, mãe sonhou com ela. Ela dizia: onde estou tem flores.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Dezembro


Ontem, eu comecei um texto mentalmente, mas hoje eu não o tenho mais. Ontem, eu tinha um país, uma família e amigos, mas hoje eu não os tenho mais. Os amigos não eram amigos, o pai e a irmã se foram, e um irmão que dele ficou apenas a sua carcaça. O país levou um tabefe de outro, caiu no chão e grita silenciosamente por amor eterno. 
Ontem, eu quis falar sobre dezembro de 2021, mas as obrigações e as distrações levaram-me para longe, ou foi o mal físico desconhecido que me tombou em pura covardia e na saída se intitulou luto? Não sei. Esse ano foi o mais longo da minha vida, o mais desfocado, alguém biruta me mirava por binóculos e ria.
Percebo que não sei falar do que vivi  e nem sei se vivi. Talvez tenha tudo sido um lapso entre ontem e agora e eu perdida e desequilibrada tento manter ritmo num corpo já se desestruturando. No fundo, a gente deve ser só alma e nem sabe.
Ele jogava-a na cara que teria por obrigação cuidar dela, mas ela morreu. Ela morreu e ele a devia muito dinheiro. Ela nunca realmente precisou dele, ele, sim, dela.

Verdade eterna.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

"Ego: esse calabouço de luxo onde vivem os equivocados". 

Van Luchiari 


sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A rainha de espadas disse para eu ser emoção, mas isso eu já tentei ser várias vezes, principalmente depois dos 40 anos e tomei bomba. Melhor ser o que eu sei melhor, lógica e pragmática. Das vezes em que fui emoção perdi o controle, todas elas, da mesma forma que o bêbado perde o dele diante das garrafas do bar. Enchi a cara. Passei pelas fases, macaco, leão, porco, incontáveis vezes, rastejei pela sala como um verme. Essa é uma certeza de mim. Melhor assim, quase robótica, lugar onde  caminho serena.

"Há pessoas que nos roubam... Há pessoas que nos devolvem..."

Beatriz Schneider 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Fiz meditação num grupo fechado. Eu me senti pedra, o povo vendo arco-íris e eu tentando afrouxar a tensão nas costas.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

"Há uma dor na alma, essa que a gente pega, num golpe de vento, quando vira a esquina e parece que nunca vai passar". sílviap.

domingo, 21 de novembro de 2021

"Existem distâncias que são necessárias. Há pessoas que devem continuar fora de suas vidas e relações. Rupturas que devem continuar como estão. Isso não significa carregar raiva, pesar ou não saber perdoar. Significa que você se respeita e se protege. Alguns distanciamentos são na verdade, grandes livramentos". 

Layde Lopes

"Só vale morar em alguém se não nos ausentarmos de nós."

Por Beatriz Schneider

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Há coincidência também nas mortes.

Em 2013, morreram meu pai e tio Moacyr (irmão da minha mãe). Em 2021, Deco (filho do tio Moacyr) e Didith (minha irmã) faleceram.
Ela faleceu aos 58 anos de idade, mesma idade da minha prima Sônia.

sábado, 13 de novembro de 2021

Hoje foi dia de festa para mim, mas esqueceram de me avisar. A minha filha convidou seus amigos para passarem um dia em nossa casa. Ganhei caquis, maracujás e goiabas. A Edna Keena chegou de surpresa com uns dez vasos de plantas para mim, mais caquis e presentes de aniversário e natal. Assim. É como diz a minha mãe, essas são as melhores festas, os melhores presentes.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

da Regina Bezerra para mim...

"E ela veio para acalmar a sua angústia, para dizer que está muito bem e que de quebra encontrou o amor eterno.
Ela veio porque você merecia saber que ela está bem.
Ela veio porque ela agora é luz e pra certificar a você que o passado passou e agora você pode seguir sua jornada aqui com tranquilidade".

Sonhei com a minha irmã. Ela estava nova, com os cabelos mais curtos, saia longa de tule muito linda rosa seco, rosa chá, blusa justa no corpo, sem mangas. Estava de mãos dadas com um rapaz moreno, cabelo estilo militar, dentes alinhados, brancos, perfeitos, sorriso lindo; da altura dela, magro, de camiseta clara e calça comprida. Ela estava muito calma e amorosa. Ele também estava amoroso. Pareciam um casal. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

"O afeto é feito de miudezas. É isso que é grande".

Por Livia Garcia-Roza. 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Marília Mendonça, eu não conheço, mas sei que era a cantora mais famosa da sofrência... morreu na queda de um avião na cachoeira linda de Caratinga para onde meus primos e irmãos muitas vezes fomos... que tristeza. Vinte e seis anos apenas... toda morte me leva para a morte anterior.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Hoje é dia dos mortos e eu que nunca dei valor a esse dia vasculhei algum motivo para passar a dar a ele significância, mas não há. Penso na minha irmã que não verei mais. Ah, eu sei, tem gente pensando que estávamos brigadas e que eu deveria ter sido melhor, ela deveria também ter sido melhor, que nós não soubemos aproveitar a vida que havia e blá-blá-blá. A gente ficou um longo tempo brigadas, mas havia 10.000 km nos separando e quando nos encontramos, a gente voltou a conversar, sim, dei presentes para ela, ela disse que tinha comprado salgadinhos e a torta de pão de forma que tanto gosto, a gente combinou de resolver juntas certas burocracias, a viajar atrás de documentos e que iríamos comer a torta st. Honoré. O que nos faltou foi apenas distância geográfica mais curta porque brigar, a gente brigava mesmo, mas éramos de verdade e podíamos confiar uma na outra. Não a incluo nesse dia dos mortos. Pelas manhãs, a minha irmã abria a janela da sala e dizia bom-dia sol, bom-dia dia! Ela amava café da manhã, amava o nascer do sol, vestia roupas coloridas, estava sempre cheirosa, era disponível e presente nas vidas dos mais próximos; tinha gênio terrível, mas quem é de todo maravilhoso? Ninguém, exceto os falsos. Nunca gostei de dia dos mortos, nunca gostei de dias especiais. Sou a vida de hoje e de ontem, sem etiquetas, sem códigos e rótulos. Sou vida, e até a morte está dentro disso, da vida. 
Detesto detestar alguém porque isso dá trabalho.

sábado, 30 de outubro de 2021

Didith morreu, Didith morreu, Didith morreu... às vezes penso que só repetindo isso na minha cabeça para que eu acredite.
Deus sabe o que faz. Enviou-me para lá porque Ele sabia que se eu estivesse aqui, ia ser pior. Eu deveria agradecer, mas não consigo. 😔

"Chega-se num sopro, vai se embora num sopro. E no meio, os ventos".

Por Livia Garcia-Roza. 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Breviário

Beição só é bonito se for natural. Reparo axilas não depiladas, sim, cravo os olhos, não consigo evitar; para mim, homens e mulheres deveriam depilar as suas. Calça jeans rasgada só fica lindo em adolescente. Calça caindo bunda abaixo é horrível. Desnecessário mostrar tudo. Desnecessário falar tudo. Desnecessário ousar demais; ouse naturalmente. Bigode, não gosto, nem em homens, nem em mulheres. Tenho paciência com os idosos, mas gosto mesmo é de crianças e jovens, eles detêm o futuro. Gosto de tapetes, redes e cestas. Gosto de abajour, de cerveja no calor e vinho no inverno. Gosto de cremes faciais, uso protetor solar no rosto diariamente e gosto de hidratar meus pés antes de dormir. Gosto de homens, mas cansei dos rudes e perdi a paciência com os bobos. Gosto muito da minha mãe, da minha filha e da minha cachorra. Tenho uma nora, tenho um ou três amigos, sou reclusa. A minha filha disse que os mais velhos que eu estão morrendo. Sim, estão.  E poucos estão nascendo. Quero netos. Quero dez dias consecutivos de paz. Quero morrer velha e rindo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Ontem, eu queria dizer que o luto é um cavalo sem arreios, faz o que quer, aparece quando quer no infinito das ideias da alma. Hoje, transplantei algumas suculentas que pareciam morrer porque toda planta que para de crescer está morrendo e eu esqueci ontem. 
Esqueci porque cultivar, cuidar, plantar, tratar o verde nos dá a sensação de que vale a pena todo esforço, e que amanhã provavelmente a plantinha vai agradecer, embelezar-se e dar flores ou frutos ou tão somente a sensação de vida. 
Ontem, hoje, faz tempo que a vida, a minha vida virou um embaralhado. Esse luto de agora revelou-me que para tudo há um tanto faz. Tanto faz estar feliz ou triste, estar correndo pelos campos ou preso ao chão por raízes. Tanto faz você e eu. Tudo é cíclico. Tudo tem cheiro de terra. Apenas não queremos ver.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Só dá quem tem e até transborda. Quem não tem, não sabe dar ou vive sob escala de prioridades - um autômato do amor. Dou atenção, amor e companhia porque em mim, transbordam. Feito uma esponja, absorvi amor e desamor, todos os sentimentos positivos e negativos e os filtrei. Faço bom uso daquilo que deixei em mim.

Quem não tem é pura aridez no teatro da sua vida particularmente certinha.

domingo, 10 de outubro de 2021

É sempre assim: de onde menos se espera é onde encontramos consolo, empatia, solidariedade, carinho e atenção. A morte da minha irmã revelou-me muitas verdades ocultas, deu-me presentes preciosos inestimáveis, reencontrei amigos da nossa infância, reatei laços desfeitos e deparei-me com pessoas dispostas a nos alegrar e confortar, a mim e a minha mãe,  pessoas que pareciam ser apenas a vizinha, o taxista, o cara que fazia pequenos reparos no apartamento. De onde mais se espera vem quase nada, se vier.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A minha irmã foi a primeira pessoa morta que eu beijei o rosto, sapequei um beijo em sua bochecha, senti o cheirinho bom dela, gostei, e lhe apliquei outro beijo, na mesma bochecha. Por causa dela, pela primeira vez, desacredito em vida após a morte. E pela primeira vez, sinto mau humor no meu luto. A minha irmã foi a primeira morta que eu não vi cor de cera, mas viva, parecia viva, bem viva, apenas num sono pesado que nunca teve.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Eu estava ótima ontem e hoje até ao meio-dia.

Agora, bate um silêncio interno...

sábado, 2 de outubro de 2021

Nunca pensei que a "dona Hermínia", o meu primo Deco, a minha sogra, o Tarcísio Meira e a minha irmã morreriam no mesmo ano.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

29 de setembro

Amanhã, você faria 59 anos. Nós não vamos poder brigar, você não me pedirá para coçar as suas costas, você não vai imitar pai, não haverá torta da Mole Antonelliana (que eu adoro!) e nem a bomba recheada com creme de baunilha (que você adora!). Não vamos comer coxinha de galinha com catupiry, nem tomar caldo de cana. Acabaram-se os passeios nos Shoppings, no Alphaville, já não mais existe mesmo o Vilaggio. 
Acabou. Acabou tudo de uma hora para outra. Ainda bem que você me esperou chegar. Ainda bem que ficamos juntas aquelas horas todas no hospital. Foi a nossa história, do nosso jeito a nossa história onde ninguém nem pensar deve porque de nós, nós sabíamos. Perdi a minha pessoa de confiança, perdi a pessoa que amava muito meus filhos, perdi um pouco de mim ao perdê-la.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Há dias em que estou muito bem; dias em que não tão bem e dias em que oscilo para os dois jeitos, e assim sigo no meu luto. Há momentos em que creio em almas e vida além do corpo, e há extensões sem fim de mim na total descrença. Pelo menos, agora, eu tenho sono e durmo. E cada acordar é incerto, ora bom, ora mau. Certos mesmo apenas a contraposição da noite para o dia e a sensação vívida de que a qualquer momento despertarei.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Eu estou me movimentando. Vida é movimento, não é? Apesar da tristeza, me empurro e ajo. 

Sem palavras suficientes para agradecer os carinhos dos amigos. Amo. Gente sem preguiça que desce os dedinhos no teclado para me alcançar, confortar, e também me empurrar morro acima todo florido. 

Muito, muito obrigada por esse tempo de fraternidade, empatia e amor.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

16 de setembro

Hoje faz um mês. Eu havia passado a noite ao lado dela, numa poltrona. Ela dormia, sedada. O CTI era silêncio quando cochilei sentada, entre cinco e cinco e meia da manhã. Sonhei com ela. Ela, em pé diante de mim também em pé, naquele pequeno espaço, entre a minha poltrona e a cama. Estava muito bonita, os cabelos mais curtos, mais jovem e mais magra, saudável, vestia uma blusa preta pintada com cores vibrantes, mangas longas transparentes. Acordei na poltrona assustada ao pronunciar o nome dela. Cinco horas depois, ela faleceu. 

Não é a primeira morte da minha vida, não é a primeira vez que sofro ao perder uma pessoa, mas não consigo imaginá-la no céu ou no inferno, num hospital ou num campo. Para mim, ela não foi para lugar nenhum, embora não esteja mais aqui. Eu a vi crescendo comigo. Ela não foi um adulto já pronto para mim. Eu fazia planos de como cuidar dela na velhice... Todas as minhas crenças espirituais rolaram ralo a baixo; junto com minhas lágrimas. 

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Quebrado. Os americanos possuem a melhor expressão. É assim que me sinto. No começo, fui diligente. Depois, muito forte. Agora, em cacos, quebrada. Difícil é a reposição desses pedaços.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Peguei algumas coisas da minha irmã para mim, dentre elas, um protetor facial La Roche-Posay que estava no armarinho do banheiro, um colírio, um sorine, dois tubos de cânfora em gel, uma caixinha de remédio para dor que estavam na gaveta da escrivaninha e um potinho de goma de mascar de menta pela metade. Hoje, me vi olhando demoradamente para esse potinho de bala e vi que as histórias se estendem profundamente entre o sentimento da saudade daquilo que nunca mais será de novo e o dia de hoje acenando para o amanhã. Didith permanece nas coisas dela, e isso é consolo. 

Pensei nisso e pensei também que não devo mais dizer que ela faleceu, morreu, mas que ela desencarnou, foi embora, parou de brincar, quis mais não.

Setembro, 9

terça-feira, 7 de setembro de 2021

meu luto...

Continuarei assim, sofrendo meu luto e chorando. Posso. Devo. Nunca choro. Passo quatro anos sem derramar uma lágrima, passei... Em sete anos, chorei única vez quando sofri numa cirurgia difícil, porque eu estava cansada, cheia da vida. Não choro porque seguro a emoção, nada disso, sou um poço sem fim de emoção, mas eu não choro, não tenho lágrimas, até tento. Mas vou chorar e lembrar até tudo isso em mim passar.

sábado, 4 de setembro de 2021

“De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo.” 

Adélia Prado 


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A secretária do médico para mim: se um dia você escrever um poema ou um conto ou crônica para ela, envia-me, por favor. 

Mas eu não funciono mais, nem o mundo de fora me atrai. Desculpa, Deus, mas eu não quero saber do problema do Afeganistão, nem do Brasil, nem do jornalista de Belarus. 

Estou a viver de outra forma, desconhecido jeito para dentro, caverna escura onde transito sem necessidade de sinalizadores.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

A morte daquele criminoso não "me diminui porque faço parte do gênero humano", mas sim a morte daquele homem/pai com seus dois filhos muito jovens e da mulher/mãe que assistiu a tudo e ainda foi arrastada para a mata e morta, encontrada dias depois.


Lázaro matou a mulher da chácara e proprietária de uma floricultura com requintes de crueldade. Matou, estuprou e roubou várias pessoas durante anos. Em momento algum quis se entregar. Atirou em vários policiais, inclusive num cachorro farejador. Recebeu a polícia com tiro e há pessoas o defendendo, querendo que os policiais o pegassem com flores.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

O namorado da minha tia está há mais de cinquenta dias no hospital, e também a minha prima Virginia ainda está no hospital - o irmão dela morreu de covid-19 há um mês. Também está no hospital o marido da minha prima S. Eu até então não tinha vivido algo assim, não tinha ouvido falar de tantas internações hospitalares, lido sobre tantas mortes em tão pouco tempo. Essa é a guerra que o brasileiro nunca viveu.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

 Querida Virginia, 

Estamos aflitos por você nesta triste situação causada pela pandemia, por este vírus destruidor, mas temos fé que você sairá dessa situação, a gente está rezando, emitindo boas energias para você que é o sal nesta terra. Força, mulher! Vença isso tudo e vem rir conosco.

Para Virginia

 Houve um tempo bem distante na casa da minha vó em que os primos se encontravam. Tempo esse que retorna a mim, às vezes, e quando menos espero no vento, em algum cheiro ou na visão de algumas casas e seus quintais. Éramos muito felizes, é a única certeza que tenho. Não importa se parei de me encontrar com eles, ficou um álbum de fotografias eternizado nas minhas células, basta bem pouco para esse álbum virar aquelas doces páginas de recordação. Amar e ser feliz deve ser isso, recordar.

domingo, 16 de maio de 2021

quando o outro também conta a nossa história...

Eva Wilma faleceu hoje e não foi por covid-19, mas, sim, por causa de câncer nos ovários... Ela representa a minha história, é minha tia, prima, velha conhecida, linda, linda em Mulheres de Areia, parece o parente dos mais queridos. 

sábado, 15 de maio de 2021

 

Nesta pandemia, criei o péssimo hábito de descansar xeretando o Instagram. É claro que não creio nas eternas felicidades lá estampadas, montagens de fotografias perfeitas de uma rotina e vida perfeitas entre expostos relacionamentos também perfeitos. Hoje, meu amor eterno, amanhã, foi abuso ou nos tornamos grandes amigos. Mas pior que isso, bem pior, para mim, é a existência daquela pessoa que vive de likes e seguidores, e que, por essa única razão, precisa publicar lives, stories e posts diários sobre si, sobre si e seus filhos, seu amor, seus pets, sua mãe, seu pai, a empregada, na banheira sozinha ou com eles, na cozinha, escovando os dentes no banheiro, no aeroporto, chupando picolé, pendurados nas asas do avião, chorando, desabafando, correndo na orla, pintando os olhos, segurando o celular numa tentativa de ângulo perfeito, mostrando orgulhosamente a passagem pelo quarto do hospital, bumbum de fora no avental hospitalar, touquinha na cabeça, viajando pela décima vez pras Malvinas, exibindo a suvaca cabeluda. Assim, 24/7, e os doidos, ah, os doidos, presos nos manicômios.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

 

"Não é o tempo do Teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros".

Por Dário Banas.

“Por trás de todo paladino da moral, vive um canalha.” (Nelson Rodrigues)

terça-feira, 11 de maio de 2021

Gael

 

Outra criança linda morta pela mãe, linda porque toda criança assim é. A tia-avó, no cômodo ao lado, assistindo tv, nada viu, nada ouviu como se espancamento não fizesse barulho. O mundo seria melhor se nele houvesse menos pessoas omissas. 

Gael, você se libertou, anjinho, deste mundo feio.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

 

Quem tem razão em primeiro lugar? 

O cliente.

Quem tem razão em segundo lugar?

O cliente.

Quem tem razão em terceiro lugar?

O cliente.

Por quê?

Porque se ele for embora, nunca mais volta .

Isso importa?

É ele quem faz acontecer o seu salário.



domingo, 9 de maio de 2021

 

"Pela primeira vez na história, a sobrevivência física da humanidade passou a depender de uma radical mudança psíquica da pessoa. [...] Se desejarmos aprender a amar, teremos de proceder exatamente da mesma maneira com que aprendemos qualquer outra arte, como a música, a pintura, o artesanato da madeira ou a arte da medicina ou a técnica."

Erich Fromm

"Mãe é emprego 24 horas. Sem férias, sem salário, sem atraso".

Por Symone Mota 

terça-feira, 4 de maio de 2021

 

A babá amenizou as torturas do verador no segundo depoimento ao delegado; um sujeito matou com facão criancinhas e professoras numa creche; Bill Gates está divorciando após união de 27 anos; dona Hermínia está com quadro de saúde irreversível; o jornalista mandou o advogado tomar no c... em rede nacional; a mulher que recebeu o coração de Eloá morreu de covid-19.


A gente dobra a esquina para ver um jacarandá em flor, mas os dias atuais não são para jacarandá em flor.

Vai, Deus, me ajuda, eu sou a Juliette e Você é a minha torcida.

domingo, 2 de maio de 2021

"Eu não sou a sua empregada!"

Eu costumava ir a casa deles. Sentados à mesa da sala de jantar, o motivo de riso da família era um deles pedir ao outro algum favor, servicinho, ajudinha, o que eu chamaria e chamo de pequena gentileza. Era pedir para ouvir, "Eu não sou seu empregado."
Eu não ria. Não ria porque não achava a mínima graça naquilo. Eles riam como se aquilo fosse a maior piada e a mais engraçada do mundo. 

Servir alguém nunca me diminuiu. E também nunca me aumentou. Nunca fez a mínima diferença para o tamanho do que sou e me entendo. É um ato como outro qualquer; banal.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Abro a porta da minha casa de manhã cedo e aspiro cheiro de mar. Penso, moro na praia. Isso se repete há doze anos.

Sobre os espancamentos com consequentes mortes do Henry (4 anos) e da Ketelen Vitória (6 anos) efetuados por quem deveria ter amado-os e protegido-os.

 

Como a pessoa consegue começar e principalmente não parar? Não tem nada para impedi-la? Não tem nenhum sentimento que possa interromper essa violência? Nada passa dentro daquele ser além da escuridão da violência? Nenhum freio?

Como a pessoa consegue assistir, saber... e nada fazer? Como pode ser tão omissa?

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Das conversas:

 

 - Fiquei mal depois que passei por uma histerectomia.

 - Não há problema nenhum nessa cirurgia, a minha ex fez e também a minha irmã.


Das conversas:

 

- Sou puta. Transei com mais homens que os dedos dos meus pés e das minhas mãos.

- Se você gosta...

- Você é madame, dondoca.

Das conversas (o que ouço)



Das conversas:

- Eu também cuido de tudo sozinha na minha casa.

- Quantos são na sua casa?

- Eu vivo sozinha.

- Lá em casa são cinco.




Das conversas:

- Estamos iguais porque ter dois filhos é o mesmo que ter um.

- Ah, sim! Não sabia que dobro é igual a um.


400 mil vidas perdidas para a covid-19 no Brasil, infelizmente, segundo as estatísticas. Os últimos 100 mil óbitos foram registrados em apenas 36 dias.

 

E a doença não atinge apenas as pessoas mais velhas. O mundo continua em rio de lágrimas, enquanto muitos não se importam ou simplesmente negam o problema.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

 

Depois que a polícia desmonta a versão da Monique Medeiros, suspeita de participação na morte do filho, ela passa a alegar que vivia um relacionamento abusivo com o namorado. Tenho ódio disso! Agora é assim, qualquer coisa e alguma mulher alega relação abusiva para pena das verdadeiras mulheres que sofrem realmente abusos.

sábado, 24 de abril de 2021

Jatos de combate sobrevoam a minha cidade. Prefiro o som dos patos.

Xereteiros

 

Quando eu penso que é apenas um caso em mil, descubro que há muitos adultos nascidos nos anos 1960 e 1970 bisbilhotando as conversas dos pais no WhatsApp, lendo emails... xeretando conversas às quais não foram chamados apenas com o intuito de matar a curiosidade. As novas gerações são mais adultas e respeitosas, menos sem educação.


Abril, 24

segunda-feira, 19 de abril de 2021

32 dias sem comer carne de porco e de boi.

Vacinação


Jornal brasileiro dizendo que nos EUA as pessoas marcam a vacinação por telefone ou via net e podem escolher qual vacina tomar. Só se for no resto do país porque na Califórnia não é assim até dias atrás. Fiquei sabendo que no centro de convenções da minha cidade estavam vacinando quem chegava lá sem agendamento porque não poderiam, claro, jogar fora as vacinas que sobravam no dia. Fui lá duas vezes e não obtive a minha vacina. Na primeira vez, havia acabado de fechar a atividade; na segunda vez, tinha uma fila quilométrica fazendo voltas em frente ao prédio e um segurança não me deixou nem fazer agendamento já que eu estava lá e nos jornais diziam que as pessoas da fila que não conseguissem a vacina sairiam de lá com agendamento. Via telefone, ninguém atendia. Via net, não havia possibilidade de agendamento para os próximos dias, dizia o anúncio. Então, no dia 2 de abril, R e eu voltamos lá e chegamos bem cedo, por volta das 8h da manhã. Ficamos três horas na fila. Fomos vacinados com as vacinas remanescentes às 11h  da manhã, embora por email, depois, eu tenha recebido a comunicação de que havia sido vacinada com a vacina da Pfizer às 9 e 30 da manhã. 

Sim, foi a vacina da Pfizer, mas foi às 11 horas da manhã, a bem da verdade, e eu não tinha opção de escolha, embora tenha adorado ter recebido-a.

Nos EUA, o serviço de saúde não é único e a minha cidade tem serviço de saúde independente do estado da Califórnia. O serviço do SUS, serviço único de saúde, no Brasil, é respeitado em todo o mundo, é uma das nossas melhores conquistas e eu gostaria que aqui tivéssemos o mesmo. O Brasil está mal nesta pandemia, mas o SUS faz o que pode e isso não pode ser esquecido quando políticos vierem com a conversa de modificá-lo ou mesmo acabar com ele.

 

Assistindo à série Emily em Paris com R porque a vida está precisando de água com açúcar.

sábado, 17 de abril de 2021

 

O mundo chegou à triste marca de 3 milhões de mortes causadas pela Covid-19, em meio à piora da pandemia na América do Sul, principalmente por causa do Brasil.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Ontem, faleceu em Minas Gerais outro médico que foi muito bom quando precisamos dele, o segundo, de covid-19. Desta vez, eu assustei porque era um homem novo e sadio, cirurgião plástico, e eu não esperava, não sei por que, mas não esperava. Esse está sendo realmente o tempo da pausa, longa pausa, parece que tudo isso começou há décadas...

Ontem, passei de carro em frente a uma escola High School, por volta do meio-dia, e vi novamente as calçadas repletas de estudantes com suas mochilas nas costas, seus risos e senti esperança. 

A esperança é uma luzinha que às vezes apaga, mas volta.



sexta-feira, 19 de março de 2021

 

Tive uma amiga em Belo Horizonte, muitos anos atrás. O noivo dela, médico, pegou o enteado de oito anos e o pendurou pelos pés em direção à privada do banheiro e o sacudiu bastante porque ele não queria escovar os dentes quando começou a usar aparelho dentário. Quem me contou foi a babá e o menino, e eu disse que aquilo era um absurdo. Então, liguei para a minha amiga e reclamei. Ela me respondeu calmamente que estava tudo certo, que os dois eram muito amigos.
Ela tinha um complexo, muito linda e inteligente, mas nenhum homem queria se casar com ela, aquele quis.

quinta-feira, 18 de março de 2021

 

Se eu tivesse me separado ou enviuvado, não iria pensar em outro casamento enquanto meus filhos não fossem maiores de 14 anos. Eu não suportaria, aceitaria ou permitiria que o "padastro" desse qualquer pitaco sobre eles, muito menos ajudar a criar. Eu permitiria apenas um contato social fora da minha casa.

Ainda tem gente acreditando que o IML não vai descobrir nunca a causa da morte. Só pode ser por certeza da impunidade. Mais um caso horrível de morte de criança. Eu não sabia que cair da cama traz tantos ferimentos. Sinto muito, Henry, anjinho

Atualmente, eu estou assim. Se for para limpar a mente e ser feliz, trabalho. Se for para relembrar pessoas que prefiro esquecer, me deito.

Daí a razão de estar em movimento sempre. Deveríamos ter borracha na mente.

Março, 18

terça-feira, 16 de março de 2021

15 de março

 

A vinte e um anos atrás, eu vi os olhos do amor. Depois daquele 15 de março, eu entendi o que a existência tem de precioso e decidi ficar e lutar sempre. Fui agraciada com o mais belo dos presentes. Ganhei todos os dias que vivi porque todos eles foram a partir de então revisados. Aprendi a ser forte quando vi aqueles olhos para mim e me assustei. O amor pode assustar porque ele existe sim, e demonstra.

Março, 15

 

Se o filho do Bolsonaro decidir fazer queixa-crime contra todos que falam mal do presidente do país, o judiciário, que já é bem lento, vai parar porque metade do país reclama e/ou xinga. Melhor o PJ largar todas as ações pendentes e por virem para arcar com a demanda.

sábado, 13 de março de 2021

BBB e os brasileiros

 

Descobri por que tantos brasileiros gostam de BBB: é quando eles se vestem de Deus, única oportunidade de preenchimento. Eles assistem e julgam nos finais. No meio, vão para o Instagram e fazem promessas de punição ou de proteção. É bonito vê-los absolvendo, culpando, xingando os brothers e sisters pelo simples motivo que a tudo assistem.


Março, 12 (no Facebook)


quinta-feira, 11 de março de 2021

Os homens com mais de 50 anos...

 

Os homens com mais de 50 anos procuram mulheres bem bonitas de cara e corpo, resolvidas, independentes, com dinheiro, mas se esquecem de olhar para si mesmos, nem tão bonitos, a maioria calva, acima do peso ou abaixo demais, complexados, problemáticos nos relacionamentos passados, com trabalho mixuruca, com bens mixurucas também, se tiverem algum, e na maioria das vezes, galinhas.

Autoestima nas alturas. Quando caem, despencam.

 

Sr. Inácio vai nadar de braçada. Enquanto ele, desde muito cedo, tem o dom da oratória envolvente, hipnotizante, o atual presidente tem o dom do discurso pobre, grosseiro, ríspido e desumano. Sr. Inácio, muito antes de ser eleito presidente, já sabia usar as palavras corretas, o outro nunca soube, nem antes e nem depois.

Sobre oratórias.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Sofrimento...




Sofrimento não é exclusividade de pobre. Sofrimento é algo democrático, atinge a todos. Não se mede sofrimento em peso ou tamanho; cada um tem o seu e sabe a sua extensão.


Princesas Latifa e Shamsa (sumida), filhas do sheik primeiro-ministro e vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, sofrem o pão que o diabo amassou, prova de que sofrimento não é exclusividade de pobre. O pai tem carros de ouro, privada também, e elas são infelizes.


Eu o conheci no Instagram. Nunca o tinha visto mais gordo. Procurei saber sobre ele. Tem milhões de seguidores, é comediante, era muito pobre e ficou muito rico, viaja em seu próprio avião, já conheceu o mundo todo, ama os pais bastante, cuida deles, casou-se anos atrás e um ano depois a mulher o largou, conheceu uma moça no fim do ano passado e estão grávidos de um menino, ficou noivo dela e deu de presente para ela um anel de diamantes caríssimo. Ontem, escreveu na rede social dele que ele é um lixo. Ah, esqueci de dizer, ele sofre de depressão.

Então, sofrimento não é exclusividade de pobre. Ele sofria quando era pobre. Ficou rico e ainda sofre.

Quem fala que rico não sofre deveria rever seus conceitos.



Conheci um cara que apanhava de chicote do pai que era dono de joalherias famosas em Belo Horizonte, nos anos 1980.



São tantas histórias... só não vê quem não quer porque o complexo é maior.



terça-feira, 9 de março de 2021

Sobre as doenças ansiolíticas - a quem possa interessar.

 

De tempos em tempos, compartilhando (clica no link abaixo):


https://omedodesuzana.blogspot.com/2010/10/informacoes-tecnicas-ou-psiquiatricas.html



Eu entendo silêncio como polida ou fria recusa.

 

Para mim, Diana foi assassinada, mas eu não entendo a postura do filho dela e da nora... se não querem a mídia por perto, se querem viver uma vida sem perseguição de jornalistas, por que vão a programa americano super famoso a fim de falarem sobre as questões familiares com a família real?

segunda-feira, 8 de março de 2021


Antes de gostar ou não de alguém existe a minha raiva com as injustiças, principalmente as que são cometidas no âmbito judicial. Juiz parcial deveria queimar no inferno.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Ócio amigo

 

Nesta tarde, é o que me resta o peso do nada pois é medida que me sustenta. Sou uma mulher sentada no banco de cimento do quintal da minha casa, após algumas horas de chuva, tentando me distrair com o sol que se anuncia. Ao meu lado, a minha cachorra. É o que me resta, a companhia dessa nova amiga que deveria se chamar Amarela. É uma labrador de dezenove meses, olhos amarelos, cílios também amarelos, quase brancos. Seu nome é Merci.

A construção desse quintal é feia, mas a natureza à volta é bonita, e nós duas aqui sentadas, eu nada falo, ela não choraminga, não late e nem me chama para brincar, vigia o nada onde sobrevoam corvos barulhentos como sempre e uns dez a quinze colibris que vejo em direção à laranjeira da casa do vizinho. Chego a duvidar, mas eles que chegam em bando saem um a um da árvore. Faltam-me meus óculos, mas posso contá-los. Faltam-me meu celular, um livro, uma taça de vinho, não, não me falta nada, estou completa.

Depois de tudo, me resta essa inutilidade sadia, esse companheirismo, depois de eu insistir em tentar agarrar a vida com sofreguidão. Merci se senta ora à direita, ora à esquerda de mim, à frente ou dá ligeiros rodeios e volta, sentando-se pesadamente por sobre um dos meus pés. Somos silêncio. Não há nada realmente para ser falado. Às vezes, ela se senta no banco de cimento também, e então fica da minha altura, nossas cabeças de encostam e eu a olho e penso como pode ser assim tão elegante! Falo "nose" e ela encosta rapidamente o focinho no meu nariz. 

Ela olha para fora, eu olho para dentro. Ela vigia o espaço aéreo, não aceita pousos em nossos muros ou em nossas plantas; vigia também o espaço terrestre, corre atrás de lagartixas e esquilos. É uma fera, nem pisca. Eu olho a minha vida esquadrinhada numa visão efêmera, mas dolorida. Mas isso passa, tanto para ela quanto para mim. Na realidade, somos apenas esse quarto de hora ou dois, e isso é tudo.

Nessa tarde, é tudo o que me resta. 

Eu tenho um único pensamento para algumas pessoas: Que horror.

Aprendendo todos os dias...

 

"Então você aprende que cada um oferece o que tem. E você para de revidar, de se preocupar, de se abalar, de tentar remar contra a correnteza.
Percebe que você atrai o que transmite e passa a usar seu tempo só com o que te faz bem.
E aí, fica em paz..."

Por Dário Banas

terça-feira, 2 de março de 2021

 


Alguns poucos anos atrás, um blogueiro amigo poeta começou a conversar comigo no privado e falou que era muito sozinho com seus dois filhos, era viúvo e fazia poemas para mim e perguntou se eu havia me surpreendido, meio que de queixo caído com os poemas... eu respondi que não porque estava acostumada a receber poemas feitos para mim. Agora, ele está comemorando Bodas de Prata com a mulher nas redes sociais. Sei por que ainda somos amigos.

A defunta, pelo visto, ressuscitou dos mortos.


Março, 1 (no Facebook)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

1.582 mortes no Brasil, hoje, por coronavírus.


250 mil mortes no Brasil, no total.


EUA avançam para mais de 500 mil mortes, no total. A Califórnia lidera em número de contaminados e mortos. Mas a pandemia entrou em declínio nesta semana. 

E a vida segue.
Life goes on. 

Deus tem sido detalhista comigo...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

 

Feliz por saber que as pessoas ainda não perdoam atitudes desprezíveis. 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

 


O amigo que fala mal de mim para você fala mal de você para mim e fala de todo mundo. Quem é amigo de todo mundo não é amigo de ninguém, apenas de si mesmo.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O menino do skate

 

Eu só vi o acidente porque desviei do meu caminho de volta para casa para caminhar até a mesa que tinha um livro aberto sobre ela, no jardim da universidade. Na mesa, o livro tinha suas páginas folheadas pelo vento, era sobre maternidade e nascimento. No chão, estava o marcador de páginas do livro: um cartão grande com a imagem de Jesus Cristo de mãos abertas e delas saía luz. 

Um minuto depois, no máximo, dois, eu vi o rapaz caído no chão, sacolejando a cabeça, entre a pista de carros e a calçada, na pracinha da universidade. Ao lado dele, um skate. 

Noite fria, apenas um carro passou e parou para ver. Um casal de orientais, mais próximo dele que eu, olhava. Foram segundos de choque e impasse. Falei para R que era preciso chamar imediatamente a polícia, fiquei tão nervosa que falei Samu, no lugar de ambulância. A amiga dele o viu de longe, desceu correndo a calçada, gritando seu nome, e o colocou de lado no chão por sobre o próprio braço dele. 

Posso jurar que o tempo parou, a noite, o vento. Ele não parava de tremer a cabeça. Chegou um corredor de rua para ver. Então, R caminhou em direção à pequena torre de luz azul, onde se lê a palavra emergency e acionou a polícia. Foi atendido imediatamente. Eu que tanto caminho naquela universidade jamais reparei aquelas torres espalhadas para chamar socorro. A pessoa do outro lado fazia perguntas, mas já sabia onde estávamos. O corredor de rua e o casal também falavam ao telefone. 

Foi então que vi a amiga debruçada sobre ele, de costas para mim, duas asas brancas abertas e entre elas a palavra angel, na blusa de frio. Um minuto se passou e ouvimos as sirenes. Chegaram dois carros da polícia e atrás deles uma ambulância. 

Falei, só saio daqui após saber que está vivo. Ele parou de chacoalhar a cabeça um pouco antes da polícia chegar. A amiga ficou calma. Havia no ar alguma densidade, eu poderia tocá-la de tão real. 

Quando os policiais saíram dos carros e se aproximaram, passou a magia. Tudo se tornou a realidade de um acidente. 

Retomei meu caminho. O livro deve ainda estar lá, balançando suas folhas. Voltei para casa, um pouco menos, um pouco mais, pensando na vida. É bom estar aqui.


Fevereiro, 17 (no Facebook)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021


É preciso tratar as próprias frustrações antes de tudo, antes de se relacionar com os outros, antes de tentar ser feliz, antes de fazer a lista do que lhe é importante. Tem gente que não trata; não trata e não percebe ou finge não perceber que seu passado, a sua origem, seus pais, enfim, a sua vida lhe incomoda. Tem gente que não aceita ver o passado e a origem do outro "melhores", cisma, fica mentalmente implicando, como se o outro tivesse culpa disso. O outro não tem culpa, não! 

Só são "melhores" porque a inveja arde. A inveja enxerga demais.


Fevereiro, 16 (no Facebook)

domingo, 14 de fevereiro de 2021

 

Meu filho teve aulas particulares de matemática aos oito anos de idade, em Belo Horizonte, com uma mulher que trabalhava em um colégio famoso da cidade como conselheira no período da tarde. Pelas manhãs, ela ensinava matemática em casa. Essa mulher foi extraordinária tanto em matemática como em incutir na cabecinha dele que era preciso ter um caderno bem arrumado, ter organização, horário, enfim, disciplina. 

Na penúltima aula dele, eu tinha que fazer o pagamento das aulas e por isso subi até o apartamento dela. Eu também queria me despedir e agradecer e resolvi descer do carro e encontrá-la pessoalmente, ao invés de enviar o cheque através do meu filho.

O marido dela conversava aos berros ao telefone na sala de visitas que era ao lado da sala de jantar, onde eram as aulas. Ao chegarmos no carro, comentei com meu filho o absurdo daquela situação, um sujeito berrando, atrapalhando a aula. Ele me disse: assim é todos os dias. 

Hoje, eu me lembrei dela e pensei: espero que já tenha largado aquele marido.


Fevereiro, 14

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 

Aprendi a não mais ter pressa para certas coisas ou não aprendi, mas apenas tranquei a luta, sei apenas que não preciso terminar rapidamente tudo o que começo, posso responder alguém à prestações, fazer compras também, o mesmo para limpar a minha casa, cuidar das plantas, e, principalmente, lidar com gente. Eu não me fiz de uma vez só; foi acontecendo ao longo de 54 anos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021


Lendo alguns dos meus emails de doze anos atrás, senti um certo desagrado de mim mesma. Reconheço que me dou por vencida. Nunca preguei a verdade porque eu não sei qual é a verdade, mas nasci com clarividência e, por isso, acesso regiões humanas que muitos não conseguem. Entretanto, eu cansei até disso! Meu jeito teve que ser modificado. E eu fiz isso. 




"Letramento racial", acabei de ler essa expressão. Do que se trata? Os discursos não podem mudar sozinhos. "Cancelamento", "estrutural", "descontituição", cor beringela, tudo bem bonito. Dentro do lar, um inferno.

Muita gente confunde educação e bondade de alguns com tudo o que é do interesse delas; de forma básica, simplista.

domingo, 31 de janeiro de 2021

Tornei-me, na casa dos 50 anos, aquela criança que cai, se machuca, levanta sem olhar o ocorrido e diz enquanto anda de volta para casa: nem machucou.


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 


Com certeza, Deus tira certas pessoas da nossa vida porque nós não sabemos, mas Ele sim, o que elas falam de nós.
Ajudei por que eu quis uma infeliz que quase agonizava, no início da pandemia, e agora eu a vejo falando mal de mim. 
Tem gente que tem a vida que merece ter.







Sobre rusgas, preguiça e falatório barato

 

Sobre algumas reclamações como por exemplo, "homem adulto que não sabe cozinhar, lavar roupa, procurar sozinho por objetos que ele mesmo perdeu, limpar a própria sujeira..." que a gente lê por aí, nas redes sociais.


Sobre a minha amiga responder: "Tenho amigas que tem PREGUIÇA de educar os filhos pra vida. Principalmente quando é filho único. Isso parece um loop. Elas reclamam, mas não agem. Pensam que um dia vão acordar e esses problemas já estarão resolvidos como num passe de mágica. Sinto muito dizer, mas coisa que tá ficando cada vez mais idiota com o tempo é mulher. Muita fala, muita revolta, mas pouca objetividade. Se a pessoa é a maior prejudicada, não é ela que tem que virar o jogo? Vai esperar quem fazer isso, rs? Criança bem educada se adequa, pode observar. Podem reclamar um pouquinho, mas se adequam. E outra, tem muita menina que faz a mãe de empregada, também. Esse post, sei não, rs... Beijo, querida".



Sobre o que eu penso: "Concordo totalmente com você, sem tirar, nem pôr. Muita gente com preguiça, e criar filho é justamente o antônimo de preguiça. Sim, "muita fala, muita revolta, mas pouca objetividade." Tocou no ponto! Sou bem flexível em minha vida íntima, quase doce, mas sou o cão e costumo dizer que feminista sou eu que quase nunca fala sobre ou escreve, mas quem me conhece sabe. Tantas mulheres "fodonas" e quando se casam adotam o sobrenome do marido e aqui nos EUA registram seus filhos apenas com o sobrenome do pai. Muito discurso, mas na prática, cordeirinhas que se transformam neles, nos seus homens, verdadeiras metamorfoses. Uma coisa é o que elas dizem, outra coisa é o que fazem. E eu meio que na perferia, bastante evitada por ser desagradável, mas meu marido e meus filhos me respeitam e principalmente me amam porque sou de verdade. Desse mal nojento que a maioria das mulheres sofre, eu não morrerei. Não idolatro homem. Não idolatro mulher".


segunda-feira, 25 de janeiro de 2021


Eu poderia dizer que é por causa da pandemia, mas não seria verdade. A verdade é que cansei de vídeos longos nos quais a única imagem é a da falante, por melhor que seja o tema, cansei, se insistir, me sinto implodindo. Cansei dos cínicos. Cansei de quem não percebe a hora de ficar quieto, cansei dos raivosos de plantão, dos "lacradores" - os donos da palavra final. Cansei das amigas "falsetes", assim no feminino porque certas picuinhas são femininas sim. Cansei da muita eloquência. Farta de receber convites para responder a questionários, ler textos sem fim, interagir prestigiando alguém. 

Eu poderia listar todos os meus cansaços, mas até isso vou evitar. Pareço atleta em fim de carreira fazendo corrida com obstáculos. 

Pareço uma procissão à noite, evitando na caminhada as pedras pontudas e a cera pingando nos meus dedos... mesmo que sejam deliciosos os ventos que batem no meu rosto.

A pandemia não é a causa; é a humanidade.


Janeiro, 25

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

20 de janeiro de 2021, doze anos morando nos Estados Unidos.

 

Teve gente que pensou que eu iria voltar com pouco tempo e me disse isso, mas eu nunca pensei em voltar para o Brasil, saí do país com ânimo definitivo. Já falei que não olhei para trás, mas olhei sim diversas vezes ao longo dos anos. Olho até hoje. Há coisas no Brasil eternas... se eu fechar os olhos um pouquinho só posso senti-las, revivê-las, mas eu sou uma pessoa tranquila, sem grandes anseios que quando decide está decidido, permito-me certos pragmatismos. A vida me mostra todos os dias que muito do que padecemos é culpa nossa porque colocamos muito sentimento em cima... talvez porque eu seja latina, talvez, não... o mundo se sustenta nas relatividades, isso é outra coisa certa. Tudo é relativo, mas viver no Brasil novamente é sonho, utopia, não acredito mais e a gente precisa acreditar para ter força para fazer, correr atrás, mudar.

Assisti à posse do novo presidente americano e quase chorei, eu que nunca choro. Não vejo o mundo um lugar de maus e bons porque somos um pouco de tudo, mas ontem o tempo ficou muito feio, nuvens estranhas me empurraram para dentro de casa, ventava muito e fazia frio. Senti medo do mundo inclusive passei mal no fim da tarde. Os céus pareciam raivosos e um sujeito pernóstico e sua família pernóstica estavam fazendo as malas... Hoje, o dia foi totalmente diferente, bonito e morno. Então, assisti à posse pela televisão e depois fui à rua onde morei quando cheguei aqui há doze anos. 

Ir àquele bairro é um deleite! Parar diante do prédio onde vivi por um ano é a melhor das nostalgias. Sinto-me vitoriosa. Que lugar lindo me recebeu! Lá tem silêncio de monastério. Tem maritacas nas palmeiras imperiais e corvos, tem loja de surfista, tem praia, crianças nas calçadas com seus patinetes, não há muros nas casas e nem grades. Parece que a vida é mais lenta. Não que aqui seja muito diferente, não é, é um bairro predominantemente residencial, e tem o silêncio de monastério, mas a magia está lá. Lá está eu. Eu que não falava nada em Inglês e que tinha um menino de oito anos e uma menina de um ano e cinco meses para cuidar, proteger, guiar, ensinar... tem eu que não sabia distinguir uma loja de uma casa residencial, que não encontrava coador de plástico e nem panela de pressão para comprar e se perdia nas freeways, coisa que me fazia gelar o estômago. Tem eu com mais de quarenta anos tentando recomeçar. Gosto dessa pessoa que fui, tenho orgulho, e essa pessoa acreditava. 

Quando fiz aniversário de cinco anos vivendo aqui, a minha mãe me disse, agora você pode voltar quando quiser, porque ninguém poderá lhe dizer que você fracassou... e rimos bastante disso!

Mas eu não voltei. Sou outra. Aquela que chegou na Grand Ave, no dia da posse do Obama, que olhou em volta e sentiu um fino frio passando pelas bainhas das roupas e entendeu que renascia ali, naquela calçada, enquanto as malas em rodinhas, oito grandes e quatro pequenas, eram empurradas através do cimento perfeito, em direção à entrada do prédio de dois andares, cinza e quieto, aquela pessoa não se adequa mais ao Brasil; e não acredita mais.

Se eu fechar os olhos, posso respirar o meu passado, mas é só isso. Tudo se perdeu, o lodo que eu dizia ter lá, tenho agora aqui. Tenho memórias engraçadas, algumas outras um pouco tristes, mas tenho história, construí um país para mim e nele me reconstruí. Tudo depende do tanto que colocamos de força e fé, e isso eu fiz bem. 

R me disse hoje que escrever no dia 20 de janeiro virou tradição e isso é uma verdade absoluta. Parabéns, novamente, para mim, para nós quatro!


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Redes sociais e os ossos de bezerro.

 

Meu pai sempre dizia que papel aceita tudo, agora tem também as redes sociais. Meu pai era promotor de justiça e ficava abismado com as distorções dos fatos feitas pelos advogados. Cada coisa que escreviam nos autos dos processos! Quando eu, nas redes sociais, não conheço intimamente a pessoa que está falando de si, eu uso o benefício da dúvida, pérola jurídica, ao desconfiar da veracidade daquilo. Quando eu conheço a pessoa na intimidade, penso naquela música, "mas como ele é cara de pau"... Ele, ela... "mas um dia vai se dar mal...".

Voltando ao meu pai, havia um caso célebre: o advogado do suspeito de assassinato disse em plenário que aqueles ossos encontrados não eram da vítima, mas de um bezerro de um churrasco. Falou na cara dura para assombro de todos que tinham em mãos o resultado da perícia médica. Na cara dura! 

Nas redes sociais, tem gente que capricha e eu fico até querendo acreditar em ossos de bezerro.

domingo, 10 de janeiro de 2021

A Vitória Das Mulheres Velhas


"Eu gosto das mulheres velhas
mulheres feias
mulheres mesquinhas
elas são o sal da terra
elas não sentem repugnância
perante os dejetos humanos
elas conhecem o outro lado
da moeda
do amor
da fé
ditadores fazem palhaçadas
vêm e vão
as mãos manchadas
de sangue humano
as mulheres velhas levantam-se
de madrugada
para comprar carne fruta pão
limpam cozinham
ficam na rua
de braços cruzados em silêncio
as mulheres velhas
são imortais
Hamlet debate-se numa armadilha
Fausto desempenha um papel
básico e cômico
Raskolnikov ataca com um
machado
as mulheres velhas
são indestrutíveis
elas sorriem conscientemente
Deus morre
as mulheres velhas levantam-se
como de costume
de madrugada compram pão vinho peixe
uma civilização morre
as mulheres velhas levantam-se de madrugada
abrem as janelas
livram-se do lixo
um homem morre
as mulheres velhas
lavam o cadáver
enterram os mortos
plantam flores
nos túmulos
Eu gosto das mulheres velhas
mulheres feias
mulheres mesquinhas
elas acreditam na vida eterna
elas são o sal da terra
a casca de uma árvore
os olhos tímidos dos animais
covardia e bravura
grandeza e pequenez
elas veem nas proporções
adequadas
compatíveis com as exigências
da vida cotidiana
os seus filhos descobrem a América
perecem nas Termópilas
morrem na cruz
conquistam o cosmos
as mulheres velhas saem de madrugada para a cidade comprar leite pão carne
temperam a sopa
abrem as janelas
só os tolos riem
das mulheres velhas
mulheres feias
mulheres mesquinhas
porque essas lindas mulheres
mulheres gentis
mulheres velhas
são como um óvulo
um mistério desprovido de mistério
uma esfera que rola
as mulheres velhas
são múmias
de gatos sagrados
elas são pequenas
e secas
fontes secas
fruta seca
ou gordas
budas redondos
e quando morrem
uma lágrima rola
pelo rosto
e junta-se
a um sorriso no rosto
de uma mulher jovem"

*Tadeusz Rózewicz, Polônia (1921-2014)

Tradução de Jorge Sousa Braga a partir da tradução inglesa de Joanna Trzeciak

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 A mulher que morreu atingida por um tiro, ontem, no Capitólio, havia escrito horas antes em sua rede social que nada poderia detê-los. Como alguém que viu a guerra de perto pode ser assim tão simplista, inocente, crédulo? A vida foi tão fácil assim? Pois, vem a morte e, sim, ela pode nos deter. 

Morreu bobamente após tantas guerras...

 

Foi-se o meu tempo que durou quase a minha vida toda de compreensões, aceitações, sempre gentil tolerando as maluquices alheias, os desvios de caráter, as picuinhas sem fim. Dei um ponto final nas minhas histórias de tolerância. Cansada demais, inclusive do meu gênio permissivo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Descobri que terminar frase com ponto de interrogação é bem melhor que ponto final.

 

O calendário virou, já é janeiro, perdi a contagem do número de mortos por coronavírus e a de contaminados. Creio que está todo mundo perdido, tentando se segurar na luz da esperança, inclusive eu. Ou é por que não gosto de janeiros? 

Janeiro, 5