EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


segunda-feira, 31 de julho de 2023

Era um rosto sem foto 
Apenas um rosto
Que ninguém fotografou 
Um rosto
Testa, boca, olhos empapuçados  
Sem nunca ter havido uma foto
Agora, diante do espelho velho
Uma única fotografia. 

O tempo não se esgotou.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Alguns brasileiros falam para mim, você pode pagar porque seu dinheiro é dólar. É... pago em Belo Horizonte vinte reais por uma barra de calça, aqui, pago vinte dólares. É.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

JURO

Éramos três mulheres, eu, a brasileira, a francesa e a italiana com filhos na mesma idade e maridos com relações de trabalho. Encontrávamos às vezes na casa de uma delas, em reuniões com muitas pessoas nos fins de semana. A francesa morava em uma mansão emprestada pela compania onde o marido trabalhava, e, em doze meses, trocou de carro treze vezes porque o marido também ganhava o uso sem ônus de dois carros. Eu não me sentia confortável com certas esnobações, mas meu filho gostava dos filhos delas e era conveniente o contato pois meu marido tinha os maridos das duas como clientes da empresa onde trabalhava. A italiana vendeu a casa que tinha na Itália para construir uma maravilhosa casa na Serra dos Macacos. Fomos lá uma vez para um almoço. A francesa ficaria com a família para pernoitar. Juro que sentimos muita vontade de ficar. A casa era um deslumbre, com piscina de água salgada, pomar, adega, no meio da mata... mas não havíamos sido convidados para passar o fim de semana. Tempos mais tarde, a francesa comprou um castelo em ruínas na Europa e deixou o Brasil. Meu marido não tinha mais contato com o italiano. A vida girou, meu filho já não via mais graça naqueles meninos e eu tive a minha filha. Não sei quem contou para as duas que eu estava na maternidade. Não teve planejamento porque a minha filha havia rompido a bolsa. A francesa estava a passeio no Brasil e decidiram aquelas duas me telefonar. A minha mãe atendeu, falou que eu estava no banho, elas desligaram e voltaram a me procurar mais tarde. Eu já estava de saída, mas insistiram em nos ver, queriam que eu fosse até a portaria da maternidade para mostrar a minha filha a elas. Assim, como? Se quiserem, venham até meu quarto ou me visitem em minha casa. Quanta audácia! Como se fosse uma ninhada de gatos! Perdemos contato. Mudamo-nos para os Estados Unidos. 
A vida gira todo dia e elas então me procuraram. Não havia mais castelo nem mansões. Recebi a oferta de passear na Europa e ficar na casa de uma delas, desde que pagássemos o aluguel do apartamento, mas eu não estava planejando viajar, muito menos encontrá-las. Recebi também a oferta de fazer um tour com a francesa em Los Angeles e de receber a italiana em minha casa que ela chamou de coração. Juro que sentimos muita vontade de visitar um certo castelo, de dormir na chácara da Serra, juro que eu estava disponível, juro que não estou mais.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Do blog do Marcel Nogueira

"A síndrome do caldo de petequismo
No jargão popular, "caldo de peteca" é algo parecido com "caldo de piaba", "sopa de pedra" e outras definições nada lisonjeiras. É o mesmo que um sujeito sem futuro, desacreditado, fraco, meio “canoa”, governado pela proa ou pela parte do fundo, o que não se segura em pé. No português claro: o camarada que quase nunca veste as calças de homem.
Imagine na culinária, um caldo com todos os ingredientes possíveis, projetado para ser um revigorante, mas tendo como elemento básico uma misera peteca. Com certeza será uma decepção só.
Agora a síndrome do caldo de petequismo é dose pra leão. É dose porque assim como na culinária, também é uma completa decepção. A princípio promete algo espetacular, mas fica só na promessa. Quando a patologia se instala (quase sempre na infância), é quase imperceptível; apenas os que convivem mais de perto percebem a disfunção. Em casos especiais e com algum esforço, o paciente até consegue esconder a patologia por algum tempo (só não consegue esconder por todo o tempo), passando a idéia de que é normal. Conformismo, dificuldade em impor seu ponto de vista, tremedeira diante de situações adversas, aceitar a dominação de grupos estranhos são alguns dos sintomas mais comuns, mas há outros, tão importantes quanto esses. Relaxamento no uso das funções atribuídas pelo povo, irresponsabilidade, deixar fazer do local de trabalho a casa da mãe Joana, confusão mental, a ponto de escolher pessoas sem preparo para desempenhar funções de grande responsabilidade fazem parte dos outros sintomas.
O caldo de petequismo é hoje uma epidemia. Dá em todo canto, entretanto, no Pará e mais especificamente em Parauapebas a doença se disseminou. O que tem de nego caldo de peteca não está escrito. Gente que escolhe puxar o saco por medo de perder privilégios; que assiste placidamente as injustiças serem cometidas; que se sujeita a buscar cafezinho, carregar pasta; que se cala para fugir de problemas eventuais e que não tem coragem de ir à luta e se presta ao triste papel de bobo da corte, em tomar chimarrão com cara de panaca, quando se sabe que o indigitado nasceu no Goiás ou no Maranhão.
Agora, caldo de peteca mesmo é alguém que recebe 32 mil votos, ficar nas mãos de uma malta de gatos pingados. Eca, paro por aqui."

terça-feira, 18 de julho de 2023

Afastando-me de pessoas que quando querem algo de mim não medem limites para me aporrinhar, mas quando sou eu quem quer, fazem a egípcia. Afastando-me também dos que sabem falar não, mas desligam o desconfiômetro quando querem que eu faça alguma coisa. 
Livrando-me de gente narcisista.

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Estão chamando-o de O maníaco da mala, o sujeito que raptou uma menina de 12 anos em Brasília e a transportou dentro de uma mala para seu apartamento. Arrastou a mala sem o mínimo de cuidado e paciência, socando-a nos degraus da escada. Assisti a um vídeo sobre ele e fui atrás de seu tão comentado perfil. Gente, brasileiro para internet não se atrasa! O povo está lá há muito tempo, no Instagram do cara, comentando. É para chorar ou rir, o povo não perdoa; gosto disso, dessa sinceridade sem amarras. No perfil dele, vê-se que a humanidade não é sã, finge na maioria das vezes que é, mas se consome na própria loucura.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Amanhã, teremos churrasco no almoço e bolo francês de maçãs com sorvete de baunilha e chantilly.

Não são várias borboletas! É a mesma. Eu estava ao telefone com a minha mãe, falava de Didith. Daí, falei: tô vendo uma borboleta! Ela: vai fotografar? Eu: não, vou desligar porque tenho que fazer umas coisas. Desliguei e a borboleta permanecia girando em torno da flor Olhos Negros de Suzana. Daí, eu a fotografei se mexendo.


Foto: SCG
”Jurei não ficar nunca em silêncio, quando e onde os seres humanos tenham de suportar sofrimento e humilhação. Temos sempre de escolher um lado. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o atormentado.”

— Elie Wiesel (30 de Setembro de 1928 — 2 de Julho de 2016) escritor judeu norte-americano, nascido na Roménia, Prémio Nobel da Literatura em 1986, no discurso de aceitação deste prémio.