EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sábado, 31 de agosto de 2019


“Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Passat.”

Por Fernanda Young 

Quem sofre? Quem queima no fogo ou quem ouve falar? 

segunda-feira, 26 de agosto de 2019


A minha melhor companhia sou eu mesma. Desde criança, lido bem com meus "eus", trato-me bem, cuido-me, inclusive nos maus momentos.

Então, meus dias são felizes? Nem sempre. Insisto (adoro escrever na primeira pessoa do singular e isso cala a boca dos chatos que palpitam sempre contra) em seguir o que a mim foi transmitido ou ensinado como certo fazer. Melhor suportar determinados comportamentos que não admiro, muitas vezes dirigidos a mim de forma direta ou não dirigidos, mas que não aprecio, não gosto. 

Eu poderia escrever "eu insistia"porque na última década, eu fui mudando até me tornar esse ser meio agradável, doce, mas intolerante, duro e forte. Tomei muitas decisões sentindo o gosto do fel na boca porque tinha que ser eu ou então não era ninguém.

Não posso mais tolerar pessoas que me provocam com palavras más ou irônicas, que me espetam por causa do meu marido, dos meus filhos, do meu corpo e cara, do meu cabelo, dos meus óculos exóticos, do meu eterno bom humor com risadas constantes, da minha fome de vida que poucos têm. Não posso seguir a velha tradição de suportar ou fingir demência porque é parente, é irmão ou irmã, é aparentado, porque é vizinho, porque um dia me emprestou alguma coisa (eu costumo ser oriental, sempre retribuo uma cumbuca de arroz com outra). Eu não preciso disso, a minha idade e a minha atual situação amorosa, maternal, econômica e residencial desenham meu 'status' com perfeição.

E sem essa gente, eu sou feliz e serei se mantiver cuidado com as aproximações e evitá-las. Sou plena em minhas virtudes e defeitos. Na hora má, na dificuldade, no desespero, tenho quem me honra e tenho sempre a mim.

Obrigada. De nada.

Suzana Guimarães

domingo, 25 de agosto de 2019

A professora que a minha filha mais gostou no seu novo colégio, morreu, hoje. Ela veio me contar com os olhos marejados. Triste. E a gente não pode fazer nada.

sábado, 24 de agosto de 2019

Eu ia voltar amanhã. Contei um dia após o outro. Assim marcando a cicatriz. Assim marcando a cicatriz. Assim marcando. Assim.


Não me refiro à pessoas, e sim ao tempo.
Sonhei que o Brasil estava sob regime militar.
It was uncomfortable.

Poema de Assis Freitas

para quando eu acordar com o vento nos lábios

eu sempre quis oferecer uma paisagem de regato
como naquelas telas de Monet
com as cores mais dissonantes de nenúfares

tu serias a favorita da ponte a lançar-me
dúvidas arquejantes no horizonte
a por cabelos alvoraçados e grisalhos

eu ficaria com a incumbência de te louvar
mesmo quando afastasses esses lábios
e teus sorrisos me fizessem desatino

tu serias nuvem no inquietante caminho
floração de múltiplos quereres
o clarim da alvorada, o despertar da ventania

[assis freitas]

sexta-feira, 23 de agosto de 2019


O homem vende mangas no estacionamento da loja. Comprei uma caixa. Roberto estava comigo e ele gosta de gastar o Espanhol que aprendeu por osmose e puxou conversa. O cara, então, disse-me, "O Brasil está queimando ".

Sim. Respondi.

Agosto, 23

Eu não comecei a me preocupar com o Brasil ontem e nem com o advento da Internet, como alguns. Rede social só serve para mim quando estou em salas de espera. Vi com olhos de bem enxergar o país quando eu tinha dezesseis anos e cursava o terceiro ano científico. Isso foi em 1983.

A fé é inexistente ou pouca porque não é fácil ter fé. Só os fortes conseguem tê-la. Agosto, 23

quarta-feira, 21 de agosto de 2019


"eu já fui doce
mas veio o tempo e me amargou a boca
e me amarrou a língua
e se chovesse? e se fizesse sol? e se eu nascesse
outra vez?
[se a flor fosse vermelha — se fosse tempo ainda
de flores]
e se eu cantasse uma canção?
e se eu dançasse na chuva?
e se as abelhas brancas retornassem
e todos os insetos luminosos na noite
e se soprasse o vento
se o tempo fosse apenas um
espelho
e este poema fosse apenas um reflexo
do céu lá fora — mas não
é noite
e é mesmo meu — este rosto grafado no verso
mascavo — doce improvável — quase fel"

terça-feira, 20 de agosto de 2019


“Trabalho muito, não tenho tempo... “. Escuto e leio isso constantemente. Quem eu conheço que realmente não tem tempo nunca fala isso. Tempo “pras costuras” tem, né? E só o capeta sabe quais são.

(Imagem encontrada na Internet)

segunda-feira, 19 de agosto de 2019


Ela, vestida com calça comprida e camisa pretas caía sobre mim. Ele estendia os braços, oferecia-me algo. Duas noites. Dois sobressaltos. Dois avisos.

Sou mulher de antecipações.

Julho, 2019.

Lateja em mim diariamente ódio sem fim.

sábado, 17 de agosto de 2019


Envelheci. Sento-me no sofá da varanda e os vejo em grupo saindo para show. Eles agora dirigem. Voltam tarde para casa. Recebem amigos. O mais velho entra e sai o dia todo. Sorrio com esse envelhecer. Cumpri religiosamente meu destino de ser gente. 

Agosto, 17

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A vida é boa. Ruins na maioria das vezes são as relações afetivas, principalmente as familiares, quase que indisponíveis, obrigatórias e mergulhadas em constantes disputas.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019


Sentada. Esperando a justiça universal.

Quarta-feira.
Entre um chato e um errado, prefiro o errado.
"O Brasil é um país pobre e as pessoas são elitizadas. Os Estados Unidos são um país rico, mas as pessoas não são elitizadas. "
Quando ouvi a minha ex-colega da faculdade de Direito, branca e rica, dizer isso, eu fiquei aliviada. Ainda há consciência.
No Brasil há muita gente soberba.

Agosto. 

terça-feira, 13 de agosto de 2019

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

domingo, 11 de agosto de 2019

Para meu pai.


Quando nasci, nos primeiros minutos de vida, meu pai me salvou. Depois, foi muita história, assim como são as verdadeiras, com momentos ruins, péssimos, bons e ótimos, e estivemos sempre por perto um do outro, mesmo quando me casei, quando me mudava para o exterior e principalmente nos últimos meses de vida dele.

Meu pai não se preocupava com meus estudos pois ele sabia que não precisava, que eu era forte e independente, igual a ele. Pagou meus estudos em escolas particulares, pagou minhas contas, levava-me ao dentista, médico, oculista. Teve muito orgulho de me levar ao altar no dia do meu casamento, de visitar meus filhos no hospital, de batizá-los, de estar com eles.

Em uma certa época, desconsiderei a presença masculina dele e o substitui pela presença do meu irmão. Isso foi a coisa mais tola que eu fiz na vida. E me arrependo.

Então, agora, digo, ó, pai, saiba, de uma vez por todas, e até escrevo sobre para deixar registrado, você foi único, ímpar, seleto, pronto, perfeito para mim, mesmo quando me fazia raiva porque eu aprendi a ser o que sou, assim, igual a você, inviolável, incorruptível, franca de doer, mas honesta e boa. Sim, sou a sua legítima Guimarães.

Não nascemos para sermos amados, pai, apenas respeitados, e isso nos bastou e basta.

Quando nasci, nos primeiros minutos de vida, meu pai me salvou. E ainda me salva, pois sou o reflexo dele no espelho e na vida.

Agosto.
Entre um barrigudo e um careca, prefiro o barrigudo. 

sábado, 10 de agosto de 2019

Eu não choro mais. A última vez foi em outubro de 2017, quando fiz minha última cirurgia. Chorei porque me senti fraca, tive medo de morrer, tenho filhos muito novos. Chorei de cansada. Ótima saúde, mas várias passagens por hospitais. Chorei também de dor. Até então nenhuma dor foi tão dilacerante. Mas eu não choro mais. Brotou no meu peito uma rosa dura. Ajo. Faço o que o momento exige e só. Ainda sinto amor. Ainda sinto inúmeras alegrias. Ainda sou feliz. Entendo as pessoas que choram. Respeito. Talvez eu sofra junto, mas eu não choro mais. Isso não é motivo de orgulho. Isso me entristece. Isso me distancia um pouco do elemento humano em uma coletividade. Parece que certa luz se apagou.

Agosto, 10

O que ninguém me tira: fé em mim mesma, meu humor, minha cultura.

Resumo da minha vida: as pessoas tiram, mas Deus me dá.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

É preciso sair da casa dos pais, dar a cara ao tapa, parar de se explicar, de pedir amor, é preciso parar de dizer faço quando quero, não aceito assim, tem que ser do meu jeito. Orgulho e arrogância são as travas. A vida é mar aberto. Ela vem e dá o caldo. E você nunca sabe quantos caldos serão. Depois você chora arrependido. Quando vê, já se foram cinquenta anos. E você nem viu. Estava ocupado vigiando o mar.

Agosto, 2.