EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

sobre ontem

(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Eu vim ao mundo para rir, apesar de que choro escondido por muitos que nem conheço... Eu vim ao mundo para rir e todo aquele que consegue tal façanha não imagina o universo inteiro que coloca em minhas mãos.

Dezembro, 23.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014


Se você estiver muito vazio, você não consegue escrever; se você estiver lotado, também! É necessário um certo distanciamento, um hiato, uma abertura entre o sentimento e as palavras.


Dezembro, 22



(arquivo pessoal de SCG)

No que estou pensando: que o que me incomodou ontem está incomodando mais ainda hoje. Para ser franca, está incomodando por dia, formando um acúmulo. E eu não gosto disso porque fica a sensação constante de possessão - eu engolindo a mim mesma atrás de uma resposta final que bem conheço, mas ainda finjo não sabê-la.
Eu disse que gostava de diários? Não, eu não disse. Mas, se querem saber, gosto do diário suave, amigo, acolhedor. Dias ríspidos e secos que ganho de presente não me servem, não tenho mais tempo para eles. Ah, não tenho mais tempo para um certo tipo de loucura; aquela, a medida com fita métrica.

Dezembro, 20



Se é de graça, fica o favor, fica o amor. Se é pago, ficam todas as exigências comerciais.

Eu disse que gostava de diários?

UNIVERSO PARALELO



Um presente de um amigo para mim:


"No dia que nossas conversas se perderem em algum universo paralelo, entre bytes, megabytes e velocidade por minuto e não puder mais visitá-la em algum sitio virtual, comigo guardarei suas imagens com chapéus, óculos escuros, lenços-echarpes e você na neve, o negro dos seus olhos naquele branco-gelo. Guardarei também a imagem daquele trem partindo em silêncio, rasgando à tarde de um dia qualquer de primavera e eu acenando, acenando, parado, com uma cesta de frutas, peixes de água salgada e um baralho de tarô no bolso esquerdo da calça - para aquele piquenique que não fizemos; para aquelas previsões de um novo ano que insistimos em querer saber.

No dia que nossas conversas se perderem em algum endereço eletrônico não identificado, alguma caixa de e-mail, virar spam, em algum universo paralelo, mesmo assim continuarei mandando para você cartões-postais, fotografias azuladas pelo tempo, outros poemas... até nos reencontrarmos nos nossos endereços que constam nos catálogos telefônicos ou dos boletos bancários.

No dia que nossas conversas se perderem em algum universo paralelo de satélites, planetas ou num cosmo submerso abissal de um oceano, ainda assim continuaremos escrevendo livros, criando filhos, viajando, mesmo que o tempo, inexorável, não seja mais o mesmo.
Mas quando tudo isso acontecer, se acontecer, estarei nessa cidade líquida de casarões em ruínas, águas, conchas, sal e sol.

Estarei aqui, no meu universo não paralelo, esperando você."


https://www.youtube.com/watch?v=bzT9Zw3tBhU