EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


segunda-feira, 23 de dezembro de 2019


A América do Norte parece nunca parar, mas a minha rua já está sem movimento, não vejo os carros de sempre estacionados, na maioria das vezes, de estudantes da faculdade próxima. O céu está azul claro com fortes tons rosados, chove desde ontem, chuva fina, estou na varanda da frente e vejo o mundo. Ah, eu posso ainda ver o mundo! Parada, estática no sofá, posso dormir, sinto que vou, e ninguém irá me importunar na varanda sem grades ou muros, silenciosa, extensão de mim. Tenho dois casacos, um com capuz, e tampo parte do meu rosto, vejo o mundo por detrás da fileira de bambus... um cão labrador vestido com capa de chuva amarela passeia com seu dono, uma criança de menos de dois anos caminha ao lado do pai, ambos em seus casacos... não existe nunca mau tempo para o americano porque ele sabe sempre se vestir dos pés à cabeça... não é aquela coisa brasileira de chinelos, vestidos curtos, shorts e sombrinhas voando por sobre e entre poças... eles se protegem pra guerra. Passa um carro de entregas do Amazon, "Prime", passa um caminhão pequeno de mudanças do tipo "faça você mesmo", outro carro de entrega, marrom, o motorista não tem porta... as luzes de Natal se acendem, no inverno, anoitece muito rapidamente. 

Vou arrastar os latões de lixo dos fundos da casa para o meio-fio, hoje é segunda-feira... acordo do meu transe. Estive como se a alma balançasse na rede.

Eu me dou intervalos...