EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


terça-feira, 7 de abril de 2020

Parou de chover e meu filho e eu levamos a nossa cachorra para passear. Ôh, noite explêndida! Noite de bruxos. Totalmente solitários ganhamos as ruas desertas, molhadas e escuras. Passou somente um carro por nós. Amo lugares sem gente. Eu quase não gosto de gente. As copas das árvores balançavam sem cadência, ventava muito. No ar, cheiro de coisas puras. Mas voltamos rapidamente. Em frente ao pequeno parque do bairro tinha um coiote. Era gordo e por isso achei estranho, mas podia ser uma fêmea prenha. Quando meu filho disse, tem um cachorro ali, não, deve ser coiote, eu não hesitei. O bicho estava calmo, parado, com comportamento diferente dos cachorros do bairro e não existe animal sem dono onde moro. Voltamos, apressados. Eles costumam andar em bandos e é sempre um único que atrai a sua atenção para os outros atacarem pelos lados. E o parque termina na freeway. Voltamos, mas voltei feliz porque ventava, porque minha cachorra até me puxava de volta, porque era solitário e livre, e eu pensei no meu pai, eu havia pensado nele quando iniciamos a caminhada porque ele amava a liberdade das ruas noturnas... como a gente pode ser tão dúbio! Em um espaço de sessenta minutos, a gente é triste, feliz, saudoso, forte e medroso.