EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sábado, 13 de abril de 2019


Não sei bem o que sonhei noite passada, mas eu acordei me lembrando de acontecimentos já não mais lembrados por mim, fatos ocorridos quando eu tinha dezesseis, dezoito, vinte anos... Não tenho saudades e nem reviveria se possível fosse. Basta-me saber que cumpri o caminho proposto de uma vida legal, sim, ela foi legal em todas as suas etapas. Estudei muito, beijei muito, viajei, namorei, casei-me de véu e tiara, festa para duzentos convidados e tive os meus filhos. Já fui jovem, já tive trinta anos e um corpo que me agradava. Já quase morri, já quase fali, mas em tudo fui plena, assim como hoje são os meus dias. 

Parece que pulei de lá para cá e nem vi as escolas, os carinhas, os destinos e as suas bagagens, as festas e os hospitais. O banco. A igreja. Mas vi. Mas seria exaustão qualquer tentativa de aguar a memória quase seca. 

Fica a sensação de plenitude misturada com cansaço. Cansei, ontem, e ainda me doem todos os ossinhos dos meus tornozelos, juro, meu corpo inchou, meus passos são de anciã até que por fim aprumo-me na caminhada. Foi assim de lá para cá e eu nem vi, mas com certeza eu andava enquanto machucava-me, só que agora tenho essa sensação plena de mim.

Eu não sei bem com o que sonhava...