EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sábado, 27 de abril de 2019


Fiquei vagando em tantas besteiras... hoje me pergunto se valeu a pena... penso que não, não valeu a pena, mas o que é que vale? Eu parecia a Alice, deslumbrada. Antes ter aberto somente portas materiais, assim creio teria valido a pena pois todas as que toquei, abertas ou não, valeram. O que não valem provavelmente são as portas que nos levam aos outros. Definitivamente, os encontros existem para serem apenas encontros e nada mais. Um esbarrão no corredor de uma universidade, um convite aceito para ir a uma festa, os encontros virtuais tão em moda, uma sala de aula... um encontro na fila da padaria, alguém que oferece carona, que carrega os livros para nós... tudo, tudo somente para ser aquilo e nada mais. Somente nossas construções valem a vida, nossos filhos na escola, o carro na garagem, as viagens, os presentes que compramos para as nossas mães, um brinde em um restaurante à beira-mar, até o sorvete de chocolate saboreado na esquina no meio da tarde da segunda-feira passada, do jeito que fiz, que fizemos, meus filhos e eu. 

As horas que passo em um aeroporto, eu sozinha fazendo compras, um livro sendo lido... as memórias de tudo que vivemos em nossas famílias, não as birras, os celeumas... mas aquele dia em que comemos massa de bolo crua com a calda que sobrou do doce de pêssego enlatado. Ou aquele outro em que o que nos restava para comer era um pacote de bolachas Maribel (é esse o nome?) batido no liquidificador com leite e a minha irmã confundiu o sal com o açúcar... e aquilo era tudo o que tínhamos para comer até o dia seguinte... num remoto ano em uma remota cidade do Espírito Santo...

Assim como foi hoje: a minha irmã e eu ao telefone conversando sobre as encomendas para quando eu for ao Brasil. Eu ri bastante com os argumentos dela. Estou rindo agora, só de lembrar. 

Conquistar, atrair, puxar papo... essas coisas apenas me desagradam. Falemos de receita de bolos!

Abril, 27.