EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


domingo, 1 de dezembro de 2013


Outro dia, escrevi que eu não conversava na América simplesmente porque não queria, e, não, pelo meu Inglês ruim. Mas, enquanto escrevia, eu me questionava, "seria mesmo?". Sim, não converso porque não quero; a resposta veio outro dia, numa festa. 

Festa de aniversário onde a grande maioria só fala Inglês e faz Jiu Jitsu... e eu perguntando-me o que faria por lá, em um lugar onde o assunto predominante seria esportivo demais... me esqueci de que também luto, deslizes em nossas hipocrisias, na minha, claro!

Meu filho sentou-se ao lado de um colega da idade dele e a mim restou uma cadeira na ponta da mesa. Do outro lado dela, um casal acomodou-se em duas e deixou uma vazia, a que estava à minha frente. Meu filho disse, "a cadeira que ninguém se sentará; será?".

Estávamos numa pizzaria brasileira, em um rodízio de pizza, pelo menos, o Guaraná, a comida e a presença do meu filho seriam o bastante, eu pensava, e contava mentalmente um relógio interno, de horas, a correr lentas e pesadas...

Chegou um colega meu, nunca havíamos conversado, sentou-se na 'desprezada' cadeira. Comeu os pedaços de pizza deliciando-se, ouviu-me, falando em Português com meu filho, começou um assunto, não me lembro o quê, disse entender Espanhol por causa do trabalho dele, disse que considerava o Português, Língua muito bonita... quando me dei conta, eu falava o meu horroroso Inglês em bom tom, errado, eloquentemente, ria, ria, esqueci que havia uma festa acontecendo à minha direita, pela longa mesa estendida. Falei tanta coisa. Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas, meu tio levando um tiro na perna, na Itália; o 'romeu e julieta' na comida mineira, a cobra Sucuri que na Colômbia chama-se Piton ou uma é parenta da outra... Liberdade, fonética, objeto direto, adjetivo, verbo e sujeito, meus estudos, a ideologia dele, o sentido que ele vê na vida... 

Sim, quando eu quero, eu falo. Apenas me dei ao luxo da dispensa, e, muitas vezes, ainda uso o recurso do "no English".

Não consigo mais perder meu tempo, não posso mais ficar tentando engolir goela abaixo gente chata, sem papo, um porre, gente dose... 

A esses, ainda cabe também o nosso querido "oi, tial!". E, fui! E, vamos! E salve quem tem cabeça para pensar e boca para falar! 

Eu disse que gostava de diários? 


Dezembro, 1