EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quinta-feira, 27 de abril de 2023

Eu ainda sinto a morte da minha irmã. Um ano e oito meses se passaram e parece que foi ontem. Ela estava no Nepal, eu a vi no rosto de uma nepalesa, eu a vi no aeroporto do Qatar quando vi coisinhas que ela gostava de comprar. Não compro mais presentes para ela e nunca mais receberei dela. Ela está no canto triste da pomba que fez moradia no meu quintal; está também na parede vazia onde a minha labrador Merci fixa o olhar por vários minutos, e depois abana o rabo. Para mim é ela que veio nos visitar e já que amava cachorros faz gracinhas para Merci. A morte dela revelou verdades e mentiras, enganos, bagunçou meu pobre coração. A moça no vídeo disse que a irmã dela iria falar assim ou assado, eu pensei na mesma hora que não tenho mais irmã para compartilhar nada. Deveria haver um nome para quem perdeu a irmã, na falta dele digo, sou órfã da minha irmã, sou sozinha.