EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?
Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020
domingo, 13 de abril de 2025
quarta-feira, 9 de abril de 2025
sábado, 5 de abril de 2025
segunda-feira, 31 de março de 2025
domingo, 30 de março de 2025
quinta-feira, 20 de março de 2025
sábado, 15 de março de 2025
domingo, 9 de março de 2025
Vitória Regina.
Quando eu soube de você, Vitória Regina, você já estava morta, embora ainda desaparecida. Assim como os outros, eu não pude ajudá-la. Sou uma velha, Vitória, e você tinha a idade da minha filha. Eu trocaria minha velhice, meu cansaço e desgosto por sua vida. Mas eu não fiz nada, ninguém fez. Você só queria trabalhar, comprar suas coisas, ter suas coisas. Da padaria, você conseguiu um emprego como operadora de caixa em um restaurante de Shopping. Você não poderia ter voltado para casa sozinha naquela noite, dois ônibus e um caminho íngreme num terreno acidentado por cerca de quinze minutos na escuridão total, mas o destino foi cruel, quebrou o carro do seu pai que a buscava sempre e lhe entregou feito um cordeiro para não sei quantos homens cruéis, misóginos, psicopatas, monstros. Desculpa, Vitória, ninguém lhe ajudou. Descansa deste mundo odioso. Ficaremos nós aqui, imprestáveis. E eu mais caquética e triste.
domingo, 23 de fevereiro de 2025
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Sobre gente arrogante e imigrantes.
Certa ocasião, um cachorro sem coleira atacou nossa cachorra ainda bebê. Meu marido foi a casa do dono do cachorro, nosso vizinho de bairro, cobrar a conta da clínica veterinária. Pedi a minha filha para ir junto porque meu marido poderia perder a paciência - eu não fui porque era certo que eu ia perder a paciência. O vizinho disse que não pagaria e isso depois nós resolvemos quando contactamos a polícia; claro, ele pagou. Esse sujeito branco e arrogante perguntou ao meu marido se ele era documentado. Ah, essa parte do show, eu perdi! Meu marido respondeu, "eu sou, e você?". O arrogante respondeu com uma ordem, "me mostra a sua identificação". Meu marido, "mostro depois que você me mostrar a sua". A minha filha então disse em Português, "este cara é um babaca, vamos embora, dad".
Eu não sairia do meu país se eu não pudesse, salvo se meu país estivesse em guerra. Em guerra, ninguém iria me deter. Saí com meus filhos ainda crianças porque meu marido nasceu nos EUA.
Entendo quem sai, mesmo fora de uma situação de guerra e fica indocumentado. Não entendo é imigrante que se acha melhor que outro imigrante só porque está legalizado no novo país. Uma vez imigrante, sempre imigrante. E eu acredito que o vizinho arrogante descende de imigrantes pois ele não tem cara de índio.
Eu não suportaria viver o medo constante. Eu não suportaria atitudes grosseiras para comigo. Meu marido é branco e tem olhos azuis, a minha filha é mais branca ainda. Meu marido tem um pouco de sotaque porque se mudou ainda criança para o Brasil com a família. Ele nasceu nos EUA na época em que o pai dele foi convidado a dar aulas em uma universidade em Albuquerque, Novo México, estado americano. Eu sou branca brasileira e a minha cara não revela de onde sou - ninguém acerta. O vizinho arrogante encrespou porque não queria pagar a conta, mas também porque percebeu o sotaque do meu marido e tentou intimidar.
A gente vive na Califórnia, um dos estados santuários, isso é, estado que recebe bem imigrantes, mas temos arrogantes vivendo na casa ao lado, passando por nós todos os dias, é claro, gente que não presta para morar em lugar nenhum deste mundo. São eles que estão no lugar errado pois este mundo é de todos nós que cabemos nele. O arrogante não cabe em lugar nenhum.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
sábado, 25 de janeiro de 2025
Ainda estou aqui.
Até parece que eu não conhecia a história do Rubens Paiva, preso, torturado e morto em um quartel militar brasileiro. Até parece que não conheço as duas Fernandas, mãe e filha, e sempre fui fã delas. Até parece que posso me teletransportar para o passado e estar naquela casa, naquele Rio de Janeiro vivenciando com eles tudo aquilo. Pois foi assim, vários golpes certeiros na minha cara, no meu peito, tensa, numa sala pequena de cinema no centro de Los Angeles, eu deixei de ser eu, virei um vegetal esticado e seco naquela poltrona, doida para chorar, doida para ter novamente um manancial de lágrimas. Que filme, meu Deus! Graças ao Marcelo Rubens Paiva que deixou no papel o registro de tudo o que aconteceu e ao Walter Salles, um herdeiro bilionário, que nem precisa disso. Meu Deus! Como se não bastasse toda a perfeição do filme, no final vem a Fernanda Montenegro que, sem dar um pio, me joga longe, sacode todas as minhas células, me cala, me dá um nó na garganta. Até parece que eles ainda estão aqui, eternizaram-se.
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Descobri no último ano ou nos últimos poucos anos que cada amigo vem com algo para nós, mas nenhum vem com tudo, isso não existe. A gente tem que saber aproveitar o que cada um tem para nos dar. Aquilo que não é dado, a gente desfoca. Cada um tem a sua importância, cada um dá o que tem para dar. E a recíproca será verdadeira.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
20 de janeiro de 2025, 16 anos morando nos EUA.
Há dezesseis anos, eu escrevo neste dia e hoje não será diferente embora eu tenha decidido que não ficarei mais aqui por muitos anos. Acho que foi ontem que envelheci. Quero passar minha velhice em um lugar bucólico, tranquilo, sem correrias.
Há dezesseis anos, passamos raivas com o distrito escolar e com o serviço de saúde americanos. Desse primeiro, em junho, ficaremos livres definitivamente. Minha filha se formará no High School. Meu Deus, quanta raiva nós passamos! Nem quando aqui chegamos e precisávamos do serviço do escolar, aquele famoso pequeno ônibus amarelo dos filmes, pudemos contar porque o serviço é exclusivo para as crianças com deficiências físicas ou mentais e comprovadamente pobres. A comunicação com o distrito escolar praticamente não existe, cabe aos pais o direito de concordar com a administração, mas as escolas nos enviam mais de dois emails por dia e também diariamente deixam mensagens de voz ao telefone. Meus dois filhos tiveram que estudar nas escolas que eles determinaram embora não fossem a do bairro onde morávamos, direito não respeitado, mas tiveram colegas que moravam do outro lado da cidade. Poucos anos atrás, a colega da minha filha fugiu de casa e a polícia só a encontrou dois dias depois. Ela foi transferida de escola por causa do escândalo, e para ela havia uma vaga, onde para a minha filha não havia, embora tivesse o direito. Foi então que escrevi uma carta especial para o distrito com cópia até para o gabinete do prefeito da cidade, ocasião essa em que a minha filha precisou estudar por motivos pessoais em uma escola próxima da nossa casa, onde o irmão dela havia concluído o High School. Batalha essa que eu venci.
Quanto ao Serviço de Saúde, só digo que a morte daquele CEO, eu não lamentei. Pagamos caro todo mês ao seguro de saúde, além de pagarmos por tudo a título de coparticipação, quando mais precisamos, tivemos apenas negativas, telefonemas atendidos após esperas muito longas e calhordices. Colocam os preços nas alturas, por exemplo, trinta comprimidos por $1.700,00 e como são bonzinhos deixarão por apenas $300,00. Para cobranças são ágeis e fazem ameaças. Passamos por cirurgias e em todas pagamos entre três mil a cinco mil dólares a título de coparticipação diante da absurda conta que nos enviaram, algo em torno de vinte a trinta mil dólares cada cirurgia. Certa ocasião, fiquei quase dois anos sem ir ao dentista. Então, não usei o serviço embora pagasse todo mês para tê-lo. Quando passou a pandemia, fui me consultar e descobri três problemas muito sérios nos meus dentes. O seguro recusou meu pedido e eu tive que pagar metade de forma particular porque o valor excedia ao que eu tinha direito. Então, aquela morte eu não lamentei pois graças a Deus na minha família ninguém morreu por conta desse serviço, mas não foi assim em todas as famílias.
Mr. Trump toma posse hoje e quem sou eu para reclamar se as estrelas democratas estão lá sorrindo e acenando para ele?
Foi difícil deixar o Brasil, embora eu não tenha derramado uma lágrima sequer, mas fácil será ir para qualquer lugar, basta foco e organização.
Envelheci. Incrível essa constatação, parece que foi ontem à noite. Meu rosto já tem preenchimento facial, as benditas injeções de colágeno, mas a pele de todo o resto se desmonta, pescoço, braços, pernas, e eu até gosto porque significa que sobrevivi. O contrário disso, é morrer jovem e agora eu não posso.
Embora certas raivas, sou feliz aqui, segura, plena, realizada. Caminho pelas ruas sem medo, temos de forma distinta as quatro estações do ano. Outro dia, o colega do meu filho esqueceu a sua carteira de dinheiro na máquina da academia, uma hora e meia depois, ele voltou às pressas para buscá-la e lá estava ela, intocada, numa sala lotada de pessoas. Nada seria melhor no Brasil do que vivo aqui há dezesseis anos. Sim, existem os filhos da puta, mas esses estão em todos os lugares.
Meus filhos estão criados, buscarei outros sítios. Não irei agora, nem brevemente, apenas registro aqui minha decisão. O sucesso conquistado nesta existência me permite sonhar e planejar outros voos. Nada tenho a me queixar, muito menos me envergonhar, de verdade, eu mudei pra melhor a vida de nós quatro, isso significa sucesso.
Aprendi muito com os americanos e todos os outros aqui residentes. Sou outra para melhor, com certeza, mas eu quero mais e quero falar em português. Quero comer bananas que não sejam as nanicas, xingar em português, demorar nas refeições, falar pelos cotovelos, pedir uma xícara de açúcar para a vizinha, trocar receitas, amanhecer sem pressa e pagar menos para ter cobertura de saúde.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
sábado, 11 de janeiro de 2025
Los Angeles, incêndio de 2025.
Aos brasileiros que bendisseram a desgraça na Califórnia, deixo a seguinte observação: desgraça não é privilégio ou prerrogativa do Brasil.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Na estrada, a gente se perde do mundo.
Há muitos anos sem pegar as estradas americanas, eu estava com saudade. Em 2014, fomos ao estado de Minnesota e em 2016, ao Alabama. Na pandemia, chegamos até San Francisco - mais perto. Pensei que não voltaria a fazer, mas fiz, fizemos, foram 2.500 milhas, cerca de 4.300 quilômetros. Cansa bastante, mas vale cada segundo. Na estrada, a gente se perde do mundo.
quinta-feira, 2 de janeiro de 2025
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