Eu não sairia do meu país se eu não pudesse, salvo se meu país estivesse em guerra. Em guerra, ninguém iria me deter. Saí com meus filhos ainda crianças porque meu marido nasceu nos EUA.
Entendo quem sai, mesmo fora de uma situação de guerra e fica indocumentado. Não entendo é imigrante que se acha melhor que outro imigrante só porque está legalizado no novo país. Uma vez imigrante, sempre imigrante. E eu acredito que o vizinho arrogante descende de imigrantes pois ele não tem cara de índio.
Eu não suportaria viver o medo constante. Eu não suportaria atitudes grosseiras para comigo. Meu marido é branco e tem olhos azuis, a minha filha é mais branca ainda. Meu marido tem um pouco de sotaque porque se mudou ainda criança para o Brasil com a família. Ele nasceu nos EUA na época em que o pai dele foi convidado a dar aulas em uma universidade em Albuquerque, Novo México, estado americano. Eu sou branca brasileira e a minha cara não revela de onde sou - ninguém acerta. O vizinho arrogante encrespou porque não queria pagar a conta, mas também porque percebeu o sotaque do meu marido e tentou intimidar.
A gente vive na Califórnia, um dos estados santuários, isso é, estado que recebe bem imigrantes, mas temos arrogantes vivendo na casa ao lado, passando por nós todos os dias, é claro, gente que não presta para morar em lugar nenhum deste mundo. São eles que estão no lugar errado pois este mundo é de todos nós que cabemos nele. O arrogante não cabe em lugar nenhum.