EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


domingo, 11 de agosto de 2019

Para meu pai.


Quando nasci, nos primeiros minutos de vida, meu pai me salvou. Depois, foi muita história, assim como são as verdadeiras, com momentos ruins, péssimos, bons e ótimos, e estivemos sempre por perto um do outro, mesmo quando me casei, quando me mudava para o exterior e principalmente nos últimos meses de vida dele.

Meu pai não se preocupava com meus estudos pois ele sabia que não precisava, que eu era forte e independente, igual a ele. Pagou meus estudos em escolas particulares, pagou minhas contas, levava-me ao dentista, médico, oculista. Teve muito orgulho de me levar ao altar no dia do meu casamento, de visitar meus filhos no hospital, de batizá-los, de estar com eles.

Em uma certa época, desconsiderei a presença masculina dele e o substitui pela presença do meu irmão. Isso foi a coisa mais tola que eu fiz na vida. E me arrependo.

Então, agora, digo, ó, pai, saiba, de uma vez por todas, e até escrevo sobre para deixar registrado, você foi único, ímpar, seleto, pronto, perfeito para mim, mesmo quando me fazia raiva porque eu aprendi a ser o que sou, assim, igual a você, inviolável, incorruptível, franca de doer, mas honesta e boa. Sim, sou a sua legítima Guimarães.

Não nascemos para sermos amados, pai, apenas respeitados, e isso nos bastou e basta.

Quando nasci, nos primeiros minutos de vida, meu pai me salvou. E ainda me salva, pois sou o reflexo dele no espelho e na vida.

Agosto.