Sessenta pessoas em New York beberam desinfetantes e foram parar no hospital. Talvez, inspiradas pelo presidente americano que teve essa estapafúrdia ideia. Como se o cotidiano mais estapafúrdio ainda não nos bastasse...
Meus escapismos estão me cansando. Já cismei com jardinagem e culinária, mas estou exausta. Para ir à rua, preciso me lembrar de usar máscara no rosto, tenho usado bandanas e não sei respirar direito com elas e nem enxergar.
Passei o dia pensando no que aconteceu ontem. Voltei lá porque à noite, ao me deitar, fiquei pensando que tive um surto, que tive um delírio e criei tudo aquilo na minha cabeça, então, voltei. Eu queria entender de onde mesmo aquele cara saiu, pois eu só me lembrava mesmo dele num salto, num pulo, vindo de cima para baixo para atingir o sujeito que estava tentando brincar de gato e rato comigo naquela rua deserta. Eu tinha os olhos fixos no sujeito para pensar o que eu iria fazer, então não vi direito e por isso duvidei de mim à noite, deitada na minha cama.
Meu anjo ébano pulou da plataforma do metrô, então ele estaria embarcando ou desembarcando... quando me viu no cruzamento das duas avenidas tentando me desviar do sujeito. Fui lá e vi e entendi o que aconteceu. Tem uma escadinha, uns três degraus com grades bem baixas laterais. Ele dispensou os degraus e voou pelas grades, indo em direção ao sujeito. Por isso, o que primeiro vi foram suas pernas como se pulasse ou saltasse. Meu Deus! Na hora que eu precisei, na solidão daquele momento, tinha um homem bom e bravo me vendo... penso no quanto é tolice pensarmos que estamos sós, talvez a gente não esteja...
Ainda não me conformo de não ter dito pelo menos, Thank you.
Amanhã, escrevo sobre isso. O dia foi longo, lembro-me de estar na cozinha pela manhã fazendo pães e agora estou aqui, tentando segurar qualquer coisa em mim pois parece que tudo se liquidificou e eu nem sei para onde.
Abril, 26