"Eu só queria telefonar" é o título de um conto de Gabriel Garcia Marquez que li há muitos anos, mas que fica na minha memória constante. Eu só queria comer alguns salgadinhos e docinhos brasileiros aqui nos EUA, eu só queria ajudar a pessoa que postou o anúncio nos Páginas Amarelas e, no fim, sinto-me desanimada, com preguiça - ah, já nem mais consigo me exaltar. A pessoa leva uma semana para se comunicar comigo, respondendo uma pergunta para cada três. Como vou decidir o sabor da empadinha se ela não envia o cardápio para mim após eu pedir duas vezes, e como vou pedir se não me responde quanto é para entregar? Envio meu endereço, meu telefone, mostro boa vontade, mostro que não sou uma curiosa ou desocupada que precisa conversar com alguém e por isso inventa conversa. Decido então cancelar o pedido. Ela então responde, telefona... não atendi. Eu só queria alguns salgadinhos e docinhos para ocupar nosso fim de semana, algo que nunca fiz aqui, encomendar, meu marido e eu sempre fizemos em casa ou compramos nos mercados brasileiros.
E vem então a avalanche de desânimo, preguiça que tenho com os humanos, com gente.
Já desisti dos grandes quereres para com o outro faz tempo. Agora era somente isso, eu só queria fazer um agrado e dar um help.
Abril, 23
P.S.: eu só queria dizer isso.