... os dias seguem quase iguais, e eu já confundo se falei algo na semana passada ou na anterior a ela, as minhas mãos estão machucadas e trincando de tanto lavar, não apenas pelo medo de contrair o vírus como também porque não consigo ficar à toa vendo o tempo passar, não assisto tv, não estou a fim de filmes e nem de livros, estar em movimento físico é o que me faz bem e eu então limpo, cuido, planto, faxino, lavo, cozinho, vou mil vezes ao quintal, onde sempre tem algo para fazer, mais mil à garagem. A minha cachorra é filhote e o tempo decidiu contrariar todas as outras primaveras, chove, choveu a noite toda e vai chover mais ainda, e isso significa limpar o que ela suja, ela, que tomou banho ontem, em casa, como sempre, e hoje se jogou em poças de lama no quintal... Alguma coisa ou todas elas me cutucam para eu surtar, mas eu não surtarei. Os dias seguem quase iguais porque a vida se impõe com seus problemas e nós quatro, aqui em casa, não podemos fazer o isolamento por completo. Já nem me importo. Reina em mim um certo descuido, ordem antiga que me diz para chutar o pau da barraca, sim, deixar as peças do dominó caírem livremente pelo tabuleiro, mas eu ainda seguro algumas nas mãos.