EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Cartas


Este poema veio a mim. 28/junho/2010 https://omedodesuzana.blogspot.com/2010/06/cartas.html

CARTAS
Suzana C. Guimarães
Quando eu morrer,
Não me enviem
Cravos, flores
Rosas brancas.
Quando eu morrer,
Me enviem cartas.
Quero cartas
Em papéis de seda,
Papel rascunho,
Muitas folhas
Ou uma única.
Mas, prefiro as longas...
Me enviem cartas
De amor
Desabafo...
Irrefreadas candongas!
Que falem da última fornada de bolo
Sobre o filho que nasceu
O pai que morreu.
Me conte sobre as últimas músicas
Últimos livros, últimos poemas que sorveu
Me descreva a última viagem ou a primeira
Pois eu amo cartas.
Enviá-las ou recebê-las...
E tantas foram as cartas
Que li e reli,
Minhas ou alheias...
Rasgos de cartas,
Cartas quase que incendiadas
Cartas mofadas, esquecidas,
Renascidas em minhas leituras
Pelo simples amor
Que eu sempre dediquei a elas...
Sem maldade, sem culpa que me acuse.
O primeiro beijo,
Aquela noite inesquecível
Aquela madrugada insuportável.
Ou não conte nada,
Escreva um infinito de pontinhos
Entre palavras desconexas.
Me conte daquele abraço que pediu e
Do beijo que aproveitou para roubar!
Do sono que perdeu.
Me fale dos Réveillons em que preferiu dormir
Do Natal que não viu passar...
Choramingue o amor não correspondido
Que, para não se esquecer de quem já lhe esqueceu
Diz que comprou aquele disco
Que toca o dia todo feito vício.
Me escreva a mais simples verdade
Use melodia...
Ou as maiores mentiras.
Mas, cartas.
Não me envie rosas
Principalmente as brancas
Não as quero mais.
Morta, largo mão de tolas queixas,
Dos sonhos escorridos pelos vácuos
Morta, apenas cartas...
Iniciem com "Querida",
Terminem com sua ida.
Iniciem com meu nome
Ou aquele que você sonhou me chamar
Ou aquele que você me chamou em sonhos...
Morta,
Estarei sem mãos,
Rosas, não as poderei pegar.
Morta,
Abrirei os olhos tão eternamente fechados
Para minhas cartas alcançar.