EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?
Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020
domingo, 22 de julho de 2018
... estas ruas esburacadas, essas calçadas, as pichações, esses homens atrevidos, esse mormaço, as árvores frondosas, esses mentirosos. Esse chão acidentado, acinzentado - palco onde piso rainha. Esse tempo que devora a minha história... essa terra me fez dura para eu ir adiante.
Julho, breve julho.
terça-feira, 17 de julho de 2018
segunda-feira, 16 de julho de 2018
Um desenho quase feio que me trouxe decepção e nostalgia. Eu já tinha me esquecido. Pessoas falavam ao meu redor, estávamos felizes, satisfeitos, mas o desenho feio lembrou-me cidades que já percorri e não percorro mais; destino, coisas da vida - ele insiste, “Faz parte”. Esse fazer parte arrastou-me a esse desenho feio, terra morna... as belezas viriam apenas mais tarde. Pichações, ruas esburacadas, calçadas quebradas, cheiro de mijo, viadutos abandonados... cães dormindo nas sarjetas. Pensei ter errado a cidade, era madrugada, eu, totalmente outra, quase não acreditei. Faltava largar as percepções e deixar-me levar pelo táxi alugado ainda no aeroporto.
Cada quilômetro vencido, gosto mais amargo na boca.
Cheguei estranha, me vi mais forasteira ainda em minha terra. Esse negócio de nos refarzemos em terras distantes é cruel. Não dá para ficar na ponte aérea. Por isso, o exílio forçado. Ele falou também em vida de ermitão. Isso eu tenho aqui, nesse desenho quase feio. Minhas raízes correm comigo, vão aonde vou.
Presa em casa por vontade própria, espero o tempo consumir-me, fazer-me ver a parte bela desse desenho feio.
Julho, não sei que dia é hoje.
sábado, 14 de julho de 2018
terça-feira, 10 de julho de 2018
segunda-feira, 9 de julho de 2018
Em diferentes estágios de abstração...
Mais cedo, absorvi a energia da moça do caixa, na loja... hábito antigo. Entreabri os olhos, satisfeita pelo delicado furto - posso relembrá-lo agora, sensação calma, fio de água lavando o estresse, abrandando a correria... sossego. As mãos dela pegavam as etiquetas das coisas compradas... unhas longas, negras, coloridas de rosa escuro... leve sono em mim. Torpor.
Meu carro passa e eu olho as praças da cidade, os bancos perfeitos, intactos, limpos, também a grama, ruas, calçadas... eu amo essa terra.
Mas é hora de ir ali... para a terra da crueza, meu berço.
Busco abstrações. Desfoco meu coração. Embaço os olhos, respiro os ares, já estou meio cá, meio lá.
Penso na moça da loja... todas as coisas se embrulham em seus pares...
Julho, 9
sexta-feira, 6 de julho de 2018
quarta-feira, 4 de julho de 2018
Duas mudanças de endereço em um ano. Hoje, relembro cenas, só isso ficou. Relembro as caixas, a procura, a confusão, um certo nervosismo controlado, o retorno ao ansiolítico para dormir, a certeza de que não tenho visto a vida passar porque ela voa, um avião desgovernado, um carro sem freios.
Paro, hoje, como são belas as minhas mãos! Há tempos eu não as via. Nem via roupas, sapatos, o carro trocado às pressas... sempre tudo às pressas.
É verão aqui. É inverno lá. Proponho-me a levantar-me e preparar-me... só de pensar isso cansa.
Prefiro olhar as minhas mãos. Contemplá-las.
Julho, 4
terça-feira, 3 de julho de 2018
Ela me disse, “ Melhor se surpreender a se decepcionar, prefiro esperar o pior...”. Isso é de tudo perfeito. Sem idade para acreditar em fantasia. Cansada demais para enfrentar decepções, melhor é nada imaginar. Estou num ponto que deparar com tristeza por esperar alguma coisa é puro desaforo.
Amanhã é quatro de Julho.
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