EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quinta-feira, 2 de julho de 2020


Em meu primeiro ano na academia de jiu jitsu, um colega, mais velho em idade e muito mais graduado que eu, me disse, "você não se firma em suas próprias pernas"e me sacudiu; eu não caí, firmei minhas pernas no peito dele, eu estava em cima dele, mas mesmo assim, ele me balançou muito. Ele me sacudia e dizia, "qualquer um tomba você". Essa é a ideia entre o que você pensa e o que realmente acontece. Esse é o fato: ser forte em pensamento vale nada.

Eles irão pegar você e vão espremê-lo, tal qual a uma laranja, para retirar todo o caldo e depois secarão as suas cascas para incensarem as casas deles.

Não adiantará dizer que é forte. É preciso se firmar em suas pernas  antes dos fatos. Infinitas vezes, eu fui sacudida no tatame, mas aprendi tanto nele quanto fora dele a estar preparada, sem pequenas ideias de força. Prefiro pensar que sou fraca, prefiro fingir de morta, pois essa coisa de ganhar ou perder é bem relativa, e entendi que a gente precisa virar o jogo. Nessa hora, enquanto viro o jogo, serei forte e fraca, tudo vai depender do quanto preciso para retirar a sua estabilidade.

Aprendi que há gente que precisa do fraco para se sentir forte. Perto do forte, ela não funciona bem. Perto do fraco, ela irá espremer a laranja até o fim. Eu não sei se é fraca ou forte, penso que é esperta, quer segurar alguma certeza e para isso não é honesta.

Talvez eu também não seja honesta, mas ninguém veio a mim para perguntar se eu estava gostando do balanço, da sacudida, do espremer-me igual a uma laranja.