A nova casa tem grilos. Ouço-os. As noites já estão frias, já é outono, já é outubro. Esse ano poderia acabar agora, nesses dias calmos, cheirando a jasmim. Há pés de jasmim na vizinhança. Todo o bairro acolhe-me, e me conduz à cidade do meu pai. Não vivo de recordações, essas apenas chegam a mim de forma doce, tranquila, sem sobressaltos.
Vivo meu presente hoje. Posso respirá-lo. Esse ano foi de atitudes rápidas, ano de determinação, muitas idas e vindas, muito cansaço, mas ano em que me mantive leve e elegante.
Agora é tempo de desnudar os pés, rir dos enganos, disfarçar as decepções, respirar os ares do meu novo lar! Enfim, após cinco meses, posso prestar atenção no som que os grilos fazem.
Meu pai sempre dizia para repararmos os sons dos pássaros, dos sapos, o balanço das folhas das árvores, as estrelas no céu... Para ele, era forma de relaxamento, e é, hoje percebo isso com clareza.
As coisas ruins que tentaram criar corpo perderam-se no caminho. Sou a guardiã dos meus sonhos, dos meus passos e decido ouvir os sons da paz. A paz corre atrás de mim, deseja-me, busca-me...
Um tempo florido apresenta-se. Sou toda sons!