Ela, tão criança ainda, procurava formas de me distrair. Disso não me esquecerei. Tornou-se dona de mim, do espaço à minha volta, do tempo; foi absoluta. Desprezo a lembrança de quase tudo - eu sempre boazinha digo 'quase' -, mas disso eu não me esquecerei.
Cozinhou arroz e mingau para mim, fazia misto-quente quando a fome chegava fora de hora. Acendia e apagava as luzes quantas vezes eu pedisse, inventou brincadeiras fáceis para mim, colocou o celular para tocar músicas que eu gosto. Dormia ao meu lado com o cuidado de não me chutar durante a noite. Ela me vigiava. E velava.
Foi a minha mãe.
Eu era apenas uma velha triste.