Ele abriu uma fresta da persiana e disse, "Abra a cortina e escreva para a árvore". É um pinheiro bem alto, já sabedor de mim, onde passeiam esquilos, pássaros fazem voos solitários ou em bandos, e à noite pousam as corujas. Fica bem em frente à mesa de escrever, agora, outra, pequena, de metal, onde só cabem um laptop, duas mãozinhas de madeira feitas na Indonésia e o mouse com seu tapetinho. A persiana se divide em duas partes, verticais, o pé direito duplo exige metros de material... a parte menor dessa cortina esconde a minha mesa. É só abrir para ver uma paisagem constante, mas viva, real, minha. Toda para mim... mas eu me esqueço...
Deveria esquecer outras coisas, fatos e pessoas, principalmente, essas, e quanto a isso posso dizer o universo conspirou, e, por motivos pessoais, comecei a esquecer, processo físico.
Com prazer, paguei multa outro dia porque eu esqueci. Ri, satisfeita. E estou esquecendo detalhes, lista de compras, o tanque de gasolina se esvaziando, as coisas nos cantos, espalhadas, esquecendo a vida, parando de pensar nela, tentando somente arrastar-me na rotina; rotina, isso, aquilo que faz a gente mais gente.
"Escreva para a árvore"... Meu Deus, e eu já ia me esquecendo dessa última frase. De desfecho.
"Escreva para a árvore"... Meu Deus, e eu já ia me esquecendo dessa última frase. De desfecho.
Janeiro, 12