Tenho duas vidas. A atual grita por mim e eu não aguento mais: onde está o novo adesivo de estacionamento, onde estão as meias escolares e como é que usa mesmo o meu celular? Não falem mais meu nome, não me chamem, fui ali, não voltei mais. Por aqui, um protótipo dos bem mal feitos de mim. Cato coisas pelo chão o dia todo. Não sei mais como se faz a ligação para o Brasil e ela cai e eu me irrito. Do outro lado, perguntam-me sobre detalhes de uma realidade que deixei para trás outro dia, mas que vivi intensamente, e, pelo intenso, agora amargo cansaço. Perguntam-me onde estou. Como? Onde estou? Vou tirar fotos. Vou publicar o mapa e minha atual posição... por que será que fazem isso? Gritam por privacidade, mas anunciam cada passo. Não, não estou no aeroporto, nem no restaurante e nem na ilha paradisíaca. Não, não sou metade de um casal eternamente feliz, eternamente sorriso, sou cansaço. Eu queria mesmo é que você publicasse a foto de você sentado na privada. Até me faz recordar, a atriz brasileira que foi mostrada sentada no vaso sanitário, vestida de Mulher Maravilha. Falta pouco para a Mulher Maravilha aqui fazer o mesmo. No mundo de mapas sinalizados atual, eu quero qualquer coisa bem escondida, fechada, intrínseca. Alma de tatu-bola me faz voltar, voltar...
Meu filho queria voltar, minha filha não sabe como chamará a nova professora, Ms. alguma coisa, deixa para lá, filha, todos terão que decorar. Cheguei há dias, que dia foi? Não vi a rua, fujo do Sol, finjo que regresso.
Bem na hora, bem na hora em que ele andava em brasas, aos cuidados, e eu, a brasa.
Setembro, 3