Ele me deu um rápido beijo do lado esquerdo do meu rosto. Subiu e desceu um arrepio. Tive um orgasmo.
Qual o nome do meu seguro de saúde? Qual o passeio que pensei fazer? Qual o dia em que fui mais feliz? Quando foi que eu perdi a graça com alguém? Quando foi que comecei a afeiçoar-me? Quando foi que disseram-me algo puro e verdadeiro? Quando foi a última vez em que ouvi este pássaro que canta agora e me senti em paz? Quando foi o tempo em que eu não pedia cinco minutos de solidão e não precisava esconder-me para estar só? Quando foi que eu passava dias sem o assalto do mal? Quando foi que eu pensei que tudo aquilo era amor? E quando foi que tive a certeza de que era fuga? Quando foi que eu me deixei acreditar e afirmei vários nãos recebidos?
Faz tempo. Outros pássaros passam em bando. Meu endereço mudou, inclusive meus registros. Da agenda, infantilmente, apaguei vários endereços, telefones e mensagens. Retirei muitos da lista de contatos. Confiante estou, pois mal guardo meu número de telefone celular, não sei o da minha casa, sequer a placa do meu carro.
Eu sei de mim. Eu sei porque fiquei longo tempo aprendendo... não me esquivei da dureza da descoberta e muito menos da suavidade. Sim, eu sei ser suave, mas isso é para poucos.
Mais tarde, ele me fez uma pergunta. Se respondi, não me lembro. E, se respondi, foi qualquer coisa, pois, até hoje, a verdadeira resposta eu também sei que não sei.
Eu disse que gostava de diários?
Setembro, 1