Quando o coração é puro, a gente assusta, mas isso não é para sempre, porque coração puro tem proteção para qualquer maldade. O som veio de longe. Seduziu-me. Cheguei e deitei-me na grama para ouvir alguém soprando solitariamente um oboé. Algo por volta de quatro horas da tarde. O mais gostoso de todos os invernos que passei na Califórnia. Uma blusa e dois casacos de frio, tênis, calça jeans, o cabelo preso num rabo de cavalo. Foi ali que alcancei a magia da paz. Haveria uma festa e muitos ensaiavam, o do oboé estava voltado para fora do prédio. As pessoas e os carros que chegavam no estacionamento não faziam barulho, nem eu. O som do oboé era preciso e forte, calou os barulhos que me incomodavam e eu posso sentir a saída deles agora, tantas horas depois, de dentro de mim. Tem barulho que não vale a santidade da nossa alma.