EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Nosso Forrest Gump


O cara do supermercado, um senhor de idade, olhou para mim, enquanto passava as minhas compras na esteira do caixa e disse, "organizar, organizar, organizar". É início de ano, as lojas mudaram as mercadorias de posição, à vista e em grande quantidade, caixas organizadoras. Os americanos, na passagem de dezembro para janeiro, focam em arrumar suas casas. Nas calçadas, pode-se ver sófas, geladeiras e prateleiras velhos, à disposição dos passantes. Aproveito para fazer o mesmo. Além da faxina da alma, a da casa!

N. também se organizou em todos os sentidos. Deixou a casa dos pais. Embarcou hoje para outro estado e depois, outro, para servir às forças armadas. Estou há meses pensando no dia de hoje, até que então ele chegou e já é noite e N. já veio se despedir de nós. Dei a ele panetone brasileiro. Eu me senti mãe dele. Meu filho deu uma moeda para ele. Não chorei na hora do abraço. Mostrei-me forte. Desejei boa sorte. E ele se foi, novamente correndo, para casa, como sempre faz, nosso Forrest Gump. Às vezes, você não tem opção na vida, e você embarca na única jornada que lhe estende as mãos. Estando lá, ele poderá estudar. E ele se foi... ai, tristeza. Vou chorar escondido, sim, vou. Ele merece as minhas lágrimas.

Espero que quando ele comer os três mini panetones, ele sinta conforto na alma, pois é esse o meu desejo. Dei a ele pão como símbolo bom. 

Depois que ele se foi, pensei: o melhor de todos no mundo sou eu mesma. Só eu posso ser o anjo a me guiar pelos caminhos. Só N. será o anjo dele. Nós somos sós, N., não se importe, você já sabe, e a vida pode ser somente singeleza, basta respirar, respirar e respirar. 

I will see you.