Escovo os meus dentes olhando para um pé de grapefruit lotado, que eu vejo através da janela do banheiro, dividindo a minha casa da casa do vizinho, por sobre o muro peduram-se as frutas amarelas. As noites são calmas e se iniciam em tom rosa, para depois gelar os ossos. A vida no deserto é intrínseca, assim como eu. Vivo em meu habitat. O silêncio, o mistério que o deserto carrega, os cactos que sobrevivem maravilhosamente em qualquer canto, sem água, sem cuidados, ao lado de roseiras que transbordam pesadas ao chão em rosas enormes, tudo sou eu, mais um de seus elementos. As manhãs são muito frias, assim como as noites, e se contrastam com o meio-dia, quente feito o capeta, sim, todo meio de qualquer dia é quente. O sol castiga essa cidade sem árvores frondosas e marquizes, ah, disso eu sinto falta, daquela coisa úmida, morna, e sombreada da minha terra montanhosa... terra essa que vai se apagando de mim, assim como a visão dos coiotes que perambulam à caça de comida ou confusão...