Quando nasci, nos primeiros minutos de vida, meu pai me salvou. Depois, foi muita história, assim como são as verdadeiras, com momentos ruins, péssimos, bons e ótimos, e estivemos sempre por perto um do outro, mesmo quando me casei, quando me mudava para o exterior e principalmente nos últimos meses de vida dele.
Meu pai não se preocupava com meus estudos pois ele sabia que não precisava, que eu era forte e independente, igual a ele. Pagou meus estudos em escolas particulares, pagou minhas contas, levava-me ao dentista, médico, oculista. Teve muito orgulho de me levar ao altar no dia do meu casamento, de visitar meus filhos no hospital, de batizá-los, de estar com eles.
Em uma certa época, desconsiderei a presença masculina dele e o substitui pela presença do meu irmão. Isso foi a coisa mais tola que eu fiz na vida. E me arrependo.
Então, agora, digo, ó, pai, saiba, de uma vez por todas, e até escrevo sobre para deixar registrado, você foi único, ímpar, seleto, pronto, perfeito para mim, mesmo quando me fazia raiva porque eu aprendi a ser o que sou, assim, igual a você, inviolável, incorruptível, franca de doer, mas honesta e boa. Sim, sou a sua legítima Guimarães.
Não nascemos para sermos amados, pai, apenas respeitados, e isso nos bastou e basta.
Quando nasci, nos primeiros minutos de vida, meu pai me salvou. E ainda me salva, pois sou o reflexo dele no espelho e na vida.
Agosto.