Quase pouco...
E hoje sou feliz e nem tanto. Desconheço bipolaridades, tudo é e ao mesmo tempo não, quase no mesmo instante um quase dia de diferença que nunca completará as horas porque a cada hora sou feliz e triste. Sou rei de um único principado e nele só há um rio que nunca levará n`algum oceano e ele e eu somos um só quando mergulho em suas águas e me vejo tão rei e tão nu... porque hoje sou feliz e nem tanto e nenhum homem pode me deter e me matar, mas uma única criança é capaz de levar consigo todas as minhas riquezas, meus tesouros escondidos, e, debochada, me avistar ao longe, e me acenar de longe, satisfeita por poder me matar, só ela e nada mais e mais ninguém.
A vida de um rei que tem um único principado desenhado num mapa de desvios e atalhos, cortado pelo único e estéril rio - esse, que nunca porém o iludirá, pois é só isso e é tudo -, onde linhas divisórias são quase nulas, mas segredam o desejo do desespero: atirar-se do alto é o sonho desse rei que sou eu e que leva consigo uma criança que pode matar.
Ó caminhos desvairados! Ó vida rica de pobrezas, eu sempre serei assim, feliz um tanto e ardida noutro?
Nunca desejei esse reino, o rio, e a criança. Nunca desejei ser eu. Sonhei com voos silenciosos, insignificantes, que ninguém vê, que ninguém quer, que ninguém aspira. Sonhei apenas em ser ínfima!
Suzana Guimarães.
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Imagem: scg