(arquivo de Suzana Guimarães) |
Retorno sempre como se retorna à casa dos pais. Assim como retorna o faminto onde tem algum pão, mesmo que partido e esmigalhado. Volto. Volto com olhar de espera. Como se espera na fila do hospital, na hora da hóstia, no caminho estreito debaixo da cidade velha, na esperança de se encontrar luz. Cegos não veem, mas sabem para onde ir. Volto para olhar de novo. Volto como se retorna à cidade da infância, à escola mais querida, ao retrato velho.
Volto porque quero. Volto cego sem desejo de leitura, enlace sem união, corpo sem tempo. Volto. Volto sem desejo de prece, sem palavras, compromisso, diálogo, sem dolo, somente volto, assim como volta o pássaro para casa ao fim da tarde, sem pensamento, sem canto.
Suzana Guimarães