EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sexta-feira, 2 de novembro de 2018


Já não choro mais. Não tenho tempo. A última vez foi de saudades antecipadas, ao despedir da minha mãe, na porta da sua casa, antes de entrar no táxi que me levaria ao aeroporto. Se choro, quando choro, é por ela. Não tenho tempo? Já não choro mais por ninguém, além dela, nem por mim, por qualquer coisa, nem por nada. Já chorei por nada, só por sentir alguma coisa linda e inexplicável, uma emoção, um contentamento passageiro ou mesmo pelos descontentamentos. 

Não choro. Meu rosto pode se tornar um bloco de gelo, ou pedra, posso sentir ira ou dor, mas não choro. A última vez que chorei por mim foi há um ano, em outubro, chorei diante do inevitável de mais uma cirurgia. Chorei. Me fiz forte, porém. Acredito que se eu chorar agora serei mais forte ainda, mas nem isso eu quero. 

Eu não quero mais chorar. Eu não consigo. Chorar é uma emoção que dispensei. 

Não tenho tempo? Talvez não veja mais serventia, talvez isso. 


Novembro, 2