EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


quinta-feira, 21 de novembro de 2013


Uma dádiva, chove desde ontem. O que era rotineiro, e muitas vezes desconfortável e inoportuno, agora, para mim e meu filho, é milagre. Chuva fina e constante, nem de longe assemelha-se às tempestades tropicais, mas acalma. Então, por isso, por mim, o compromisso das 11h, vou pular, darei boa desculpa. Às 3h, tenho outro, inadiável, daí, neste tempo que tenho, estarei comigo. Abri as portas de vidro da varanda, coisa que raramente faço, e uma janela, para correr o ar. Cansou-me o barulho falso do ar-condicionado, fingindo frescor e chuva, da mesma forma que cansei de quem me esgota e finge. Eu preciso de delicadezas, e não de dedos apontados, lição de moral, falas altas e de pragas desferidas, hipocritamente vestidas com a cara do bem. As pessoas não sabem, mas, cedo, cedo, eu conheci o olhar do mal, naquela figura que sequer disfarçava de tão má... 

É como se eu estivesse doente. Eu estou doente; na alma. Tristeza e decepção fazem parte de nossas vidas, mas o ato repetitivo, a desgraça que parece se alongar durante as madrugadas, procriando-se em outras tantas, corrói o mais valente dos indivíduos. 

Hoje, vou olhar os anéis de família, recordar e sentir o bem que a chuva traz.

Novembro, 21