Eu era franzina, um fiapo de gente, brava, mas esmirrada. Na escola e na intimidade daquela família enorme que todos nós temos, lado paterno e materno, primos próximos, tias distantes, e outros não tão assim, nada ouvi sobre alguma beleza em mim, quando podiam, comentavam sobre o temperamento ruim, "igual ao pai". Aos treze anos, minha mãe percebeu um certo desajeito meu ao andar e decidiu-se e empenhou-se em dar-me algum verniz. Fiz dança, artes e ouvia elogios por parte dela, mas eu ainda não havia decidido sobre isso. Aos dezesseis anos, por minha conta, não me lembro o dia ou os dias, a época, decidi procurar em mim tudo o que era belo e dar ênfase a isso. Desde então, ninguém mais precisa dizer-me qualquer coisa que seja. Esse início de vida - talvez seja a causa, talvez, não - me fez gostar de poucos. Trato a todos muito bem, mas gosto de pouquíssima gente.
Estou aqui pensando, se quem se banha em águas de alegrias diárias me lê ou me vê, ultimamente, deve estar se coçando de necessidade de mais água e sabão, pois, eu não paro. Venho em lamúria e não é de hoje, mas "o ano não foi nenhuma pera doce", frase de uma amigo escritor.
Isolo-me mais a cada dia que passa, por gosto, e seleciono cada vez mais. Poucos, em solo americano, considero meus, meus em confiança...
E, neste ano que parece não acabar, mesmo com a minha mãe dizendo, "ele está no fim", e eu sabendo que não, e isso não é pessimismo, é sensitivismo, recebo a notícia de que um amigo que gostei no primeiro olhar, no primeiro contato, e que, por mim, sentiu o mesmo, e, nós dois bradamos orgulhosos "não falem mal perto de mim porque grande é a admiração", e ele que nem todo dia eu vejo, mas, que quando vejo, sei que posso confiar, ele teve um ataque cardíaco e está num centro de tratamento intensivo, isso, de ontem para hoje.
Hoje, mais cedo, enquanto eu dirigia na longa estrada que leva ao consultório do meu médico, peguei-me admirando a paisagem, que é belíssima, e pensando em 'daisies', margaridas brancas, inúmeras, um tanto enorme que enchia além da visão possível...
Tenho horror da turma do banho eterno de felicidade, aquela gente que diz que acorda e dorme feliz. Prefiro pensar em 'daisies', prefiro fazer um tapete delas, para esperar o meu amigo se levantar e nele passar, pois ele me deve um almoço, um café, um meio de tarde para desfrutarmos juntos.
Eu disse que gostava de diários?
Novembro, 26