EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sábado, 7 de setembro de 2019

Cansada, bem cansada...


Há exatamente um mês eu estava saindo do Brasil. Ó, Deus, por que às vezes você me deixa sozinha, olhando-me apenas de longe? Estou cansada, saiba, você sabe. Ontem, Deus, eu li no Facebook, "Cansei dos limões da vida. Que venham os brigadeiros."Terei que gritar bem alto, no meio da rua, às três horas da tarde? Não. Vou esperar. Vou esperar hoje, amanhã, infinitamente até você se resolver. Cansei. Tudo para mim só chega, quando chega, após um tratado firmado e registrado. Estou à espera de alguma coisa leve, dias mais deslizantes, pessoas mais fáceis, lúcidas, normais; recados rápidos, mal escritos, de qualquer jeito, mas da forma doce, assim como mereço e quero.

Sabe, Deus, eu nunca lhe escrevi, e isso está me soando agradável. 

Reafirmo aqui meu pensamento, na próxima, quero vir pedra. Daquelas pedras que nunca rolam. Inerte, desfiarei meus dias.

Um mês se passou e eu novamente vivi mil coisas em um dia. Sabia que isso cansa? Movimento repetitivo, vivo novamente quem eu já vivi, desejo novamente tudo o que já desejei, sabia que eu também queria nadar em outros oceanos? Sabia que cansei das brincadeirinhas de esconde-esconde, das adivinhações e de seguir pedacinhos de pão que me levariam a algum lugar muito especial?

Não quero ser a dona Sylvinha que sentava toda tarde na cadeira da varanda por horas a ver a vida, a ver o nada, não quero porque o inferno às vezes grita dentro de mim, embora o ensaio bem ensaiado, embora essa cara, sim, eu sei, não nasci com a estrutura dela, a mesmice e a coautoria lascam minha alma de pedra. Deus, quero ser protagonista, mas com você junto, não o quero de longe, assistindo à sua bonequinha especial rolar, rolar, rolar...

De novo, Deus? Me pega no colo, me leva para passear na mais escura e profunda de todas as florestas do mundo.

Carinhosamente,

Suzana